terça-feira, 21 de março de 2017

CAPÍTULO CINCO - Jesus Cristo: Homem, Deus, Mito ou Maçom? Mais um Nascimento de uma Virgem






Se a versão da Igreja para os eventos que cercam o homem a quem chamamos Jesus Cristo não fossem acuradas, seria de esperar que houvesse uma enorme quantidade de escritos contemporâneos conflitantes com a história "oficial". Rapidamente percebemos ser exatamente este o caso, e que tanto os manuscritos de Nag Hammadi quanto os do Mar Morto impunham uma luz diferente sobre a interpretação dada ao Novo Testamento. A dificuldade principal da Igreja está no fato de que o mito central da cristandade precede em muito a Jesus Cristo. O roteiro da história de Cristo é tão antigo quanto o próprio homem, desde o nascimento de mãe virgem em circunstâncias humildes até a morte sacrificial que salva seu povo - tudo já tinha sido escrito, época após época, sobre as principais figuras religiosas de diversas culturas. Não é sequer o caso de similaridades: estamos falando de uma reciprocidade total. Tão semelhante era a história de Mithra (ou Mithras), um outro culto extremamente popular no Império Romano, que os Pais da Igreja identificaram como o trabalho do Diabo tentando deliberadamente parodiar a história de Cristo. O fato do Culto a Mithra já existir muito antes do nascimento do Messias cristão não abalou esses indivíduos plenos de expedientes: eles simplesmente declararam que o Diabo era uma raposa velha e astuta, e que havia viajado para o passado só para plantar um homem que traria descrédito à "óbvia" originalidade da história de Cristo. Eis, portanto, algumas das figuras da Antigüidade que eram consideradas deuses, todas elas anteriores a Cristo: Gautama Buda: nascido da virgem Maya por volta de 600 a.C. Dionysus: Deus grego, nascido de uma virgem em um estábulo, transformava a água em vinho. Quirinus: Um antigo salvador romano, nascido de uma virgem. Attis: nascido da virgem Nama na Frigia por volta de 300 a.C. Indra: Nascido de uma virgem no Tibet por volta de 700 a.C. Adônis: Deus babilônio - nascido da virgem Ishtar. Krishna: Deidade hindu, nascido da virgem Devaki por volta de 1200 a.C. Zoroastro: Nascido de uma virgem entre 1500-1200 a.C. Mithra: Nascido de uma virgem em um estábulo no dia 25 de dezembro por volta do ano 600 a.c. Sua ressurreição era celebrada na Páscoa. Parece que em praticamente todos os séculos havia muitas virgenzinhas inocentes dando à luz os filhos dos deuses! O culto de Mithra é particularmente difícil de engolir pelos cristãos que não aceitam a teoria do viajante satânico do tempo. O Mithraísmo é um rebento do anterior culto persa de Zoroastro, que foi introduzido no Império Romano em 67 a.C. Sua doutrina incluía o batismo, uma refeição sacramental, a crença na imortalidade, um deus salvador que morreu e retomou para agir como mediador entre Deus e os homens, uma ressurreição, um juízo final, e a existência do céu e do inferno. Sua cerimônias, curiosamente, incluem o uso de velas, incensos e sinos. Seus devotos reconheciam a divindade do Imperador e eram muito tranqüilos quanto à coexistência com outros cultos, mas acabaram por ser absorvidos pelos infinitamente pouco-tolerantes cristãos. Como mostraremos mais tarde, a verdadeira seita de Jesus, a Igreja de Jerusalém, havia escapulido da maioria dessas armadilhas pagãs: elas foram adições muito posteriores da Igreja de Roma, para criar uma teologia híbrida que satisfaria as necessidades do maior número possível de cidadãos. Se os plebeus faziam questão de suas superstições, pensaram os romanos, por que não ter uma que fosse controlada pelo Estado? Não fosse por uma pequena reviravolta da sorte nos últimos anos do Império Romano, as famílias de hoje estariam indo para o culto de domingo com plásticos de ''Mithra Te Ama" nos vidros de trás de seus carros. Outro problema essencial é o nome de Cristo. Muitas pessoas estão conscientes de que o nome ''Jesus Cristo" é um título grego muito posterior, mas nem mesmo eles se preocupam em questionar qual teria sido o verdadeiro nome desse deus-homem. Não se conhece verdadeiramente o nome sob o qual ele nasceu, mas é possível que ele tivesse usado durante a sua vida o nome Yeoshua, que significa "dado por Yahweh", com o sentido moderno de alguma coisa como "aquele que trará a vitória". Nos dias de hoje seria traduzido e reconhecido como Joshua (Josué), o mesmo nome dado ao homem do Antigo Testamento que trouxe a vitória a seu povo na batalha de Jericó, quando os muros dessa cidade supostamente vieram abaixo graças a toques de trombeta. O nome Jesus é simplesmente uma interpretação grega do nome hebreu Yeoshua, mas a adição do título "Cristo" é um tanto mais preocupante, por ser uma tradução grega do título judeu de Messias, significando "aquele que trará a salvação pela redenção do pecado", apesar da palavra hebraico-aramaica significar simplesmente a pessoa que, por direito, se tornará o rei dos judeus. A tradição judaica diz que os reis de Israel também eram sempre associados com os messias. Para eles a palavra significava "o que será rei" ou "o que espera ser rei". Esses significados eram diretos e práticos: podemos estar certos de que o conceito judeu de "messias" e de seu reino vindouro nada tem de sobrenatural. Espantosamente a palavra "messias" aparece apenas duas vezes na versão oficial do Antigo Testamento, e está totalmente ausente do Novo. Não obstante, no tempo de Jesus já havia se tornado um conceito muito popular entre os judeus, que ansiavam por um tempo em que pudessem governar a si próprios novamente, em vez de ficar sob o controle dos que ocupavam seu território ("kittim", como eram chamados), tais como os sírios, os babilônios e, particularmente para eles, os romanos. Para os nacionalistas judeus dos primeiros séculos a.C. e d.C., logo que um homem justo ocupasse por direito o trono de Israel ele se tornaria o rei de Israel, e o titulo de messias, projetado para o futuro, não teria mais razão de ser usado. O fato do termo "messias" não ser usado nem uma vez no Novo Testamento só pode ser explicado se os tradutores tivessem usado a palavra grega "christós' onde quer que a palavra hebraica "messias" tivesse aparecido. Com o tempo, a designação "Cristo" tornou-se sinônimo de Jesus mais que de qualquer outro messias, apesar do termo não ser nem exclusivo nem restritivamente aplicável a um indivíduo específico. Para os posteriores usurpadores gentios das crenças tribais judaicas, o uso hebreu da palavra "messias" era muito passivo, estrangeiro e baseado no mundo real das aspirações políticas dos judeus: conseqüentemente, na tradução para o grego, a palavra ganhou os contornos de um Culto Helenístico dos Mistérios, com o poder sobrenatural de salvar as almas e redimir o mundo inteiro. Norman Cohen descreve sucintamente a situação quando fala do Messias judeu: Ele será, na melhor das hipóteses, um grande comandante militar e um líder justo e sábio, guiado por Yahweh e por Ele apontado para reinar sobre seu povo em Judá. A noção de um salvador transcendental em forma humana, tão importante para o Zoroastrismo e tão central para o Cristianismo, é totalmente desconhecida na Bíblia Hebraica. O clamor cristão por reconhecimento da autoridade de suas crenças particulares sobre o Antigo Testamento deve ser muito estranho para os estudiosos judeus modernos, ao verem que sua herança tem sido usada para emprestar credibilidade a um Culto Romano dos Mistérios, grandemente persa em sua origem. Essa pilhagem dos vinte e dois textos judeus que constituem a essência do Antigo Testamento se espalhou logo após o início do século II d.C., quando os cristãos buscaram referências que apoiassem as crenças de seu culto ainda imaturo. Membros da Igreja primeva se consideravam judeus, e até o final do século I d.C. todos viam o cristianismo como uma seita judaica. No início do segundo século, no entanto, a grande maioria dos cristãos era formada por gentios convertidos de todas as partes do Império Romano, que já não se consideravam mais judeus sob nenhum aspecto. Esses aproveitadores culturais tinham pouco ou nenhum respeito pelo contexto ou pelas interpretações aceitáveis dos textos, e se sentiam livres para citar à vontade textos judeus que não eram reconhecidos como escrituras por seus proprietários. O Livro do Antigo Testamento foi traduzido do grego no século III a.C., e ficou conhecido como Septuaginta (usualmente indicado como LXX). Os cristãos inseriram novas passagens e até livros inteiros e depois tiveram a audácia de acusar os judeus de terem apagado essas passagens de suas próprias escrituras! Essa crença se tornou fortemente enraizada no pensamento cristão e resultou em muitos atos futuros de vandalismo, como por exemplo, uma ocasião em Paris, 1242, quando vinte e quatro carroças cheias de escrituras judaicas foram arrebanhadas em várias sinagogas antes de serem queimadas, e também vinte anos mais tarde quando o rei Jaime I de Aragão ordenou a destruição de todos os livros judeus. Alguns dos primeiros estudiosos cristãos acreditavam que o Antigo Testamento não pertencia à sua nova religião, mas a maioria lia imaginativamente as entrelinhas para ali encontrar "óbvias" referências à figura de seu Salvador. Os vinte e dois livros originais do Antigo Testamento foram sendo rigorosamente ampliados para criar um gigantesco velho Testamento cristão. Essas adições de antigos escribas cristãos incluíram Esdras, Judite, Tobias, Macabeus, Sabedoria, Eclesiastes, Baruc, a Oração de Manassés e, dentro do Livro de Daniel, o Cântico dos Três Santos Jovens (Os T rês Jovens Santos - Sidrac, Misac e Abdênago - eram três jovens judeus educados na corte da Babilônia e responsável pela administração da província da Babilônia, condenados à fogueira por Nabucodonosor e milagrosamente salvos das chamas, episódio narrado em Daniel cap. 3), a História de Susana e Bel e o Dragão. Por algum tempo os cristãos ficaram satisfeitos com seu "novo" Antigo Testamento, mas assim que estudiosos mais sérios, como Alexandre Orígenes no século III d.C., se puseram a estudá-los novamente do princípio, surgiram várias dúvidas palpáveis, que os fizeram compreender ser a versão original judaica a única correta. Foi feita a sugestão de que todas as Escrituras existentes nas igrejas cristãs fossem destruídas, mas esses argumentos foram todos enterrados pelo forte desejo cristão de ter uma religião ímpar, com escrituras próprias e exclusivas verdadeiramente diferenciadas. No entanto, enquanto a Igreja principal tomava o caminho mais fácil, o debate continuava, e muitos pensadores cristãos não estavam convencidos. No século IV; Cirilo de Jerusalém proibiu a leitura desses livros extemporâneos, mesmo privativamente, e mesmo até o século XVIII vários pensadores cristãos, como João Damasceno, insistiam em que os vinte e dois livros originais eram os únicos componentes das verdadeiras Escrituras. O mesmo povo arrogante que havia reescrito o Antigo Testamento montou O Novo Testamento. Para ter uma visão esclarecida dos eventos que levaram à criação desse relativamente instantâneo bloco de escrituras estalando de novas, é essencial que compreendamos um pouco da visão judaica do mundo nesse ponto crucial da História. Hoje em dia, praticamente todas as pessoas do Ocidente compreendem a existência de uma separação real entre política e religião, mas é um erro pensar que outros países ou outros períodos da História vêem ou viam as coisas da mesma maneira. O Irã de hoje, por exemplo, não percebe nenhuma diferença entre os dois assuntos, e o povo da Judéia e da Galiléia, há dois mil anos, nos considerariam