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A imagem do bravo cruzado vestido com um alvo manto decorado com uma cruz rubra e usando
longas barbas, castigando aos perversos e protegendo aos bons, é uma imagem que se tornou familiar a
muitos de nós desde a infância. A realidade era bem diferente. A cruz rubra nas vestes alvas não era
hábito de todos os cruzados, mas apenas de um grupo de monges guerreiros: os Cavaleiros Templários.
Sua misteriosa ascensão do nada, as suas subseqüentes e massivas riquezas e influência e a sua súbita e
total queda e destruição na sexta-feira 13 de outubro de 1307 os tornaram matéria de debates e de
especulações imaginativas daquele dia até hoje.
Por quase duzentos anos os Templários foram mais poderosos que muitos reis, com legendárias
habilidades de luta e fabulosos tesouros. Poderia haver realmente uma conexão entre essa desaparecida
Ordem medieval e os homens de classe média que murmuram palavras do ritual maçônico atrás de portas
fechadas em praticamente todas as cidades dignas desse nome no mundo Ocidental? Num primeiro olhar
parecem tão afastados um do outro que pareceria necessária uma enorme massa de evidências para
garantir essa relação direta, mas quando começamos a colocar uns e outros lado a lado, a disparidade
entre eles diminuiu com rapidez surpreendente.
Os muçulmanos dominavam Jerusalém desde o século VII, permitindo que judeus e cristãos
tivessem acesso à cidade que, por motivos diversos, era importante para essas três religiões. Quase no fim
do século XI os turcos seljúcidas tomaram o controle de Jerusalém e impediram as peregrinações dos
cristãos. Esse estado de coisas desagradou profundamente aos poderes da Cristandade, que mobilizaram
suas forças para recapturar a terra de Jesus. Apesar da pureza dos motivos aparentes que impulsionavam
aos assim chamados Cruzados, as batalhas pelo controle da Terra Santa eram conflitos combatidos sem
misericórdia.
Os brutais e egoístas invasores cristãos do norte acreditavam que os muçulmanos costumavam
engolir o ouro e as jóias que possuíam para escondê-los em tempos de crise, e conseqüentemente muitos
muçulmanos morreram em agonia com seus ventres abertos enquanto os dedos brancos dos infiéis
exploravam as suas entranhas procurando riquezas inexistentes. Os judeus de Jerusalém não foram
melhor tratados. Haviam alegremente vivido lado a lado com os muçulmanos por centenas de anos, e a 14
de junho de 1099 morreram a seu lado: a sede de sangue dos cruzados não tinha limites. Um cruzado, por
nome Raimundo des Aguillers, foi inspirado pela visão da cidade devastada e dos cadáveres mutilados de
seus habitantes, a citar o Salmo 118: "Este é o dia que o Senhor fez:. regozijemo-nos e sejamos felizes por
ele”.
Nos anos que se seguiram à captura de Jerusalém, cristãos de todas as partes da Europa começaram
a fazer a peregrinação à Cidade Santa, uma jornada tão longa e árdua que um corpo saudável e de
constituição muito forte era essencial para sobreviver a ela. O crescente número de peregrinos que viajava
dos portos de Acre, Tiro e Jafa para a cidade de Jerusalém gerava inúmeros problemas, e uma infraestrutura
precisou ser criada para prover suas necessidades. Uma parte importante desse sistema era a
Hospedaria Amalfi, em Jerusalém, estabelecida pelo Hospitaleiro dos Templários para prover alimentação
e hospedagem do constante fluxo de viajantes. A importância e riqueza da pequena e obscura ordem de
monges que a controlavam aumentou proporcionalmente ao sempre crescente número de viajantes, e os
novos comandantes cristãos da cidade premiaram seus esforços com presentes generosos. A Ordem se
desenvolveu rapidamente e seu Prior deve ter sido um indivíduo ambicioso e politicamente muito astuto,
pois deu o passo inesperado que foi criar-lhe um braço armado, ao permitir que Cavaleiros fizessem parte
dela, após o que mudou o seu título para "Hospital de São João em Jerusalém". A Ordem obteve a bênção
papal em 1118, quando finalmente foi agraciada com uma constituição, conhecida como Regra.