como loucos se tentássemos convencê-los de que a relação com seu Deus era diferente de sua luta pela nacionalidade. A política no tempo de Jesus Cristo era um assunto teológico da maior seriedade: a estabilidade da nação se apoiava na visão que Deus tinha seu valor. Se provassem esse valor, os judeus teriam seu próprio rei e derrotariam todos os seus inimigos em batalha. Por centenas de anos eles haviam sido um povo sem nenhum valor, e por isso Deus os havia abandonado aos desígnios de seus inimigos, mas logo que os judeus devotos se puseram a viver uma vida mais austera, começaram a esperar a chegada de um Messias que iniciaria o processo de reconduzi-los à autodeterminação. . Há aqui um ponto fundamental que não pode ser ignorado: em nenhum lugar do Antigo Testamento existe a profecia da chegada de um salvador mundial. Os judeus esperavam, isso sim, por um líder que emergisse para ser um rei temporal aos moldes de David, e não importa quanto os cristãos o desejassem, Cristo não era o Messias da linha davídica ( o Cristo) porque ele não conseguiu tornar-se o indiscutível rei de Israel. Para o povo judeu da época, inclusive o próprio Jesus, não havia outro significado para a palavra: não se trata de uma questão de fé, mas sim de um fato histórico acima e além de qualquer debate teológico. A Igreja atualmente está perfeitamente consciente desse mal-entendido e pode alegar que sua visão "espiritual" do mundo é verdadeira e válida, apesar do fato de que os judeus usavam a palavra com significado bem diverso. De qualquer forma, uma vez que a Igreja aceite que os usos cristão e judeu da palavra "messias" nada têm em comum, daí se segue que os cristãos não têm nenhum direito de usar o Antigo Testamento como fonte de evidência da vinda de seu Cristo. Fazer isso é uma clara fraude. Insistimos no ponto que os judeus não estavam esperando nem um deus nem um salvador mundial: estavam simplesmente ansiando por um líder político com credenciais que o ligassem a seu primeiro rei – David (Se já houve algum messias verdadeiramente judeu, este somente pode ter sido David ben Gurion, o ativista sionista que tornou-se o primeiro 'rei' a governar o estado judeu em 1948. Seu título moderno era o de 'primeiro-ministro' ao invés de 'rei', mas o efeito foi o mesmo. Se ele poderia ou não se declarar como um descendente da linhagem de David, nós não sabemos). Um problema maior ainda para o cristianismo principal é a crença de que Jesus foi fruto de um cruzamento mágico entre Yahweh e Maria. Como já vimos, as uniões deus-mulher eram uma antiga necessidade da genealogia de todos os pretensos homens-deuses das culturas do Oriente Médio. A justificativa dessa pretensão entre os cristãos nasce do título que Jesus dava a si próprio - "Filho de Deus" - que era simplesmente um título tradicional para qualquer um que estivesse pleiteando o lugar de rei. Todos os reis, desde o tempo dos Faraós, estabeleciam seu direito de governar através de sua descendência direta dos deuses. Enquanto pesquisávamos toda essa complexa área do que se esperava de um messias, chegamos a um estranho e interessante ponto que, até onde chegava nosso conhecimento, ninguém antes havia levado em consideração. Tem a ver com o nome do assassino que foi libertado no lugar de Cristo durante o seu julgamento. Esse nome, como todos sabemos, era Barabbas (Barrabás). Mais um nome bíblico, acreditamos todos, e que parece ter uma aura de maldade à sua volta: "Barrabás, o malvado assassino que os também malvados judeus escolheram libertar em lugar de nosso Salvador!" Os urros da multidão que pedia a crucificação do Cristo em vez da de um criminoso comum é uma das evidências que o Novo Testamento exibe para confirmar a alegada natureza perversa dos judeus, e que levou a dois mil anos de anti-semitismo. Na verdade, basta um conhecimento rudimentar da linguagem daquele tempo para perceber que "Barabbas" não é um nome, mas sim um título, que significa precisamente "Filho de Deus", já que "bar" quer dizer "filho de" e ''Abba'' quer dizer "pai", mas seu uso era, e ainda é, uma referência ao Pai, ou seja, Deus. Isso nos intrigou, mas o que nos deixou pasmos foi a descoberta de que, nos manuscritos antigos de Mateus, 27:16, esse homem é designado por seu nome completo: 'Jesus Barabbas'. Portanto, o indivíduo que foi libertado e não crucificado a pedido da multidão era, como o indiscutível registro do evangelho mostra, conhecido como ''Jesus, o Filho de Deus". A primeira parte desse nome foi apagada do Evangelho de Mateus em uma data muito posterior, por aqueles que procuravam estabelecer fatos que confirmassem suas crenças gentílicas. Tal seletividade configura aquilo que eufemisticamente se chama "ser econômico com a verdade", mas é pouco mais que um truque para evitar perguntas difíceis que a Igreja não queria, ou melhor, não podia responder. Estávamos certamente ficando quentes. Os Evangelhos afirmam que esse outro ''Jesus, Filho de Deus", foi acusado de ser um rebelde judeu que havia matado algumas pessoas durante uma pequena insurreição. Portanto, Barrabás não era um criminoso comum, mas sim um fanático judeu que enfrentava uma acusação semelhante à que estava sendo imposta a Jesus. Quando a totalidade desses fatos é levada em conta, as circunstâncias que cercam o julgamento de Jesus se tornam muito mais complicadas. Dois homens com o mesmo nome e o mesmo título e mais ou menos o mesmo crime: como podemos ter certeza de qual dos dois foi libertado? Certamente muitas das antigas seitas cristãs acreditam que Jesus não morreu na cruz, pois um outro morreu em seu lugar. Os muçulmanos nos dias de hoje têm Jesus em alta conta como um profeta que foi condenado à morte, mas cujo lugar foi tomado por outro. O simbolismo do Cristo Crucificado é absolutamente central para a crença oficial da Cristandade, e ainda assim muitos grupos, tanto contemporâneos do evento quanto modernos, afirmam que ele não morreu desta maneira. Poderiam estar certos? A evidência que havíamos encontrado não vinha de nenhum evangelho gnóstico sem representatividade, mas sim do próprio Novo Testamento. Portanto, nossos inevitáveis críticos cristãos teriam muito trabalho para escondê-la debaixo do tapete. Não temos dúvida de que alguns não tomaram conhecimento dela, fingindo não tê-la lido, ou alegando que é algum tipo de engano que pode ser racionalizado simplesmente com o expediente de ser distorcido. Estando livres dos dogmas da fé cega, podíamos aceitar que a lenda de Jesus, o Cristo, era uma amálgama de detalhes sobrenaturais recolhidos de outras religiões e cultos de mistérios. Já que havíamos apreendido esses fatos começamos a cogitar se até mesmo os detalhes mais gerais da história da vida de Jesus não seriam um combinado das histórias de dois homens - mais ou menos da mesma maneira, acredita-se hoje, que a história de Robin Hood foi urdida a partir de várias narrativas sobre uma série de nobres saxões que operavam fora das leis estabelecidas pelos dominadores normandos. . Teriam as autoridades, ameaçadas pelo crescente nacionalismo da Judéia, caído sobre todos os encrenqueiros de uma vez só? Os judeus eram um espinho pequeno, mas permanente espinho na pata do Imperador Romano, e a expectativa geral da chegada de um novo messias que expulsaria os romanos estava excitando a população local além da conta. Os Sicários, Zelotes fanáticos e armados, andavam assassinando judeus que se mostravam amigos de Roma, e o povo em geral estava muito confiante na possibilidade de alcançar independência. Teria sido muito normal para as autoridades romanas resolver o problema antes que este lhes escapasse ao controle. Só podíamos especular sobre o que teria ocorrido para criar essa estranha situação que o Novo Testamento registrava. O primeiro roteiro possível é o de que existirem dois messias competindo um com o outro, surgidos de dois grupos diferentes na Judéia, sendo extensa a documentação sobre muitos que reivindicavam o título de messias durante os séculos I e II. E se esses dois messias estivessem no auge de sua popularidade ao mesmo tempo? Teriam ambos sido chamados de Jesus por seus seguidores, porque o nome é a descrição que se faz do salvador do povo judeu - seu provedor de justiça e prosperidade futuras? No momento dessas prisões preventivas, uma dessas figuras pode ter sido conhecida como "Jesus, Rei dos Judeus", e a outra como ''Jesus, Filho de Deus". Enquanto esses criminosos eram expostos ao público, Pôncio Pilatos percebeu que a situação podia se tornar explosiva, e temendo um banho de sangue do qual podia tornar-se vítima, ofereceu-se para libertar um desses prisioneiros. A multidão é que teria que escolher entre seu messias real ou seu messias sacerdotal e a multidão escolheu esse último. Chamamos essa teoria sobre o Messias de Teoria do Gato de Schrödinger (a partir do famoso experimento lógico que mostra que dois resultados mutuamente exclusivos podem coexistir no estranho mundo da mecânica quântica) porque é impossível dizer se o verdadeiro Jesus da fé cristã foi crucificado ou libertado. As histórias desses dois homens estão atualmente tão imbricadas uma na outra que tanto as seitas cristãs que alegam que ele nunca foi crucificado quanto a crença oficial da Igreja de Roma de que ele morreu na cruz estão corretas. Um outro roteiro possível é baseado no conhecimento de que havia uma exigência tradicional para que houvesse dois messias, que trabalhariam juntos e articulados para a vitória de Yahweh e de Seu povo escolhido. Um messias real da tribo de Judá, a linha real davídica, seria unido a um messias sacerdotal da tribo de Levi. Isso era o que se esperava, porque todos os sacerdotes tinham que ser levitas, ou seja, membros da tribo de Levi. Essa teoria implica em que, no momento do julgamento, ambos os messias foram presos e acusados de fomentar a insurreição civil. O Jesus da linha real de Judá foi preso e morreu na cruz, enquanto que o Jesus da linha sacerdotal de Levi foi libertado. Quem era quem? O Jesus que nasceu de Maria se declarava messias por vir da linha real de David, havendo supostamente nascido na cidade de David, Belém. No entanto, como se pode ler nos versículo iniciais do Novo Testamento, essa descendência, uma longa linha de "fulano gerou sicrano", se baseia na genealogia do marido de Maria, José, que não era, de acordo com a crença cristã, o pai de Jesus. Uma cruel torção da fria lógica - se ele era o Filho de Deus, não poderia ser o messias real! O Jesus nascido de Maria não podia, tecnicamente, ser o messias real, mas podia sem dúvida ser o messias sacerdotal: sua mãe era parente de João, o Batista, que era um levita: então Jesus deveria ter sangue levita. Se esse Jesus tivesse seguido essa linha de raciocínio, estaria claro que não foi ele quem morreu na cruz. Nessa situação de ''Jesus duplo" havíamos encontrado uma falha óbvia na história cristã do messias, mas além de discutir esses dois roteiros como soluções possíveis, não nos foi possível avançar mais. Foi apenas quando deciframos um complicado enigma maçônico que a solução real nos foi revelada: e isso é o que mostraremos em outra parte deste livro. Os Principais Grupos de Jerusalém. Os três grupos principais entre a população da Judéia no século I eram os saduceus, os fariseus e os essênios. Os dois primeiros são definidos, em notas ao pé de página da Bíblia Douai, da seguinte maneira: Fariseus e Saduceus: essas eram duas seitas entre os judeus, das quais a última era composta em sua maior parte de notórios hipócritas, e a primeira por um tipo de livres-pensadores em assuntos religiosos. Para uma informação