Essa era a organização que provavelmente influenciou Hugues de Payen, um nobre francês da
região de Champagne, porque no mesmo ano ele e outros oito Cavaleiros estabeleceram não-oficialmente
a Ordem dos Pobres Soldados de Cristo e do Templo de Salomão. De acordo com a tradição, o rei
Balduíno II, Patriarca de Jerusalém, sem hesitar deu seu apoio à nova Ordem, provendo-os de
hospedagem na ala leste de seu palácio, que era contíguo à Mesquita de Al-Aqsa, erguida no lugar do
Templo de Salomão. Desses Templários, como são agora chamados, diz-se que haviam surgido com o
propósito de dar proteção ao crescente fluxo de peregrinos, enquanto fizessem sua perigosa viagem entre
o porto de Jafa e Jerusalém.
Todos esses Cavaleiros originais eram leigos que faziam o juramento de viver como se fossem
monges, na pobreza, na castidade e na obediência. A princípio não usava nenhum traje especial, mas
diziam suas preces a intervalos regulares e em todos os aspectos se comportavam como se fossem
membros de uma ordem religiosa.
Em algum momento de 1118, esses nove Cavaleiros aparentemente partiram em viagem saindo da
França e se auto-indicaram guardiões das desertas estradas da Judéia no caminho para Jerusalém. Essa
afirmação fundamental nos chamou a atenção por sua estranheza. Por que teriam esses franceses
assumido uma tarefa que era extremamente otimista na melhor das hipóteses e uma tolice na pior?
Mesmo um pequeno bando de sarracenos insurretos os teria certamente dominado, não importa o quanto
estivessem treinados e armados. Surpreendentemente descobrimos que Fulcros de Chartres, capelão de
Balduíno II, não faz sequer uma menção a eles em suas extensas crônicas, que cobrem os primeiros nove
anos da existência não-oficial da Ordem. A mais antiga evidência dos Templários data de 1121, quando
um certo conde Foulques V d'Anjou se alojou com os Templários e daí em diante legou-lhes uma
anuidade de trinta libras de Angevin.
Pela evidência disponível parece claro que o grupo de nove Cavaleiros não se expandiu a não ser
longo tempo depois de seu estabelecimento. Foi apenas depois de passar não menos de nove anos em seus
alojamentos no lugar do Templo de Herodes que Hugues de Payen partiu para oeste na busca de recrutas
valorosos que ampliariam a Ordem para um tamanho mais de acordo com a consecução de sua missão
auto-proposta.
O Que Buscavam Os Templários?
Instintivamente sentimos que alguma coisa estava errada. Não existe nenhuma evidência de que
esses Templários fundadores alguma vez tivessem protegido peregrinos, mas por outro lado encontramos
provas de que eles conduziram extensas escavações debaixo das ruínas do Templo de Herodes. Logo
percebemos que vários outros autores tinham reservas quanto à versão aceita das metas dos Templários; e
quanto mais pesquisávamos, mais encontrávamos teorias sobre os verdadeiros motivos dos Templários.
Em uma delas, o historiador francês Gaetan Delaforge comentou:
A verdadeira tarefa dos nove Cavaleiros era realizar uma pesquisa na área, para recuperar certas
relíquias e manuscritos que contém a essência das tradições secretas do Judaísmo e do Antigo Egito,
algumas das quais provavelmente datam do tempo de Moisés.
Esse comentário foi utilizado pelo pesquisador e escritor Graham Hancock ao afirmar que esses
Cavaleiros não eram aquilo que pareciam ser. Concluiu então que o lugar do Templo era o seu verdadeiro
foco de interesse e que existe evidência de suas grandes escavações. Ele cita o relatório oficial de um
arqueólogo que estabelece que esses nove Cavaleiros estavam escavando as ruínas do Templo em busca
de alguma coisa desconhecida:
O túnel se aprofunda por uma distância de mais ou menos trinta metros a partir da parede do sul
antes de estar bloqueado por pedaços de pedra. Sabemos que ele continua mais além, mas havíamos nos
imposto a regra rígida de nunca escavar dentro dos limites do Monte do Templo, que está atualmente sob
jurisdição muçulmana, sem primeiro pedir permissão para isso às autoridades muçulmanas. Neste caso
elas apenas nos permitiram medir e fotografar a seção exposta do túnel, sem conduzir escavações de nenhuma
espécie. Após concluir esse trabalho, selamos a saída do túnel com pedras.
Encontramos ainda mais evidências de que os Templários teriam se envolvido em alguma forma de
escavações debaixo das ruínas do Templo de Herodes, nos escritos do tenente Charles Wilson, dos
Engenheiros Reais, que liderou uma expedição a Jerusalém na virada do século XIX. Ele recuperou muitos
itens antigos, em escavações debaixo do Templo, que podem positivamente ser identificados como
artefatos Templários. Quando nossas pesquisas para esse livro estavam quase completas, tivemos a sorte
de encontrar Robert Brydon, um arquivista morador na Escócia e estudioso do Templo, e que hoje em dia
é responsável pela guarda de muitos desses objetos.
Nosso motivo para buscar as origens dos Templários era tentar confirmar qualquer ligação direta
entre sua Ordem e a Maçonaria moderna. Ao absorver os fatos conhecidos, lendo as perspectivas oficiais
e não-oficiais sobre os Templários, concluímos que era claro que eles efetivamente estavam cavando sob
o Templo. As perguntas para as quais precisávamos de respostas eram as seguintes: o que eles estavam
procurando e, muito mais importante, o que efetivamente tinham encontrado?
Outros autores já aventaram a hipótese de que estivessem procurando pelos tesouros perdidos do
Templo, pelo Santo Graal ou mesmo tentando encontrar a verdadeira Arca da Aliança. Essas
especulações podem ser corretas, mas, é claro, estávamos mais interessados no que eles encontraram do
que naquilo que eles haviam inicialmente procurado.
Por nove anos, portanto, esses nove devotados caçadores de "tesouros" haviam escavado o terreno
do grande Templo dos judeus e durante esse tempo não haviam permitido nem buscado a presença de
mais nenhum cavaleiro na Ordem, vivendo exclusivamente da caridade de Balduíno.
As coisas devem ter corrido razoavelmente bem anos após anos, e no entanto eles abriam um túnel
em rocha sólida, chegando mais e mais perto da base do Santo dos Santos: foi então que alguma coisa
aconteceu que modificou totalmente seus planos originais. Nos ocorreu que isso era provavelmente menos
que uma coincidência, que a jornada de Hugues de Payen em direção ao oeste, pela primeira vez
buscando recrutas, aconteceu apenas meses depois da morte de seu benfeitor, Balduíno, em outubro de
1126. Teriam eles ficado sem fundos e alimento antes que sua tarefa oculta houvesse sido completada, ou
apenas aguardaram que Balduíno morresse para não ter que dividir com ele nem uma parte do tesouro?
A Regra da Ordem
Parece que a jornada de Payen havia sido causada por um verdadeiro temor quanto à continuidade
de seu grupo. Uma carta que ele escreveu enquanto viajava através da Europa indica claramente suas
preocupações com os irmãos Cavaleiros que haviam ficado em Jerusalém e que precisavam manter a
chama de sua convicção sempre acesa. Essa carta se refere à vocação original dos Cavaleiros estar sendo
enfraquecida pelo diabo, passando a citar passagens bíblicas para reassegurar seus sete Cavaleiros
restantes. Só havia sete deles no Monte do Templo, porque Payen era acompanhado nessa viagem por
André de Montbard, o tio do muito jovem e influente Abade de Clairvaux, que mais tarde se tornaria São
Bernardo. Devem ter sido essas ligações familiares que primeiro os levaram a Bernardo, que ficou
claramente impressionado com a história que ouviu de seu tio. As palavras usadas por Bernardo na
divulgação dessa campanha de assistência deixam poucas dúvidas sobre a opinião que tem desses Cavaleiros
de Jerusalém: "Eles não se atiram impulsivamente à batalha, mas com cuidado e prudência,
pacificamente, como verdadeiros filhos de Israel. Mas assim que a luta se inicia, eles avançam sem
demora sobre o inimigo... e não conhecem o medo... um deles já pôs em fuga mil inimigos: dois, dez mil
adversários... mais gentis que carneiros e mais terríveis que leões, deles é a suavidade do monge e o valor
do cavaleiro".