tão pequena o grau de imprecisão é admirável. Os saduceus eram, por direito estabelecido, a burocracia sacerdotal e aristocrática de Jerusalém. Eram muito conservadores em suas idéias religiosas, não crendo em nenhuma espécie de existência após-túmulo e sem dúvida consideravam as complexas idéias e ações dos fariseus como sendo obra de tolos supersticiosos. Sob muitos aspectos eles controlavam o país, mais de acordo com as exigências dos romanos que com as dos judeus: eles eram o que hoje em dia chamamos de Quinta-Coluna. Apoiavam a liberdade do indivíduo para moldar seu próprio destino e, divergindo dos fariseus, acreditavam que a História seguia seu próprio curso em vez de ser parte de algum plano divino. Eram ricos e de alto nível social, mas rudes, ásperos e extremamente rígidos com qualquer um que infringisse a lei ou interferisse com sua administração, Não eram homens nem de idéias nem de ideais, mas mantinham o país funcionando, enquanto perseguiam o status-quo que lhes trouxesse mais vantagens. Falando sinceramente, não eram muito diferentes da classe dominante de nenhum país antes e depois deles, mas considerá-los "livres-pensadores em assuntos religiosos" é o mais longe da verdade que se pode chegar. Os fariseus, por outro lado, não eram estritamente sacerdotes, mas eram devotados à Lei e tentavam constantemente aplicá-la a todas as instâncias da vida. Para apoiá-los nessa busca do cumprimento da Lei haviam desenvolvido uma tradição de interpretação pela qual todas as ações eram minuciosamente regulamentadas. Estabeleceram os altos padrões que se tornaram os marcos do Judaísmo ortodoxo moderno, e tanto quem partilha de suas crenças como quem não partilha delas os considera como tendo o pensamento impressionantemente limitado. Tradicionalmente, todo o culto a Yahweh havia sido restrito a ocorrer em Sua Divina Presença no Templo de Jerusalém sob o controle do Sumo Sacerdote, mas os fariseus criaram a oportunidade para a eventual evolução dos conceitos de rabino e sinagoga, como uma base para que judeus em todas as partes do mundo pudessem ter acesso a Deus. Atualmente os temores e esperanças dos fariseus sobrevivem sob a forma do Judaísmo ortodoxo. Em todo o mundo os judeus ortodoxos não executam nenhum trabalho no Shabbath, não dirigem automóveis, não usam transportes públicos, não empurram carrinhos de bebê, não cosem nem cerzem, não assistem à televisão, não cozinham nem espremem esponjas, nem mesmo apertam uma campainha ou usam um elevador. Recentemente o gerente judeu de um hotel kosher no balneário de Bornemouth foi despedido por ter ligado o interruptor que acionou o sistema de aquecimento central em uma manhã de sábado. O fato de que seus hóspedes corriam o risco de morrer de hipotermia não foi desculpa suficiente para esse terrível abuso da Lei, que nasce do fato da Torah, o Livro da Lei judaica, proibir o "acendimento de fogos" no Shabbath. Os essênios permaneceram sendo um grupo menos compreendido até 1947, quando os Manuscritos do Mar Morto foram descobertos em Qumran, trinta e dois quilômetros a leste de Jerusalém. Esses Manuscritos informam muito sobre esses homens estranhos que viveram nesse vale seco de pedra desde a metade do século II a.C. até o ano 68 d.C. Há evidências de que suas cavernas foram subseqüentemente ocupadas por um número menor de pessoas até o ano 136 d.C. (que é o ano do levante final dos judeus liderados por um outro Jesus), mas não é certo se esses moradores eram ou não essênios. A medida das estritas e amplas criações da mente essênia fazem os fariseus parecerem hedonistas despreocupados. Apesar de hoje em dia já se aceitar que os essênios e a Igreja primeva tinham muitas características em comum, a Igreja de Roma sempre negou qualquer ligação entre os dois grupos. Um dos detalhes mais óbvios é a expectativa de ambos por um apocalipse vindouro. Os dois grupos esperavam que o mundo acabasse abruptamente e muito breve. O fator que mais diferencia os essênios dos saduceus e fariseus é que para tornar-se um essênio teria que haver escolha individual e adulta, não um simples detalhe de nascimento. Os essênios de Qumran se consideravam os únicos possuidores do verdadeiro ensino religioso de Israel, e acreditavam que através de seu fundador sacerdotal, conhecido nos Manuscritos como "O Mestre da Retidão", haviam estabelecido uma "nova aliança", a forma final e mais perfeita de pacto entre o povo de Israel e seu Deus. Essa conquista era exclusivamente reservada aos membros da comunidade essênia, graças ao seu inabalável respeito por todos os 613 mandamentos da lei, e a crença total em sua profunda falta de valor. Como os fariseus, eles também haviam desenvolvido a idéia de deuses menores, conhecidos como anjos. Não existe dúvida de que os autores dos Manuscritos do Mar Morto, que agora chamamos de Comunidade de Qumran, eram essênios: mas ainda estava por tornar-se claro para nós que eram todos Nazoreanos da Igreja de Jerusalém original. A evidência de que esses dois grupos eram essencialmente o mesmo grupo é imensa e o argumento da Igreja de Roma de que eram grupos distintos parece ser apenas uma tentativa de proteger a "singularidade" de Jesus, quando os Manuscritos contam uma história semelhante sem referir-se a ele. Se a Igreja de hoje tivesse que assumir os Qumranianos como a Igreja de Jerusalém, teriam antes de tudo que explicar o porquê de sua divindade principal não ser o líder de sua comunidade. Os Manuscritos do Mar Morto descrevem um grupo com idêntica visão de mundo, a mesma terminologia peculiar e precisamente as mesmas crenças escatológicas da Igreja de Jerusalém. Já foi provado por peritos, como o professor Robert Eisenman, que o líder da Comunidade de Qumran na quarta e quinta décadas do século I d.C. era Tiago, o Justo, o irmão de Jesus, que a Igreja aceita como sendo o primeiro Bispo de Jerusalém. (Isso foi subseqüentemente confirmado em uma conversa particular com o professor Philip Davies). Como Tiago dividia seu tempo entre os dois grupos? Usava o sistema de dias alternados ou talvez passasse as manhãs com um grupo e as tardes com outro? Dificilmente. A resposta irrecusável é que os dois grupos são um só. Nas últimas três décadas de sua existência, a Comunidade de Qumran era a Igreja de Jerusalém. Em espírito os essênios eram judeus ultraconservadores, mas em algumas questões eles eram progressistas e criativos além da conta. O vocabulário Qumraniano está presente na literatura cristã e malentendidos sobre seu significado Original têm servido de apoio aos que pretendem preservar o Deus dos gentios através dos valores judaicos. O novo vocabulário dos Qurnranianos começou a penetrar na cultura teológica judaica no século I a.C. e se desenvolveu no século seguinte, quando a Literatura Targímica se tornou corriqueira. Essa literatura era a tradução da Bíblia Hebraica para o aramaico, a língua dos judeus no tempo de Jesus Cristo. Como os cultos eram feitos no pouco compreendido hebraico, eram simultânea e livremente traduzidos para o aramaico, como forma de beneficiar o geral dos participantes. Os tradutores usavam termos e frases que só eram compreendidas à luz circunstancial do momento, donde frases Qumrânicas do ritual cristão tais como "venha a nós o Vosso Reino", "o Reino do Senhor", "o Reino de Deus" e "o Reino da Casa de David" todas se referiam ao mesmo objetivo político. George Wesley Buchanan comenta: Quando se afirma que Jesus disse "meu Reino não é deste mundo" (João 18:36) isso não significa que esse Reino estivesse nos céus. N o Evangelho de João todas as pessoas são divididas em dois grupos: (1) os desse mundo e (2) os que não são desse mundo. Os que não são desse mundo incluíam Jesus e todos os seus seguidores que nele acreditavam. Viviam na terra. Não estavam no céu, mas não eram gentios. Pertenciam "à igreja" em contraste com "o mundo". O "mundo" incluía todos os gentios e todos aqueles se recusavam a acreditar em Jesus'. Podemos perceber que os termos usados na época eram claras afirmações políticas. Quem seguia o movimento independente estava "no Reino de Deus" e quem não seguia estava relegado ao "mundo". Em Lucas 17:20-21, um fariseu perguntou a Jesus para quando seria este Reino de Deus, recebendo a seguinte resposta: A vinda do Reino de Deus não é observável. Não se poderá dizer "Êi-lo aqui ou ali!" Pois eis que o Reino de Deus está entre vós. Os termos "Reino de Deus" e "Reino dos Céus" tinham um significado muito simples e claro para seus usuários originais, mas quando foram adotados pelos gentios cristãos, os novos proprietários se puseram a urdir um agradável paraíso onde as pessoas boas, depois que suas vidas tivessem terminado, provavelmente se reuniriam com seus entes amados em uma espécie de êxtase atemporal. Isso está muito longe de qualquer coisa que Jesus (isto é, o "portador da vitória") tenha ensinado a partir do século I. A palavra aramaica que foi traduzida para o grego com o significado de "reino" foi mal-compreendida nesse contexto, porque também significa "governo" ou "regra", e quando se analisa a imagem ampla do termo se percebe que significa "a terra de Israel sendo governada de acordo com a Lei de Moisés". Com efeito, quando Jesus e seus contemporâneos se referiam à "vinda do Reino dos Céus", queriam dizer apenas "o momento muito próximo em que chutaremos os dominadores estrangeiros e seus líderes para fora da Judéia, e começaremos a viver em estrita observância às rígidas regras judaicas". Os mais religiosos entre eles acreditavam que seus problemas eram simplesmente seu abandono por Yahweh em virtude de seus profundos pecados, gerados por não obedecerem à Lei de Moisés com toda a rigidez. O remédio para todos os problemas que os infestavam eram a pureza e a retidão: tinham que obedecer cegamente a cada letra da Lei de Deus. A Firme Evidência dos Manuscritos do Mar Morto Como já mostramos, as ligações entre os termos usados no Novo Testamento e os Manuscritos do Mar Morto são óbvias, mas desde o início a Igreja Católica tentou desqualificá-las. A interpretação dos Manuscritos foi liderada por um grupo de católicos que inclui o padre De Vaux, o padre Milik, o padre Skehan, o padre Puech e o padre Benoit. Outras figuras independentes também envolvidas reclamaram desde o início não estar tendo acesso total a muitos dos manuscritos, e tanto John Allegro quanto Edmund Wilson declararam que sentiam ser política intencional distanciar a Comunidade de Qumran dos primeiros cristãos, apesar das fortes evidências de identidade. O padre De Vaux insiste peremptoriamente que a Comunidade de Qumran era completamente diferente da dos primeiros cristãos: também observou que o fato de João, o Batista, ser tão próximo aos ensinamentos da Comunidade de Qumran não permite que o consideremos como cristão, mas simplesmente como um precursor do cristianismo. Como é claríssimo no Novo Testamento que João, o Batista, foi essencial para o ministério de Jesus, essa conexão é difícil de desmontar. De Vaux também ignorou o fato de que ambos os grupos aplicavam o batismo, ambos usavam as posses pessoais como se fossem comunitárias, ambos tinham um conselho de doze personalidades líderes e ambos estavam preocupados com figuras messiânicas e a iminente chegada do ''Reino de Deus". A 16 de Setembro de 1956,John Allegro escreveu a seguinte mensagem para o padre De Vaux: . .. você não é capaz de olhar o Cristianismo sob uma luz objetiva. .. você fala alegremente sobre o que era o pensamento dos cristãos originais de Jerusalém, e ninguém adivinharia que a sua única evidência real- se é que pode ser chamada assim - é o Novo