O futuro São Bernardo rapidamente levou a tenra Ordem à atenção do papa Honório II, rogando que
esse pequeno grupo de Cavaleiros de Jerusalém fosse dotado de uma "Regra", uma constituição própria
que estabelecesse os requisitos de conduta e prática que lhes dariam legitimidade e definiriam seu status
no seio da Igreja. Isso finalmente foi concedido, a 31 de janeiro de 1128 quando Hugues de Payen
apareceu perante o especialmente reunido Concílio de Troyes. Esse corpo impressionante era presidido
pelo Cardeal de Albano, o legado Papal e compreendia os Arcebispos de Reims e Sens, não menos que
dez bispos e um grande número de abades, entre eles o próprio Bernardo. A proposta foi apresentada e os
Templários ganharam o direito de vestir seus próprios mantos, que nesta época eram inteiramente
brancos, além de receber sua Regra.
Para o mundo inteiro, eles agora eram verdadeiramente tanto monges quanto Cavaleiros.
O que nos fascinou sobre a Regra dada aos Templários não era tanto o que ela dizia, mas sim o que
ela não dizia. Em nenhum lugar havia qualquer menção a peregrinos ou à sua proteção. Estranho, nós
pensamos, como a aparentemente única razão para a criação dessa Ordem pudesse ser totalmente
esquecida! Nesse ponto já estávamos convencidos de que alguma coisa muito misteriosa era o motivo da
fundação da Ordem do Templo.
Os nove Cavaleiros originais haviam relutado muito em receber novos recrutas, mas agora eram
forçados a isso pela necessidade de fundos, de trabalhadores adicionais e talvez até mesmo de clérigos
para modificar sua atitude. Sua nova Regra colocava os novos membros em experiência por um ano e
exigia deles um imediato voto de pobreza, fazendo com que o novo "irmão" entregasse todas as suas
riquezas pessoais à Ordem. De todos os candidatos se exigia que tivessem nascido de um casamento
legal, fossem de origem nobre, livres de qualquer outro voto ou promessa e todos de corpo saudável. Ao
ser admitido, cada irmão possuía apenas sua espada, e nada mais: não tinha nenhuma identidade separada
dessa espada, que ele dedicava ao serviço da Ordem. Quando morria, seu túmulo não levava nenhuma
inscrição, sendo marcado apenas por uma pedra retangular onde a forma de sua espada era gravada.
Imediatamente após o recebimento de sua Regra a condição real dos Templários evoluiu sem
cessar. Conseguiram o apoio de inúmeros e influentes proprietários de terras, e as doações começaram a
chegar de todos os cantos do mundo cristão. Bernardo havia convencido o Papa de seu valor e
subitamente eles se tornaram a causa da moda, com muita riqueza sendo atirada sobre eles. Quando
Hugues de Payen e André de Montbard retornaram a Jerusalém, quase dois anos depois de haver partido,
o resultado de seu sucesso era flagrante. Tinham viajado para o oeste sem nada, e estavam de volta com
uma Regra papal, dinheiro, objetos preciosos, riqueza territorial e não menos que trezentos nobres
recrutados para seguir liderança de Hugues de Payen como Grão-Mestre de uma Ordem Maior.
Hugues de Payen devia ter apresentando alguma coisa muito tangível, para gerar tal interesse e
suporte. Com nossa curiosidade cada vez mais aguçada, aprofundamos nosso olhar sobre o que ainda se
sabia desses monges guerreiros.
Os novos membros da Ordem faziam votos de pobreza, castidade e obediência, mas não havia
nenhuma menção se esta Regra se aplicava retroativamente ou não aos fundadores. Hugues de Payen
certamente permaneceu casado com Catarina St. Clair (uma escocesa descendente de normandos) e
ergueu o primeiro Preceptório Templário fora da Terra Santa nas propriedades familiares dela na Escócia,
um fato que mais tarde se mostraria de extrema relevância. Os neófitos eram obrigados a cortar os
cabelos, mas proibidos de cortar as barbas. Disso nasceu a imagem do Cruzado Templário com a longa
barba esvoaçante. Dietas alimentares, vestuários e todos os outros aspectos da sua vida diária eram
controlados pela Regra, particularmente o comportamento estritamente ordenado no campo de batalha. Os
Templários não tinham permissão para pedir clemência ou pagar seu próprio resgate, mas eram
compelidos a lutar até a morte. Não tinha permissão para bater em retirada a não ser que as chances
contra eles excedessem três para um, e enquanto a História mostra claramente que eles no final das contas
foram derrotados, também é claro nos arquivos tanto muçulmanos quanto cristãos que a Ordem era
respeitada e temida por sua capacidade de luta.