Testamento. O padre De Vaux e sua equipe não puderam olhar esses novos manuscritos sob outra ótica que não fosse a de sua crença existente, e consciente ou inconscientemente torcem os fatos para tentar provar que a Comunidade de Qumran e os Nazoreanos/ Igreja de Jerusalém não têm nenhuma relação. Essa pretensão caiu por terra. A nós parece indiscutível que o homem que foi Jesus Cristo efetivamente foi uma figura de proa entre os Qumranianos durante os anos cruciais da terceira e quarta décadas do século 1. A Comunidade era pequena nesta época, não tendo possivelmente mais que duzentas pessoas, e talvez houvesse pouco mais que quatro mil essênios ao todo. Eram um grupamento de pessoas com identidade de pensamento, que enxergavam a solução imediata de seus problemas através da santidade e, apesar de não serem sacerdotes hereditários, de uma vida monástica. Essa vida envolvia uma sociedade extremamente hierarquizada, descendo de um Grão-Mestre até homens de pouca importância como os homens casados ou, pior ainda, as mulheres, especialmente as menstruadas. Mulheres nesse ponto de seu ciclo hormonal deviam afastar-se de qualquer contato com homens, inclusive o visual. A reprodução era uma necessidade desafortunada da vida, mas aqueles que escolhiam entregar-se aos assuntos da carne passavam por um complicadíssimo processo de limpeza antes de poder retornar ao seio da comunidade. Havia vários níveis de filiação, desde o amplo grupo externo até o sanctum interno. Iniciação aos altos escalões requeria votos de segredo que incluíam ameaças de horríveis punições se os segredos da irmandade fossem revelados ao mundo exterior. Isso nos parece prática maçônica, mas a diferença é que para os Qumranianos essas práticas não eram simbólicas: eles as tomavam literalmente. Essas pessoas de Qumran nos interessavam muito. Usavam mantos brancos, tomavam votos de pobreza, juravam segredo sob ameaças de terríveis punições e alegavam possuir conhecimentos secretos. Estava sendo pintado à nossa frente o quadro de um grupo judeu revolucionário que bem pode ter incluído Jesus, e que foi básico na revolta judaica, que eventualmente levou à destruição de Jerusalém e de seu Templo mais uma vez. ************************** Havíamos comprovado, além de qualquer dúvida razoável, que os Templários escavaram sob as ruínas do Templo de Herodes, e o que quer que tenham encontrado por lá deve ter sido escondido entre os primeiros anos do século I, quando ainda estava nos primeiros estágios de construção, e o ano 70 d.C., quando foi destruído. Isso nos deixava um período de não mais que setenta anos durante os quais o material podia ter sido ocultado. O Manuscrito de Cobre - assim chamado por ter sido escrito em folhas de cobre - encontrado em Qumran, conta como a Comunidade ocultou seus tesouros e escritos sob o Templo um pouco antes de 70 a.C., portanto, não há necessidade de especular sobre quais Manuscritos os Templários encontraram. E, se estivéssemos corretos, e a Comunidade de Qumran e a Igreja de Jerusalém fossem uma e a mesma coisa, os Templários evidentemente estariam entrado na posse dos mais puros documentos "cristãos" existentes - muito mais importantes que os Manuscritos Sinópticos! De longe a mais importante ligação entre os essênios de Qumran e os Cavaleiros Templários e a Maçonaria é o fato de que todas as três vertentes põem seu foco na reconstrução mística e física do Templo do Rei Salomão. Isso dificilmente seria uma coincidência e não poderia ser um desses casos de associação fraudulenta no que concerne à Maçonaria, porque a Grande Loja da Inglaterra e seus ensinamentos sobre a construção de um Templo espiritual antecedem a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto em pelo menos 200 anos. Ao observarmos o Cristianismo gnóstico percebemos que existe uma estreita ligação entre ele, o Novo Testamento e a Maçonaria na medida em que todos fazem referência às "pedras angulares". Descobrimos as mesmas referências nos textos Qumrânicos, Eisenman e Wise ressaltam este ponto, entre outras observações, sobre elos da Maçonaria e dos Manuscritos: Leitores familiarizados com o Novo Testamento reconhecerão que 'Comunidade' e 'Templo' são alusões basicamente paralelas, pois da mesma forma que Jesus é representado como 'o Templo' nos Evangelhos e em Paulo, a regra da Comunidade, o uso dessas imagens paralelas de um Templo espiritualizado em vii 5-6 e em ix 6 mostram o Conselho da Comunidade de Qumran como 'o Santo dos Santos para Aarão e um Templo para Israel'. Essa imagens, como veremos, estão espalhadas por Qumran, incluindo alusões a 'reconciliação', 'agradável fragrância', 'Pedra Angular' e 'Fundação' que as acompanham. O uso da palavra "Fundação" também nos despertou a atenção. A Família de Jesus Um elemento significativo, que a Igreja de Roma sempre reluta em discutir, é a evidência de que Jesus tinha irmãos, e provavelmente também irmãs. Referência aos irmãos de Jesus são encontradas em uma vasta gama de documentos dos séculos I e II, aí incluído o próprio Novo Testamento. Ter irmãos era muito normal, mas quando se supõe que você seja o Filho de Deus, uma dúvida surge - quem é o pai dos outros? Afortunadamente a evidência mostra que Jesus era o mais velho, portanto, seu nascimento de uma virgem não está instantaneamente rejeitado. Essa série de irmãos já foi reconhecida como verdadeira, e três teorias principais foram urdidas para explicar essa situação. Os debates iniciais do Cristianismo sempre trazem o nome de seu teólogo principal. Na visão de Helvídio, se aceita que Jesus efetivamente tinha irmãos: os argumentos de Epifânio tentam impor a idéia de que eram filhos de José, mas de um casamento anterior, e a desesperada explicação preparada por Jerônimo estabelece que o termo "irmão" na realidade quer dizer "primo". Apesar da Bíblia se referir claramente aos irmãos do Cristo em muitas ocasiões, a Bíblia Católica Romana Douai indica claramente sua preferência por essa opção nas notas explicativas: Helvídio e outros hereges impiamente inferiram que a Abençoada Virgem Maria teve outros filhos além do Cristo. E isso contradiz Mateus, que em 13, 55-56, diz: Não é este o filho do carpinteiro? E sua mãe não se chama Maria, e não são seus irmãos Tiago, José, Simeão e Judas? E suas irmãs, não estão todas entre nós? A resposta dos editores da Bíblia Douai é muito criativa, ainda que pouco convincente para o leitor mais crítico que nela pode ler: Essas eram as crianças de Maria... a irmã de Nossa Abençoada Senhora, e, portanto, de acordo com o estilo usual das escrituras, eram chamados de irmãos, ou seja, parentes próximos de Nosso Senhor. Se houvesse uma gota de verdade nessa estranha explicação, qualquer um notaria não ter havido muita criatividade por parte dos avós maternos de Jesus, já que, tendo duas filhas, deram a ambas o nome de Maria. Mesmo assim, agora já é universalmente aceito que Jesus teve irmãos e irmãs. Seu irmão mais novo, Ya'acov (Tiago em português) sobreviveu a Jesus por aproximadamente trinta anos e, como depois mostraremos, foi o responsável pela preservação de seus verdadeiros ensinamentos para que eles pudessem eventualmente triunfar no embate contra acontecimentos inacreditáveis. O Nascimento de Uma Nova Religião Agora sabemos que houve uma grande diferença entre a Igreja de Jerusalém original e a organização posterior que assumiu suas vestes depois que foram literalmente apagados da face da terra durante a guerra com os romanos. Estudando os escritos daqueles que a Igreja de Roma chama de "os pais da Igreja primeva" e seus subseqüentes líderes, nós percebemos, chocados pela confusão, incompreensão e pensamentos imperfeitos que se perpetuaram através das eras. Mas também descobrimos honestidade surpreendente: o papa Leão X (o mesmo que intitulou o rei Henrique VIII "defensor da fé") deixou registrado que: Tem-nos servido bem, esse mito do Cristo. Da queda de Jerusalém, no ano 70 d.C., a fé chamada Cristianismo começou a afastar-se de suas origens judaicas e logo todos os sinais do herói chamado Yeoshua foram se perdendo no meio de mitos e lendas. Velhas histórias pagãs foram reunidas para montar a história do homem que tentou ser o rei salvador de seu povo. Em Roma, a lenda de Rômulo e Remo foi recontada como sendo a de dois deuses menores, os grandes santos Pedro e Paulo. O deus Sol tinha seu aniversário comemorado a 25 de dezembro e essa data foi considerada adequada para ser também o aniversário de Jesus, para que dois grandes deuses pudessem ser festejados em um mesmo feriado. O shabbath foi transferido do sábado para o domingo, dia do deus-Sol e o símbolo do Sol encontrou seu lugar atrás das cabeças dos divinos e dos santos na forma da auréola. Os cidadãos do Império Romano acharam a nova religião ao mesmo tempo familiar e confortável: se não estivessem indo tão bem nesta vida certamente conseguiriam uma coisa melhor na próxima. Como muitos no decorrer de toda a História eles tinham pouco uso para a lógica mais simples, preferindo se satisfazer com a emoção dessas novas idéias, pedindo auxílio a esse seu (agora único) Deus em tempos de necessidade e louvando com orações quando as coisas iam bem. O Cristianismo se tornou mais um culto de rituais que de idéias, e a teologia cedeu lugar ao controle político. O Império Romano já era uma imensa força política, mas, a despeito de seu intimorato empenho para a manutenção do poder, não podia mantê-lo para sempre. Começou a se desmanchar como força cultural mas percebeu que o controle das mentes dos indivíduos era muito mais efetivo que apenas controlar seus corpos. O Cristianismo forneceu a Roma o mecanismo para estabelecer poder político sem paralelo, baseado em massas sem sofisticação a quem se oferecia uma vida após a morte se aceitassem os argumentos da Igreja. Thomas Hobbes, filósofo e pensador político do século XVII, expressou claramente essa situação ao dizer: O papado não é outra coisa que não o Fantasma do defunto Império Romano, usando sua coroa e sentado sobre sua sepultura. Provavelmente o evento mais significativo na criação do que hoje conhecemos como "A Igreja" teve lugar na Turquia a 20 de maio de 325 d.C. Aí aconteceu o Concílio de Nicéia, o resultado da decisão do imperador Constantino para retomar de uma vez por todas o controle de seu império fragmentado. Nesse momento Constantino era muito impopular e o descontentamento era geral: mas a idéia que ele teve para resolver seus problemas foi um golpe de puro gênio. Ele era realista o bastante para compreender que Roma não era mais o poder que tinha sido, e já que não podia manter sua posição segura nem através da força nem através das recompensas financeiras, ele poderia tornar-se importante para seu povo se pudesse inserir-se nas crenças espirituais que pareciam estar dividindo a lealdade de seus súditos. Todo o império havia se tornado uma mixórdia de cultos, com alguns deles, como o Cristianismo, presentes em muitas e variadas formas. Durante muitas gerações praticamente todas as religiões ocidentais haviam encontrado seu caminho em direção a Roma, e haviam sido absorvidas e metamorfoseadas para satisfazer aos gostos locais. Tão forte havia sido o processo de romanização que poucos fundadores dos cultos originais reconheceriam sua própria fé após elas terem-se misturado umas às outras, influenciando-se mutuamente: uma verdadeira colcha de retalhos religiosa. Nesse período de mudanças, aqueles que se chamavam a si mesmos de cristãos disputavam entre si por causa de diferenças fundamentais em suas crenças. A despeito de seu papel como legitimizador do Cristianismo, Constantino foi um seguidor do deussolar Sol Invictus até o momento em que se encontrou em seu leito de morte, quando finalmente aceitou o batismo, para aproveitar-se da possibilidade de que os cristãos estivessem com a razão. Um sensível e barato seguro de vida após a morte. Quando o imperador teve seu envolvimento inicial com os cristãos, o número era bastante insignificante: apenas um em cada dez cidadãos alegava ser seguidor dessa dissidência judaica. Ele foi o mediador de disputas entre diversas facções cristãs que se acusavam mutuamente de falsidade, e deve ter sentido que essa religião estava por emergir como uma força dominante. Constantino merece o título que a História lhe conferiu - Constantino, o Grande. Ele urdiu seu plano e executou-o imaculadamente. Nesse momento havia dois imperadores. Constantino dominava o Ocidente e Licínio, o Oriente, e quando Constantino avisou a sua contra-parte imperial que os monoteístas não deviam mais ser perseguidos, Licínio prontamente concordou. Como essas perseguições já haviam praticamente cessado, Licínio deve ter ficado curioso sobre o motivo de Constantino subitamente estar tão interessado no bem-estar de cultos tão aceitos quanto o Cristianismo. Ele descobriu logo depois, quando Constantino o acusou de quebrar o acordo e mandou assassiná-lo, alegando proteção da liberdade religiosa de seus súditos. Constantino imediatamente tornou-se o Imperador Único, com o apoio total do cada vez mais barulhento e influente culto do Cristo. Esse foi, sem dúvida, um excelente jeito de manter a ordem e engendrar a coesão, e Constantino deve ter sentido que merecia desenvolver-se ainda mais. Havia, no entanto, dois obstáculos para essa estratégia: primeiro, ainda havia muitas outras religiões ativas em geral, e, em particular, no seio do exército: e em segundo lugar, os próprios cristãos se desentendiam tanto que estavam sempre à beira de se estilhaçar em dezenas de crenças diversas. A solução encontrada por Constantino foi no mínimo brilhante. Apesar de ainda ser um devoto da religião do Sol Invictus, Constantino insistiu para que um primeiro Concílio internacional de cristãos estabelecesse, de uma vez por todas, uma única posição oficial que regulamentasse o culto cristão e seu profeta judeu Jesus Cristo. Mandou trazer líderes desse culto de todas as partes do mundo antigo, incluindo Espanha, França, Egito, Síria, Pérsia, Armênia e a própria Terra Santa. Sendo os cristãos sem comparação a mais barulhenta das seitas do império, esse Concílio reunido em Nicéia (agora Iznik) na Turquia, tornou-se de fato o parlamento do novo império unificado. O evento foi teatralmente organizado com extremo profissionalismo: Constantino sentava-se ao centro, cercado pelos bispos, de modo que sua autoridade fosse a maior de todas em todas as discussões. O imperador na verdade ocupou o lugar do Cristo naquele momento, acoitado e cercado por seus discípulos e, como a lenda nos conta, o poder do Espírito Santo também esteve presente, agindo através do homem que seria o fundador dessa nova Igreja. O interesse de Constantino estava principalmente em duas coisas: o Deus dos cristãos, que ele via como uma manifestação de seu deussolar já existente, e a figura de Jesus Cristo, que ele via como um messias judeu, da mesma forma que ele, Constantino, era o messias do império. Ele considerava Jesus como sendo uma figura tão guerreira e sagrada quanto ele, havendo ambos lutado para estabelecer a Lei de Deus: mas onde o rei judeu tinha falhado, ele tinha vencido. Desde o tempo de Constantino, os cristãos o têm visto como o grande líder da Fé, que derrotou os hereges. Logo começou a ser contada a história de sua conversão ao Cristianismo quando, durante a batalha da Ponte Mílvia, o imperador seguiu as instruções recebidas em um sonho profético e pintou o símbolo do Deus Verdadeiro nos escudos de seu exército. A partir do posterior envolvimento de Constantino com os cristãos assumiu-se que esta imagem tivesse sido a das letras gregas sagradas "chi" e "rho", as primeiras letras da palavra grega "Christós". No entanto, como Constantino nunca se fez cristão em vida, a imagem nesses escudos deve certamente ter sido o brilhante sol do "Verdadeiro Deus", Sol Invictus. Não existe nenhum registro dessa época descrevendo este símbolo, mas como o imperador havia sido recém-aceito como membro do culto do Sol Invictus, é bastante improvável que ele tenha usado qualquer outra imagem. O resultado desse Concílio foi o "Credo Niceano", que buscava reconciliar as diferenças entre as várias facções cristãs, evitando os abismos doutrinais que pareciam estar partindo a Igreja Ocidental em vários pedaços. As regras que aí surgiram ainda são a base de muitas decisões da Igreja de hoje, cobrindo detalhadamente pontos como quando as congregações deveriam ficar de pé e quando deveriam sentar durante os serviços. O ponto central, no entanto, era a seguinte discussão: Jesus era homem ou deus e, se fosse deus, qual seria a verdadeira natureza de sua divindade? Os membros do Concílio tinham diante de si uma tarefa hercúlea, que deve ter dado um nó em seus cérebros teológicos. Achar uma solução era dolorosamente difícil: se havia um só Deus, como Jesus podia ser deus sem ser esse Deus? E se tivesse sido concebido em Maria, então devia ter havido um tempo em que esse Deus não havia ainda nascido, .portanto, deveria haver uma deidade mais velha que ele, mas que dele não era totalmente separada. Isso foi racionalizado pela mente gentílica de Constantino com a explicação da relação entre ''Deus Pai" e ''Deus Filho". Essa nos parece uma conclusão muito pobre porque nenhuma pessoa consegue acreditar que ele e seu pai são manifestações diversas de uma mesma entidade: se assim fosse, haveria apenas um ser humano, já que todos descendemos de uma mesma linhagem genealógica de pais e filhos. A conclusão inescapável é a de que o Cristianismo não é uma religião monoteísta coisíssima nenhuma, e que apenas se ilude sobre esse ponto mantendo os pensamentos extremamente confusos. Os participantes do Concílio de Nicéia também se fizeram a difícil pergunta: "Havendo um Deus Pai antes de criar o mundo o que será que ele estava fazendo enquanto não o criou?" A resposta emergiu um século mais tarde através de Santo Agostinho de Hipona, que declarou que "Deus passou esse tempo construindo um inferno especial para os que fazem perguntas como essa!". Arius, um padre de Alexandria, era o líder do lobby a favor do Jesus Homem e não Deus. Ele havia ponderado que Jesus Cristo não poderia ser Deus porque era um homem. Deus era Deus, e era blasfêmia pensar que Jesus fosse divino por sua própria natureza: ele só podia tornar-se divino através de suas ações. Arius era um teólogo extremamente inteligente, e arrebanhou uma impressionante quantidade de argumentos evangélicos para comprovar sua tese de que Cristo fora um homem, exatamente igual aos membros do Concílio. A ele se opunha um outro alexandrino chamado Atanásio, que insistia serem o Pai e o Filho (paradoxalmente) uma só e a mesma substância. A opinião sobre a divindade de Jesus dividiu o Concílio, e teve que ser votada. Arius perdeu, e a pena que paga até hoje é ter-se tornado sinônimo do mal sob a designação "a Heresia de Arius". Heresia já era uma acusação muito imprecisa que um grupo de cristãos atirava contra os outros, mas após Constantino ter tomado o controle, seu significado tornou-se transparente como cristal. Em essência, a verdade se tornou aquilo que o imperador dizia que ela era, e todo o resto era heresia, o trabalho do diabo. Muitos evangelhos foram postos fora da lei, e a aplicação sobre eles do termo "gnóstico" efetivamente os removeu do agora estreitamente definido credo do Cristianismo. Curiosamente, um dos documentos mais importantes que não foi gerado no Concílio de Nicéia foi a "Dotação de Constantino". Essa foi uma descoberta do século XVIII que alegava ser instrução expressa de Constantino que a Igreja de Roma tivesse autoridade absoluta sobre assuntos seculares porque São Pedro, o sucessor de Jesus como líder da Igreja, havia transferido essa autoridade ao Bispo de Roma. Hoje em dia se tem essa instrução como sendo uma farsa bem mal-feitinha, mas a despeito disso a Igreja Católica Apostólica Romana ainda se sustenta sobre os pretensos direitos que esse documento falso lhe confere. Nesse ponto devemos mencionar também que a alegação de que São Pedro deu as chaves do Céu ao papa é outra mentira intencional, inventada apenas para sustentar as alegações da Igreja de Roma. Fica claro para quem lê os Atos dos Apóstolos e as Cartas de Paulo que Tiago, o irmão mais novo de Jesus, foi quem assumiu o papel de líder da Igreja de Jerusalém. Também é interessante notar que os primeiros dez bispos da Igreja de Jerusalém foram todos, de acordo com o ''Pai da Igreja" Eusébio, judeus circuncidados que respeitavam as leis dietárias, usavam a liturgia judaica para suas preces diárias e respeitavam o shabbath e as festas judaicas, inclusive o Dia do Perdão. Essa última parte demonstra claramente que eles não consideravam a morte de Jesus como perdão para todos os seus pecados. Constantino, mais do que todos, fez um esplêndido trabalho no seqüestro da teologia judaica. Apesar de ter sido efetivamente o arquiteto dessa Igreja, ele nunca se tornou cristão - mas sua mãe, a imperatriz Helena, certamente o fez. Helena desejou que todos os lugares santos fossem devidamente identificados e marcados por meio de igrejas ou outros altares, e para isso enviou times de investigadores que tinham instruções de não retornar até que houvessem descoberto cada local e artefato santificado possível, desde a Sarça Ardente até a própria Cruz de Cristo. O Sepulcro de Cristo foi rapidamente encontrado debaixo do Templo de Júpiter em Jerusalém, e um pouco além foi detectado o lugar da crucificação. O lugar exato em que Maria Madalena esteve quando ouviu as boas novas sobre a ressurreição foi localizado e marcado com uma estrela - tudo isso trezentos anos após os eventos terem ocorrido, e duzentos e cinqüenta anos após a destruição da cidade pelos romanos. Por uma milagrosa coincidência foi a própria Helena quem tropeçou na Verdadeira Cruz, completa com a placa de Pôncio Pilatos que denominava Jesus, o "Rei dos Judeus". Talvez seus servos estivessem um pouco ansiosos demais para agradá-la. A imperatriz fundou igrejas no Monte das Oliveiras, marcando o ponto de onde Cristo ascendera aos céus, e no lugar de seu suposto nascimento em Belém. Só podemos acreditar que Helena encontrava exatamente o que queria encontrar; um desses lugares identificados era o lugar exato no Monte Horeb onde Deus falou a Moisés por meio da Sarça Ardente, e onde hoje se localiza o Monastério de Santa Catarina. Tão logo a família imperial percebeu o valor pratico do Cristianismo, certamente se atirou de cabeça à celebração publica das lendas de seu novo culto. A Verdade entre as Heresias A Igreja Romana inicial tomou a si a tarefa de destruir tudo aquilo que não fosse ao encontro de seu dogma absoluto. A verdade não tinha nenhuma importância: o que a Igreja queria que fosse verdade se tomava verdade, e tudo que contradissesse isso era removido. Até muito recentemente pouco ou nada se sabia sobre Jesus Cristo além da mesquinha informação dada no Novo Testamento. É estranho como um homem que é a base da principal religião do mundo ocidental tenha deixado tão poucos traços. Quase sempre é possível provar a existência de uma figura histórica a partir das coisas negativas ditas sobre ela por seus inimigos, mas Jesus aparentemente não é mencionado em