Nos espantamos ao descobrir que mais ou menos dez anos após a concessão da ''Regra Latina" os
Templários tenham começado a se levar em tanta consideração que unilateralmente desenvolveram a
''Regra Francesa", para substituir a antiga por uma que tivesse a linguagem de trabalho dos membros da
Ordem. O fato de eles terem autoconfiança suficiente para fazer isto ilustra o poder e a independência de
que os Templários gozavam. Essa nova Regra continha várias mudanças significativas, mas,
curiosamente, ainda não fazia nenhuma menção à proteção de peregrinos. Nela se abria mão de requerer
um ano de experiência e provas para os noviços, e colocava de ponta cabeça uma regra altamente
importante, invertendo instantaneamente a base legal da Ordem.
Na Regra Latina, uma instrução rezava: "... e principalmente onde quer que Cavaleiros nãoexcomungados
se reúnam, aí tu deves ir". No entanto, na traduzida e modificada Regra Francesa, a
mesma frase começava assim: "... te ordenamos que vás onde quer que Cavaleiros excomungados se
reúnam". Isso só pode significar que estavam fora das leis do Vaticano. Não existe possibilidade de que
isso tenha sido um simples erro de tradução, já que os clérigos estavam trabalhando com sua própria
língua, não sobre alguma escritura pouco familiar, e uma tal inversão de significado teria sido notada pelo
resto da Ordem mesmo se o escriba original tivesse apenas cometido um engano. Juntando isso ao que
agora sabemos sobre os Templários, tanto sobre sua arrogância quanto sua suspeita de desvio da Igreja de
Roma, é inteiramente compreensível que tenham ousado escrever tal frase, mas nada encontramos que
pudesse nos indicar quais teriam sido suas razões para isso.
A sorte dos Templários eventualmente se esgotou. O papa e Filipe, rei de França, atacaram a Ordem
errante, pondo-a de joelhos em um só dia terrível: sexta-feira, 13 de outubro de 1307. Desde esse dia o
número treze passou a ser considerado aziago e uma sexta-feira 13, em qualquer mês do ano, tornou-se
uma data sobre a qual as pessoas abertamente supersticiosas se mantêm dentro de casa agarradas a seu pé-
de-coelho.
O Selo da Ordem.
O primeiro selo da Ordem dos Templários mostrava dois Cavaleiros sobre um único cavalo e
usualmente se diz que isso era uma forma de simbolizar a pobreza em que os Cavaleiros juravam viver,
pela qual não poderiam dispor de um cavalo para cada cavaleiro. Isso os teria tornado uma força de
combate bastante ineficaz, se fosse verdade. A Regra Francesa, contudo, rezava que "o mestre deve ter
quatro cavalos, e um irmão-capelão, e um irmão-secretário com três cavalos, e um irmão-sargento com
três cavalos, e um valete para carregar sua lança e escudo, com um cavalo..." Claramente não havia
carência de montarias disponíveis.
Ocorreu-nos que esse selo poderia representar os dois graus de cavaleiro dentro de uma mesma
Ordem: os que eram mais avançados e que tinham permissão para participar do segredo Templário, e
aqueles no "banco de trás", que não tinham essa permissão. Essa interpretação do selo é, sem dúvida, pura
especulação, mas parece certo que entre eles havia um segredo e que entre os Templários, uma vez
vencido o período de provas de doze meses, teria sido necessário algum método para que se protegessem
de arrivistas não-testados e provavelmente indignos de confiança.
A Organização da Ordem.
A Ordem não era constituída apenas por Cavaleiros. Havia duas classes inferiores além dos irmãos
principais. Os primeiros eram conhecidos como sargentos e eram recrutados no que hoje chamaríamos de
classe trabalhadora, em vez de no meio da nobreza que era a fonte de onde saíam os Cavaleiros.