fontes como, por exemplo, os escritos de Josephus, o historiador judeu do século I - só o é no texto de um certo Josephus Slavonico, ao qual retornaremos mais tarde nesse mesmo livro. A quase total ausência de referências a Jesus se deve às tesouras dos censores, mas afortunadamente não foram felizes de todo, como o texto de Josephus Slavonico, escondido durante muito tempo, pode demonstrar. A Igreja Romanizada destruiu toda e qualquer evidência que mostrasse seu salvador como mortal em vez de mostrá-lo como deus. Em um dos maiores atos de vandalismo de todos os tempos os cristãos atearam fogo à Biblioteca de Alexandria no Egito, reduzindo-a a cinzas, simplesmente por conter muita informação sobre a verdadeira Igreja de Jerusalém. Assim fazendo destruíram a maior coleção de textos antigos que o mundo já havia visto. Por sorte sua tarefa era praticamente impossível, já que lhe seria impossível remover todos os traços de evidência, como as revelações dos Evangelhos Gnósticos e os admiráveis Manuscritos do Mar Morto. Além disso, os escritos dos pais fundadores da Igreja oficial, sem o perceber, trouxeram à luz muitas pessoas e pensamentos que pretendiam destruir. E mais: os trabalhos dos primeiros pensadores cristãos por vezes escapavam aos censores porque eram considerados inócuos, mas ainda assim suas palavras nos podem revelar muito. Um desses pedaços de informação veio da pena de Clemente de Alexandria, um proeminente pensador cristão do século II. Era considerado bastante gnóstico de maneira geral, mas seu trabalho não foi todo destruído por ser julgado aceitável. Uma carta que ele escreveu a um homem de nome Teodoro sobreviveu, e nela se lê o seguinte: Você fez bem em silenciar os indizíveis ensinamentos dos Carpocracianos. Pois estes são as 'estrelas vagabundas' a que a profecia se refere, que vagam do estreito caminho dos mandamentos até o abismo sem limites dos pecados corpóreos e carnais. Por se imiscuírem no conhecimento, como eles mesmos dizem, 'das profundezas de Satã', não percebem que estão se atirando no 'escuro mundo da escuridão' da falsidade, e vangloriando de ser livres, tomaram-se escravos dos desejos servis. A tais (pessoas) devemos nos opor de todas as maneiras e inteiramente. Pois, mesmo se disserem alguma coisa que seja verdadeira, aquele que ama a verdade não deve, mesmo assim, concordar com eles. Pois nem todas as verdades são verdades, nem deve aquela verdade que meramente parece ser verdadeira tomar o lugar da verdade verdadeira, aquela que está de acordo com a fé. Uma das coisas que se dizem sobre o divinamente inspirado Evangelho de Marcos, é que algumas partes são falsificações, e que outras, mesmo contendo algumas partes verdadeiras, se misturam com invenções, mesmo assim são consideradas verdadeiras. Pois a verdade, sendo misturada com as invenções, torna-se falsificada, de modo que, como se diz, até o sal perde seu sabor. É que Marcos, durante a estadia de Pedro em Roma, escreveu um relato dos feitos do Senhor, mas não declarando tudo, e nem mesmo indicando o que é secreto, mas sim selecionando aquelas que considerou mais úteis para ampliar a fé daqueles que estivessem sendo instruídos. Mas quando Pedro morreu como mártir, Marcos veio até Alexandria, trazendo consigo tanto suas próprias anotações quanto as do próprio Pedra, das quais ele transferiu para seu antigo livro as coisas adequadas para quem quer que faça progressos na direção do conhecimento [gnosis}. Assim ele compôs um Evangelho mais espiritual para uso daqueles que estivessem sendo aperfeiçoados. Mesmo assim, ele nem divulgou as coisas que não devem ser ditas, nem escreveu os ensinamento hierofânticos do Senhor, mas às histórias já escritas ele adicionou ainda outras e, mais do que isso, trouxe a elas certos ditos que ele sabia, como mistagogo, levariam os seus ouvintes ao santuário mais interno daquela verdade oculta pelos sete. Assim, em suma, ele pré-organizou os assuntos, nem com rancor nem sem cuidado em minha opinião e, morrendo, deixou sua obra para a Igreja de Alexandria, onde ela está cuidadosamente guardada até hoje, sendo lida apenas por aqueles que são iniciados nos grandes mistérios. Mas como os sujos demônios estão sempre buscando a destruição para a raça dos homens, os Carpocracianos, instruído por eles e usando artes do disfarce, escravizaram um certo presbítero da Igreja de Alexandria e dele conseguiram uma cópia do Evangelho secreto, que não só interpretaram segundo sua doutrina blasfema e carnal, mas também poluíram, misturando com as claras e santas palavras as mais torpes mentiras. É dessa mistura que nascem os ensinamentos dos Carpocracianos. A eles, portanto, como já disse antes, não se deve dar nenhum espaço e nem, quando puserem às claras as suas falsificações, confirmar que o Evangelho Secreto é de Marcos, mas negá-lo até sob juramento. Pois, 'nem todas as coisas verdadeiras devem ser ditas a todos os homens'. Por esse motivo a Sabedoria Divina, através de Salomão, aconselha: 'Responda ao tolo com sua própria tolice', ensinando que a Luz da Verdade deve ser escondida daqueles que são mentalmente leigos. Ele também diz: 'Que seja tirado daquele que nada tem' e 'Que o tolo permaneça na escuridão'. Mas nós somos 'Filhos da Luz', tendo sido iluminados pela 'aurora' do Espírito do Senhor 'que vive no alto' e, 'aí onde estiver o Espírito do Senhor', lá se diz, 'ai está a liberdade', pois 'todas as coisas são puras para o puro'. Para ti, portanto, não hesitarei em responder as perguntas que me fizeste, refutando as falsificações com as próprias palavras do Evangelho. Por exemplo, após 'E eles estavam na estrada indo para Jerusalém' e daí em diante até 'após três dias ele se erguerá', o Evangelho Secreto traz a seguinte matéria, palavra por palavra: 'E eles chegaram a Betânia, e urna certa mulher, cujo irmão havia morrido, lá estava. E chegando a eles, ela se prostrou diante de Jesus e lhe disse: 'Filho de David, tende piedade de mim'. Mas os discípulos a afastaram, e Jesus, tendo ficado irado, foi com ela para um jardim onde a sepultura se encontrava e imediatamente um grito foi ouvido de dentro da sepultura. Chegando perto, Jesus rolou a pedra para longe da porta da sepultura e, indo diretamente para onde o jovem estava, estendeu sua mão e o segurou, puxando-o pela mão. Mas o jovem, olhando para ele, amou-o e rogou para que pudesse estar com ele. E saindo da sepultura eles se dirigiram à casa do jovem, pois ele era rico. E após seis dias, Jesus lhe disse o que fazer e à noite o jovem veio até Jesus usando uma túnica de linho sobre seu corpo nu. E passou esta noite com Jesus, que lhe ensinou o mistério do Reino de Deus. E assim, erguendo, ele passou para o outro lado do Jordão. A estas palavras segue-se o texto: "... e Tiago e João vieram a ele" e toda a seção seguinte. Mas o texto 'homem nu com homem nu' e outras coisas sobre as quais tu escreveste não foram encontradas. E após as palavras 'E ele veio até Jericó', o Evangelho Secreto só adiciona 'E a irmã do jovem a quem Jesus amou e sua mãe e Salomé lá estavam, e Jesus não as recebeu'. Mas todas as coisas sobre as quais tu escreveste parecem ser e são falsificações. Agora, a explicação para tudo isso de acordo com a verdadeira filosofia... Nesse ponto a carta se interrompe, em meio a página. Essa referência a um Evangelho Secreto, e mais importante que isso, a uma cerimônia secreta e fechada conduzida pelo próprio Jesus, foi uma grande descoberta. Poderia ser verdade, nós questionamos? Clemente poderia estar errado mas não parecia ser assim. A carta também poderia ser uma falsificação, mas, se assim o fosse, qual o motivo? Não conseguíamos pensar em nenhum motivo pelo qual ela tivesse sido forjada por quem quer que seja, tanto tempo atrás. Voltando ao âmago da carta, consideramos haver fortes similaridades entre as referências ao jovem "usando uma túnica branca sobre seu corpo nu" e o incidente não explicado quando da prisão de Jesus em Getsêmani, como descrito em Marcos 14:51-52: E um certo jovem o seguiu, com apenas uma túnica de linho jogada sobre seu corpo nu. E eles o seguraram. Mas ele, livrando-se da túnica de linho, deles fugiu nu. Os Carpocracianos eram um seita cristã primeva particularmente desagradável, que acreditava que os pecados eram o meio da salvação e a implicação sobre dois homens nus pode ser uma leitura deliberadamente errônea de eventos feita especificamente para justificar seu comportamento bizarro. O conteúdo da carta soa verdadeiro, em vista dos eventos narrados no Evangelho de Marcos. Mais do que isso, existem paralelos maçônicos: tudo nos recordou a cerimônia maçônica em que o candidato está vestindo apenas uma túnica de linho - e, é claro, o manto templário que era feito de puro linho branco. Se um cristão do século II tivesse algum conhecimento de cerimônias secretas conduzidas por Jesus Cristo e seus seguidores, seria de se esperar que essa pessoa fosse de Alexandria, que mantinha fortes ligações com a Igreja de Jerusalém. Em vista do dramático conteúdo da carta, fomos impelidos a pesquisar nos tratados restantes de Clemente, apesar deles terem sido muito deturpados pelos censores cristão que o sucederam. Num pequeno trabalho intitulado Mistérios da Fé que Não devem Ser Divulgados de Nenhuma Maneira ele indica que o conhecimento não está disponível para todos: Os sábios não proferem com suas bocas aquilo que pensam no conselho. Mas o que ouves no teu ouvido", diz o Senhor, "proclama-o em todas as casas", ordenando-lhes que recebam a tradição secreta do verdadeiro conhecimento, e a exponham ampla e conspicuamente: e como a ouvimos no ouvido, assim entregamos a quem quer de que seja requisitado: mas não nos unindo na comunicação dela a todos sem distinção, a não ser por meio de parábolas. Isso sugere haver uma tradição secreta e que ela está, pelo menos em parte, presente na Bíblia, escrita de tal forma que os não-iniciados seriam levados a aceitar a parábola literalmente, enquanto os mais informados nela discerniriam alguma coisa muito mais importante e significativa. Clemente só poderia estar se referindo a partes do Novo Testamento que normalmente não são consideradas parábolas, porque as que obviamente o são, como por exemplo, a do "bom samaritano", são apenas lições de moral e nada mais. Nesse caso, poderia haver um ensinamento secreto nas partes mais estranhas da história de Jesus Cristo que é tomada pelos cristãos modernos como verdade literal? Estariam episódios como a transformação da água em vinho ou a ressurreição dos mortos ocultando uma mensagem críptica por detrás das ações impossíveis a que se refere? Estávamos começando a ficar tão interessados nos detalhes das escrituras bíblicas como já éramos por textos maçônicos. Lendo um texto atribuído a outro cristão do século II, Hipólito, intitulado A Refutação de todas as Heresias, encontramos testemunhos interessantíssimos de uma seita herética que ele identifica como os Naassenos, que alegavam possuir conhecimentos que lhes tinham sido dados por Tiago, o irmão do Senhor por parte de Maria. Supõe-se que eles acreditavam ser a relação entre homens e mulheres uma prática perversa e suja, ao passo que se lavar na água-doadora-devida seria uma coisa esplêndida. Hipólito assim diz: Eles asseguram que os egípcios, que depois dos frígios são os mais antigos entre toda a humanidade, e que confessamente foram os primeiros a proclamar para todos os ouros homens os ritos e orgias de todo os deuses ao mesmo tempo, assim como as espécies das coisas, possuem os sagrados e augustos e, para os não-iniciados, inomináveis mistérios de Isis. Esses, entretanto, nada mais são do que os seus sete véus e vestidos negros de zibelina que eram liberados e descartados, especialmente, os dos órgãos sexuais de Osíris. E eles dizem que Osíris é água. Mas a natureza das sete túnicas, cercadas e ordenadas por sete mantos de textura etérea, pois assim eles denominam as estrelas planetárias, chamando-as alegoricamente de vestidos etéreos, é como e fosse a mutável geração, e é exibida como a criatura transformada pelo inefável e irretratável, inconcebível e infigurável. E isso (o Naasseno) diz, e o que se declara nas escrituras", O justo cairá sete vezes, e se reerguerá. Pois essas quedas, ele diz, são as mudanças da estrelas, movidas por Aquele que põe as estrelas em movimento. Muitas luzes se acenderam quando lemos esta passagem. O termo "Naasseno" é outra forma de se escrever "Nazoreano", o nome adotado pelos seguidores originais de Jesus que formaram a Igreja de Jerusalém. A descrição de sua rejeição ao contato sexual com mulheres e o importante papel da purificação também casa perfeitamente com o que agora sabemos sobre a Comunidade Essênia de Qumran que produziu os Manuscritos do Mar Morto. A fixação com o número sete se liga curiosamente à referência na carta de Clemente ao "santuário mais interno da verdade oculta por sete". A coisa toda nos pareceu ter um sentido muito maçônico: apesar de não podermos identificá-lo com precisão, ele se tornou muito claro quando entramos em contato com o Ritual do Arco Real da Maçonaria - mas disso falaremos mais tarde. Uma Ligação Positiva entre Jesus e os Templários Pela evidência disponível estávamos agora convencidos de que Jesus e seus seguidores eram originalmente chamados de Nazoreanos (ou Nazarenos), mas era importante entender o que essa designação significava e descobrir porque deixara de ser usada. O próprio Jesus se havia dado esse título em Mateus 2:23: E veio a habitar em uma cidade chamada Nazaré, para que fosse cumprido aquilo que fora dito pelos profetas, que ele seria chamado de "O Nazareno". Isso parecia indicar que o Evangelho de Marcos havia sido escrito por alguém muito afastado da verdadeira Igreja ou, melhor dizendo, que fora adicionado algum tempo mais tarde por alguém que desejava corrigir algumas pontas soltas pouco atraentes. Nos pareceu uma dolorosa torção da lógica dizer que Jesus estava obrigado a morar em um lugar especifico simplesmente porque algum profeta muito antigo disse que ele o faria. E mais: é um erro flagrante do Novo Testamento estabelecer que as pessoas chamavam seu salvador de "Jesus de Nazaré", porque a cidade de Nazaré simplesmente não existia no tempo de Jesus! Não existe nenhum registro histórico desta cidade antes de sua menção nos Evangelhos, o que é uma situação muito estranha, já que os romanos mantiveram arquivos completos durante todo o seu Império. O termo verdadeiramente usado fora ''Jesus, o Nazoreano", por ser ele o membro mais antigo de um movimento que levava esse nome. O Novo Testamento situa as atividades de Jesus nas imediações do Mar da Galiléia, e sua suposta mudança para Cafarnaum, descrita em Mateus 4:13, foi apenas a correção necessária para trazer a história de volta a seus trilhos. O fraseado nos chamou a atenção: ele implica que Jesus era membro da seita Nazoreana, o que sugere claramente não ser ele o seu líder original. Parece que Jesus afinal não foi o fundador da Igreja. Os nazoreanos estavam se mostrando realmente muito importantes na história que começava a se desdobrar à nossa frente. Subitamente surgiu uma importante pista, vinda de uma fonte totalmente inesperada. Enquanto visitava o Sinai, Chris, que é um experiente mergulhador, teve a oportunidade de mergulhar nos recifes de coral do Mar Vermelho, que ele sabia por experiência anterior serem os melhores do mundo. A visibilidade submarina nas imediações de Sharm el Sheik é normalmente excelente, mas em determinado dia praticamente cessa, por causa do lançamento anual de esporos do coral. Isso torna a água turva e em alguns lugares a visibilidade cai para poucos metros. Chris conta a história: Eu sabia que as noticias não eram tão ruins como pareciam, porque o plâncton atraía criaturas maravilhosas como arraias, buscando banquetear-se com a farra comida disponível Eram mais ou menos dez horas da manhã quando eu pulei do quente tombadilho de aço do Apuhara, um navio egípcio que havia começado sua vida como quebra-gelo na Suécia, e mergulhei uns trinta metros em direção ao multicolorido leito do mar. Nadei em direção à costa, subindo vagarosamente na água cada vez mais rasa para conseguir uma taxa segura de descompressão de nitrogênio. A nove metros entrei em uma grande nuvem de zooplâncton e perdi completamente a visão de meu companheiro de mergulho, o que me fez recuar para a área mais limpa. Assim que minha visão foi restaurada e percebi uma arraia gigante se dirigindo para mim, com a boca aberta para filtrar de toneladas de água para sua refeição matinal. Ela parou uns três metros e meio à minha frente, flutuando imóvel como um disco voador alienígena. a peixe tinha mais de seis metros de largura, e eu movi minha cabeça de um lado para outro para poder abarcar todo o esplendor dessa criatura magnífica, que me enchia de alegria e encanto. Subitamente, sem nenhum movimento visível de suas asas, ela nadou para a minha esquerda e eu pude ver atrás dela duas arraias menores que se aproveitavam da corrente de alimento que se dirigia para a costa. Esse foi um de meus melhores mergulhos e assim que voltei ao barco perguntei a Ehab, o amigável guia árabe que sabia de tudo, o nome dessa localidade, e ele me disse que se chamava Ras Nasrani. Na conversa eu perguntei o que esse nome queria dizer, e ele me disse que Ras queria dizer ponta ou costa, e que Nasrani era a palavra para indicar muitos peixes pequenos. Insisti e perguntei a que tipo de peixes ele referia, e ele respondeu: "Qualquer peixinho comum, quando há muitos deles juntos". Alguns dias mais tarde, no Monastério de Santa Catarina, ouvi um árabe se referir aos cristãos exatamente com a mesma palavra, Nasrani, e quando fui me certificar, ele me confirmou que essa é a palavra árabe corriqueiramente usada para os seguidores do grande profeta chamado Jesus. a significado literal imediatamente me veio à mente e subitamente fez muito sentido. Poderia ser este o significado exato do termo - ou seja, que nos tempos antigos, os seguidores de Jesus fossem "os peixes pequenos"? Isso podia se basear na imagem do "pescador de homens" que a Igreja atribui a Cristo: mas parece mais se basear na antiga associação entre sacerdotes e peixes. Os essênios eram sacerdotais em suas devoções e obediência às leis, e se banhavam na água em todas as oportunidades possíveis, o que também teria dado vazão ao uso dessa expressão. Essa teoria corrobora o fato de que membros da seita Nazoreana andavam pelos lugares sagrados da primitiva era cristã e as marcavam com as duas curvas que formam o famoso sinal do peixe. É interessante notar que o símbolo da organização era originalmente o peixe e não a cruz, indicando que a execução de Jesus não era assim tão importante nesse momento. Pode ser também que Pedro e João tivessem sido altos membros da seita Nazoreana e que recrutassem novos membros, e por isso fossem conhecidos como "pescadores", mais em virtude de suas atividades de recrutamento que em uma referência literal à profissão. Isso fazia muito mais sentido, porque na área do Mar Morto não existem peixes: e fora para dar validade a uma leitura literal que os últimos autores do Novo Testamento haviam mudado as origens desses "pescadores" para o Mar da Galiléia - que é pleno de peixes - corrigindo a contradição. Mais pesquisas mostraram que o adjetivo "nazôraios" fora identificado como um termo muito antigo usado pelos que não faziam parte da seita que mais tarde ficou conhecida como cristã. Epifânio fala de um grupo pré-cristão chamado de Nasaraioi que, conforme sugestão de vários estudiosos tais como Lidzbarski, era o nome que originalmente designava a seita da qual a figura de Jesus (e, portanto, da Igreja) havia emergido. Isso também sugere que Jesus tenha sido um simples membro e não o fundador. Não havia mais dúvida em nossas mentes sobre duas coisas: Jesus não viera da cidade de Nazaré e, em vez disso, era membro da seita dos Nazoreanos cujos membros certamente se denominavam "peixinhos". Essas descobertas faziam tanto sentido que buscamos sobre elas o máximo de informação possível, procurando os mínimos detalhes que pudessem lançar mais luz sobre essa hipótese muito promissora. Muitas partes dessa informação eram intrigantes, mas ficamos atônitos ao descobrir que a seita dos Nazoreanos nunca havia verdadeiramente desaparecido: ainda sobrevive no sul do Iraque, como parte da grande seita Mandaeana, cujos membros traçam sua herança religiosa não até Jesus, mas até Yahia Yuhana, mais conhecido entre os cristãos como João, o Batista! Sua literatura usa o termo "natzoraje" para se auto descrever. Eles crêem que Yshu Mshiha (Jesus) era um Nazoreano, mas um Nazoreano rebelde e herético que traiu as doutrinas secretas que lhe haviam sido confiadas. Ficamos curiosos sobre que segredos ele pudesse ter possuído e para quem ele os teria contado. As respostas possíveis não estavam muito longe. Não sabíamos muito sobre os Mandeanos e, pesquisando sobre eles, fomos surpreendidos pela seguinte declaração: Os Mandeanos, uma pequena, mas tenaz, comunidade que vive no Iraque, segue uma antiga forma de Gnosticismo, que inclui práticas iniciáticas e estáticas, e alguns rituais que parecem muito com os dos Maçons. Aí estava. Um grupo que descendia diretamente da Igreja original de Jerusalém, e uma das primeiras descrições que identificavam seus rituais com os da Maçonaria. Seria possível que o segredo que Jesus traíra fosse algum tipo de segredo ao estilo maçônico? Era um pensamento estranho. Isso devia ser o início de alguma coisa muito importante, e essa visão foi confirmada quando descobrimos que os Mandeanos de hoje chamam seus sacerdotes de ''Nazoreanos''! Ficamos fascinados quando descobrimos que essa seita tira seu nome da palavra Manda, que significa "conhecimento secreto", e rapidamente percebemos as evidências de possíveis ligações com a Maçonaria. Os Mandeanos usam um aperto de mão ritual chamado Kushta, que é um aperto dado a candidatos cerimoniais, significando Retidão, ou seja: fazer o que é certo. Isso é considerado como uma idéia bastante maçônica. Outro aspecto de seu ritual que parecia ter tintas maçônicas era o fato de que os Mandeanos fazem uma prece silenciosa quando seus iniciados são considerados ritualmente mortos, exatamente como as palavras mais secretas da Maçonaria são sempre sussurradas ao ouvido do candidato a Mestre Maçom quando ele é erguido de sua sepultura ritual. Isso mais tarde mostrou ser um elo entre o passado e a Maçonaria moderna. A Estrela dos Mandeanos Chris começou a estudar mais a fundo as crenças e rituais desse incrível fóssil teológico de uma cultura que datava do tempo de Jesus, e encontrou algumas palavras que levariam a um impressionante desenrolar da história. Josephus, o historiador judeu do século I, notou que os essênios acreditavam que as boas almas têm sua morada além do oceano, em uma região que não é oprimida nem por tempestades de água ou neve nem por calor intenso, mas sempre refrescada pelo gentil sopro do vento oeste que sopra perpetuamente do oceano. Essa terra idílica através do mar na direção oeste (às vezes norte) é uma crença comum a muitas culturas, dos judeus aos gregos e celtas. Os Mandeanos, no entanto, crêem