Assumiam as posições de valetes, serviçais, sentinelas e soldados rasos nas tropas de apoio. Como seus
superiores, eles também usavam uma cruz vermelha, mas seu manto era marrom escuro em vez de
branco, significando sua falta de pureza em comparação aos Cavaleiros da Ordem. O outro grupo
compreendia os clérigos que cuidavam das necessidades espirituais dos Cavaleiros. Eram os únicos
membros letrados da Ordem e eram todos sacerdotes, cuidando dos arquivos e das comunicações, de vez
em quando fazendo uso de códigos muito complexos. O francês era a língua usada para falar e
administrar os Templários, mas esses padres versáteis podiam dizer a missa em latim, pechinchar com
mercadores locais em árabe e eram capazes de ler tanto o Antigo Testamento em hebraico quanto o Novo
Testamento em grego. Serviam às necessidades espirituais dos homens de armas e eram identificados pelo
uso da Cruz Templária sobre um manto verde. Esses clérigos consagravam o pão e o vinho na Eucaristia
exatamente como um padre de hoje em dia, mas levavam essa função tão a sério que usavam luvas
brancas todo o tempo, exceto quando manipulando a hóstia durante o serviço da missa. Já que o pão é
considerado como sendo o corpo de Cristo, era importante não conspurcá-lo com a sujeira das atividades
do dia-a-dia profano, e essas luvas brancas eram usadas para manter suas mãos suficientemente limpas
para poder tocar o corpo de Cristo. Esse uso das luvas brancas possui um paralelo evidente com os
modernos Maçons, que sempre usam luvas brancas em suas sessões de Loja, sem que haja nenhuma razão
para essa prática. Poderia esta ser, cogitamos, uma conexão Templária?
Outro eco distante nas práticas maçônicas atuais é o uso da pele de carneiro como única forma de
adorno possível, além da exigência que a Regra fazia quanto ao uso de calções justos feitos de pele de
carneiro, usados abaixo das roupas diárias todo o tempo, como símbolo de inocência e castidade. Esse
pensamento é alarmante em nossa era de higiene pessoal, mas esses Cavaleiros conscienciosos não
removiam seus calções de pele nem mesmo para lavar-se. Após alguns dias, quanto mais as muitas
décadas que muitos passaram sob o sol do deserto, sua castidade estaria totalmente garantida! Apesar dos
Maçons de hoje não usarem esses calções, usam aventais de pele de carneiro em seus encontros em Loja,
significando o escudo da inocência e o emblema da amizade.
Mais uma similaridade nos chamou a atenção como sendo uma outra possível conexão Templária.
Descobrimos que o Béausant, o estandarte de batalha Templário, consistia de duas faixas verticais, uma
negra e uma branca - a negra simbolizando o mundo do pecado que o cavaleiro havia deixado para trás ao
entrar para a Ordem, e a branca simbolizando seu movimento das trevas para a luz. Os Templos
maçônicos de hoje em dia sempre têm no centro do assoalho uma parte formada por quadrados brancos e
negros, e em todas as sessões de Loja os Maçons usam camisa branca com gravata e terno pretos: se não
estiver assim vestido, sua entrada não é permitida. Ninguém jamais explicou porque existe a exigência de
usar pele de carneiro e traje preto e branco para que se considere um Maçom corretamente vestido. A
única explicação oferecida é a de que "nossos Irmãos sempre se vestiram assim".
Apesar de haver esse grande número de paralelos, nós não buscamos dar grande importância a essas
similaridades, pois pretendíamos estarmos seguros de que não estávamos vendo aquilo que queríamos
ver. Essas poderosas coincidências eram apenas evidências circunstanciais, mas ampliaram nosso
entusiasmo em explorar mais de perto a conexão entre as duas Ordens. Agora queimava em nós uma
importante pergunta:
O que teriam encontrado os Cavaleiros Templários que influenciou de tal maneira o seu
desenvolvimento?
Conclusão
Agora já sabíamos que os Templários haviam escavado sem descanso as ruínas do Templo de
Herodes e que a queda da Ordem tinha ocorrido por acusações de heresia. Se os Templários tivessem tido
crenças heréticas e participado de estranhos rituais, havia uma possibilidade real de que essas práticas
tivessem se originado em um documento ou uma série de documentos encontrados por eles. Tivessem
esses Cavaleiros do século XII descoberto quaisquer textos antigos, teriam estado em uma posição
privilegiada para interpretá-los e apreciá-los. Ao mesmo tempo em que se crê que os Cavaleiros
Templários eram analfabetos, sabe-se que seus clérigos eram todos capazes de ler e escrever em muitas
línguas, e eram famosos por suas habilidades em criar e decifrar códigos. Seguimos esta rota como nossa
melhor possibilidade, sem saber que a evidência de uma descoberta templária estava literalmente debaixo
de nossos narizes, oculta no ritual de um grau maçônico ao qual nenhum de nós havia sido promovido
ainda.
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