que os habitantes dessa terra longínqua são tão puros que os olhos mortais não os podem ver, e que essa terra é marcada por uma estrela, cujo nome é "Mérica". Uma terra do outro lado do oceano: um lugar perfeito marcado por uma estrela conhecida como Mérica... Ou quem sabe A-Mérica? Sabíamos que a estrela da manhã havia sido importante para os Nazoreanos, e que a estrela do entardecer, a estrela do oeste, é o mesmo corpo celestial- o planeta Vênus. Como mais tarde descobriríamos detalhadamente em nossas pesquisas, os Estados Unidos da América haviam sido criados por Maçons, sendo sua Constituição baseada em princípios maçônicos, e como já sabíamos, a estrela da manhã é aquela para a qual se pede que cada novo Mestre Maçom olhe. A estrela como símbolo sempre foi importante para os Estados Unidos. Nossas mentes imediatamente volveram ao ritual maçônico, e ao fechamento da Loja, quando as seguintes perguntas são feitas aos Primeiro e Segundo Vigilantes pelo Venerável Mestre: Irmão Primeiro Vigilante, para onde dirigis vossos passos? Para o Oeste, Venerável Mestre. Irmão Segundo Vigilante, por que deixais o Leste e ides para o Oeste? Em busca daquilo que foi perdido, Venerável Mestre. Irmão Primeiro Vigilante, o que é que foi perdido? Os verdadeiros segredos de um Mestre Maçom, Venerável Mestre. Essa ligações podem ser coincidências, mas a nós pareceu que havia muitas coincidências acontecendo ao mesmo tempo. Pode parecer uma digressão sem sentido em uma pesquisa sobre Jerusalém no tempo de Jesus, mas a origem do nome América é um interessante sub-produto de nossas pesquisas. Cremos que um dos problemas da pesquisa histórica tradicional é que os peritos olham "pacotes" individuais da história como se certos trechos significativos de circunstâncias tivessem acontecido em uma data determinada para que pudessem ser etiquetados e observados. Cada vez mais certos investigadores sérios têm apreciado a idéia de haver inesperadas e poderosas conexões entre todos os tipos de eventos previamente considerados nãorelacionados. Sabíamos que os Mandeanos eram os descendentes diretos dos Nazoreanos, que também havíamos estabelecido como o mesmo grupo dos Qumranianos, as pessoas que haviam enterrado seus manuscritos secretos sob o Templo de Herodes. Daí se segue que, se os fundadores dos Mandeanos tivessem sido os autores dos manuscritos que os Templários desenterraram, a terra mística chamada Mérica poderia ter sido registrada em seus escritos secretos. Por certo, parecia ser possível que os Templários tivessem aprendido nesses manuscritos sobre uma terra maravilhosa sob a luz da brilhante e solitária estrela chamada Mérica e, assim sendo, havia uma grande possibilidade de que tivessem navegado rumo oeste para encontrá-la. A crença popular é a de que o continente americano tirou seu nome do nome cristão de Ameriggo Vespucci, um rico armador de Sevilha que só navegou para o Novo Mundo em 1499, sete anos depois de Colombo. Agora já se aceita que muitos europeus e asiáticos chegaram a esse continente muito tempo antes dessas famosas e destacadas expedições financiadas pelos espanhóis. Talvez descendentes dos Templários tenham estado envolvidos no batismo do novo continente: talvez os próprios Templários estivessem em busca de uma terra sob a estrela do entardecer que eles haviam conhecido em suas descobertas como Mérica. Navios Templários eram construídos para enfrentar as mais difíceis condições, inclusive as tempestades da Baía de Biscáia, e sua navegação, por meio de astrolábios e mapas astrológicos, era tudo menos grosseira. Uma viagem transatlântica não era apenas possível: se eles tivessem conhecimento da terra da estrela da manhã, a terra de Mérica, também teriam o motivo perfeito tanto para encontrar o Novo Mundo quanto para abandonar o Velho - sobrevivência, já que sua Ordem havia sido declarada herética em 1307. À luz de todas essas novas evidências, Chris sentiu que era razoável especular se alguns Templários não teriam navegado rumo oeste para o desconhecido, sob sua bandeira marítima, a do crânio com dois ossos. Podem ter encontrado a terra da estrela do oeste, pelo menos cento e oitenta e cinco anos antes de Colombo. A idéia parecia fazer muito sentido, mas a evidência ainda era extremamente circunstancial. Chris estava trabalhando na interpretação das complexidades dos cultos do século I, e quando chegou à idéia de que poderia haver uma ligação entre Mérica e América, que ele considerou muito significativa, mesmo reconhecendo que estava muito longe de qualquer coisa que parecesse uma prova. Chris se recorda: "Lembro de estar seguro de que em nossa próxima reunião Robert ficaria muito excitado com a possibilidade de haver uma origem Nazoreana para o nome do continente americano. Não falei nada e esperei que ele terminasse de ler o meu rascunho do capítulo. Ele inseriu meu disquete em seu computador e perscrutou a tela. Quando chegou no trecho importante, sua reação foi um silêncio de pedra. Fiquei muito desapontado: se Robert não achasse essa hipótese interessante, ninguém mais acharia". Robert se levantou e murmurava para si mesmo enquanto procurava nas pilhas de livros que enchiam cada espaço do chão de seu escritório. Ele tremeu quando vários volumes da História da Maçonaria de Gould caíram ao chão, e então sorriu quando do meio deles tirou um livrinho muito novo e brilhante. Ele folheou as páginas do mapa rodoviário das Ilhas Britânicas e apontou com o dedo a região sul da Escócia. "Que tal um passeio?", ele me perguntou. ''Para onde você está apontando?", eu perguntei, tentando não parecer muito frustrado, "Edimburgo?". ''Não. Alguns quilômetros para o sul, a aldeia de Roslin, onde fica a Capela de Rosslyn". Foi só dois dias depois que partimos para Edimburgo, e Robert ainda não me havia explicado onde ou porque estávamos indo. Desde o início de nosso trabalho havíamos dividido as responsabilidades exatamente no período Templário, com Robert se concentrando nos eventos a partir do século XIII e eu em tudo antes dessa data. Enquanto eu investigava o século I em Jerusalém, Robert estava focado na Escócia do século XIV: Visitas anteriores ao território escocês haviam revelado um grande número de sepulturas Templárias e Maçônicas, o que demonstrava o quanto esse país havia sido importante no desenvolvimento da Maçonaria. Mas o que mais Robert teria encontrado? Usamos o tempo de nossa viagem para discutir várias partes de nosso trabalho, mas quando nos aproximamos da fronteira escocesa em Gretna, eu fiquei impaciente e pedi que Robert me explicasse qual seria a nossa missão nesse dia. "Certo", ele me disse com um sorriso. ''Você sabe que eu tenho pesquisado a história da família Sinclair e a capela que William St Clair construiu no que hoje é a aldeia de Roslin". "Sim", disse eu friamente, indicando que ele devia ir direto ao ponto sem nenhuma longa introdução. "Bem, eu não havia registrado quando li pela primeira vez, mas há alguma coisa muito estranha sobre a Capela de Rosslyn que combina com a sua idéia de Mérica". Robert tinha toda a minha atenção, e continuou: "O edifício é todo decorado por dentro com esculturas de significado maçônico... e botânico. Arcos, lintéis, bases de pilares e similares são completamente cobertos com detalhes decorativos e altamente detalhados de plantas, com muitas espécies diferentes representadas". "Isso certamente é fascinante, mas a ligação com a minha descoberta Mandaeana não está muito clara". "O ponto é..." Robert hesitou para aumentar o suspense. "Essas plantas incluem folhas de babosa e espigas de milho". A importância desse fato girou em minha mente por alguns segundos. "Em que data você disse que a capela foi construída?". "É exatamente esse o ponto!" Robert disse, batendo no joelho. "O primeiro buraco foi aberto em 1441, e todo o trabalho estava completado quarenta e cinco anos mais tarde, em 1486. Essas esculturas devem ter sido postas em seu lugar por volta de 1470". "Recorde-me, por favor, quando exatamente Colombo descobriu a América?" Eu precisava confirmar o que minha memória me dizia. . "Ele aportou nas Bahamas em 1492, em Porto Rico em 1493, em Cuba em 1494, mas na verdade nunca pôs os pés no continente". Robert continuou antes que eu fizesse a próxima pergunta. "E, sim, a babosa e o milho índio eram plantas do Novo Mundo que supostamente não eram conhecidas fora desse continente até pelo menos o meio do século XVI". Eu encarei Robert enquanto a inevitável conclusão me assomava. Mesmo se Colombo tivesse descoberto essas plantas em sua primeira e breve viagem, a Capela de Rosslyn havia sido terminada seis anos antes, e, portanto, as esculturas de milho e babosa tinham sido feitas quando Colombo ainda era um menino de escola. Alguém deve ter viajado até a América e recolhido essas plantas bem antes que Colombo supostamente descobrisse o Novo Mundo. E a prova está presente em um edifício Templário/Maçônico! Chegamos à capela por volta do meio-dia, ambos sentindo-nos excitados e honrados por estar em lugar tão especial. Olhando em volta do interior da capela pudemos ver o teto abobadado feito de pedra sólida com um metro de espessura que tomava todo o comprimento da capela, e nos maravilhamos com a pesada decoração. Passeando pela capela logo descobrimos as plantas pelas quais estávamos procurando, espigas de milho arqueadas sobre uma janela na parede sul e a planta da babosa em um lintel conectado a essa mesma parede. Em outros lugares pudemos ver uma série de outras plantas perfeitamente reconhecíveis, e em todas as partes havia manifestações do "homem verde", a figura céltica que simboliza a fertilidade. Uma centena de "homens verdes" já foi detectada, mas crê-se que muitos mais espreitam sutilmente por entre a vegetação. A Capela de Rosslyn é um lugar interessante e mágico. Une o Cristianismo ao folclore celta, à Maçonaria e ao Templarismo. Sabíamos com certeza que essa não seria nossa última visita a esse edifício único. ************************** Tudo o que havíamos descoberto sobre os Essênios/ Nazoreanos parecia exibir flagrantes conexões com a Maçonaria: a inesperada revelação de que uma seita descendente dos Mandeanos ainda existe no Iraque trazia ainda maiores paralelos. Uma linha de pesquisa havia inesperadamente nos colocado em um edifício da Escócia que exibia tantalisantes imagens Templárias/Maçônicas. Mas para entender os Nazoreanos em sua totalidade, sabíamos que tínhamos que voltar no tempo o máximo possível para desenrolar os fios iniciais de nosso mistério: precisávamos descobrir onde os elementos-chave da religião haviam originalmente surgido. Conclusão Tendo descoberto que os Qumranianos e o próprio Jesus tinham fortes ligações com os Templários e a Maçonaria, agora desejamos descobrir a origem de suas crenças e rituais. O povo de Qumran era uma destilação de tudo o que pode ser descrito como judeu, e ainda assim havia muito mais em sua estrutura e sistema de crenças do que pode ser atribuído ao Antigo Testamento. Uma vez mais ficamos sem saber qual seria o próximo passo em nossa pesquisa. Assim como tivéramos que dar um salto de volta aos tempos de Jesus na esperança de encontrar uma explicação para as crenças templárias, agora teríamos que voltar mais uma vez no tempo para reconstruir a teologia dos judeus. Os rituais da Maçonaria podem ter sido inventados pelos Qumranianos, mas nós sentimos que de alguma forma eles eram muito, muito mais antigos. Decidimos recuar no tempo o máximo possível para, daí em diante, podermos melhor compreender as paixões da mente Qumrânica.

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