terça-feira, 21 de março de 2017
CAPÍTULO SEIS - E no Princípio O Homem Criou Deus o Jardim do Éden
Tendo decidido que precisávamos entender a história e a evolução das crenças religiosas judaicas, voltamos nossa atenção para uma coisa vital a todas as civilizações - a língua. Há evidência de que muitas línguas do sub-continente Índico, da Ásia ocidental, da Europa e partes da África do Norte nascem de uma fonte antiga e comum. Os termos comuns a centenas de línguas provam esse ponto. A nós pareceu que a mesma coisa poderia ser aplicada à religião, porque quando as pessoas se espalharam, levando consigo suas línguas, é provável que tenham levado também suas lendas e seus deuses. As ligações entre religiões aparentemente diferentes podem, acreditamos nós....... revelar elos tão claros quanto os que os filólogos encontraram. As origens da língua vem sendo buscadas por centenas de ano. Muitos dos povos antigos acreditavam que a língua tinha origem divina, e que se fosse possível descobrir a mais antiga ou mais pura forma de uso da língua, se encontraria o léxico dos deuses. Muitas "experiências" foram feitas para encontrar essa língua primeva, inclusive por Psantik I, Faraó do Egito no século VII a.C., que criou dois bebês sem que ouvissem qualquer palavra falada, na esperança de que eles instintivamente desenvolvessem a língua pura e divina. Diz-se que os bebês vieram a espontaneamente falar o frígio, uma antiga língua da Ásia Menor. A mesma experiência foi feita dois mil anos mais tarde pelo rei Jaime IV da Escócia, com a língua falada sendo, de forma tão inconvincente quanto antes, o hebraico. O idioma original, de que todas as línguas subseqüentes nasceram, foi denominado, sem poesia nenhuma, de proto-indo-europeu. Ele mostra ser a fonte comum da qual saíram o urdu, o francês, o punjabi, o persa, o polons, o tcheco, o gaélico, o grego, o lituano, o português, o italiano, o norueguês arcaico, o alemão e o inglês, entre muitas outras. Nos é impossível saber a quanto tempo o proto-indo- europeu foi um idioma vivo e único, porque nosso conhecimento detalhado do passado se apóia no grande passo evolucionário seguinte, nascido da língua, e que é a palavra escrita. O Livro do Gênese foi originariamente escrito há mais ou menos 2700 anos, bem depois da época do rei Salomão. Apesar de ser muito antigo, sabemos agora que a sua escrita se iniciou pelo menos o dobro de anos antes, em uma terra chamada Suméria. A Suméria é aceita como o berço de toda a civilização. Sua escrita, teologia e técnica de construção estabeleceram as fundações de todas as culturas posteriores no meio-oeste e na Europa. Apesar de ninguém estar seguro de onde os sumérios vieram, acredita-se que surgiram em uma terra chamada Dilmun, que pode ser o que hoje se conhece como o Bahrein, na costa oeste do Golfo Pérsico. Por volta de 4000 a.C. eles tiveram grande atividade ali no sul do Iraque, entre os dois rios Eufrates e Tigre. As amplas planícies aluviais eram uma rica terra agricultável na qual se cultivava e colhia e se criava gado, e os dois rios eram abundantes em peixes. No quarto milênio a.C. a Suméria tinha uma cultura bem estabelecida, com cidades, artesãos especializados, obras de irrigação cooperativa, centros cerimoniais e registros escritos. Culturas urbanas são muito diferentes das encontradas em aldeias, já que a concentração de grande número de pessoas demanda uma estrutura social sofisticada, com a maior parte da força de trabalho removida do trabalho agrícola sem que haja perda de produtividade. Os sumérios desenvolveram excelentes técnicas agrícolas, e se calcula através de textos cuneiformes que sua produção de trigo há 4.400 anos atrás pode comparar-se favoravelmente com a dos modernos campos de trigo do Canadá! Além de estabelecer uma agricultura altamente eficiente e uma série de indústrias básicas como a de tecidos e cerâmica, os sumérios inventaram novos materiais, inclusive o vidro, e se tornaram excepcionais vidreiros, além de metalúrgicos em ouro, prata, cobre e bronze. Mostraram ser excelentes trabalhadores da pedra, e criadores de delicado trabalho de filigrana e carpintaria, mas sem dúvida a mais importante invenção desse povo fascinante e competente foi a roda. Suas conquistas como construtores são impressionantes: as muitas importantes inovações incluem o pilar, que foi diretamente inspirado no tronco da tamareira. Suas mais antigas cidades eram de edifícios feitos de tijolos de lama: esses ruíam depois de algumas gerações, e logo outro edifício era construído por cima do antigo. No decorrer dos milhares de anos de civilização Suméria, o processo de ruína, colapso e reconstrução criou altos montes que chamamos de "teus", muitos dos quais com até dezoito metros de altura, ainda existem. A riqueza dos sumérios atraía viajantes das terras mais distantes, buscando negociar seus bens simples em troca da maravilhosa produção dessa civilização tão avançada. Em resposta a isso, os sumérios desenvolveram toda uma classe de negociantes internacionais, com grandes armazéns para importação e exportação. Os sumérios estavam em posição excelente para exigir condições vantajosas para seus negócios, e é provável que a população tivesse acesso aos mais exóticos e esplêndidos bens de todos os cantos do mundo conhecido. Muitas de suas matérias-primas eram trazidas pelos rios em barcos, que costumavam ser vendidos ou então desmontados para que se aproveitasse sua madeira valiosa. A única árvore nativa era a tamareira, e sua madeira era flexível demais para ser usada em construção. A Suméria não tinha pedreiras, por isso quando queriam fazer algum edifício em pedra, blocos cortados eram enviados de barco pelos rios e levados através de seu elaborado sistema de canais até o lugar desejado. Os barcos não podiam navegar rio acima, portanto, os bens manufaturados que pagavam a compra de matéria prima tinham que ser carregados para o norte em lombo de burros, já que o cavalo ainda era desconhecido na Suméria. As cidades da Suméria. Havia vinte cidades nas terras da Suméria, as mais importantes sendo Ur, Kush, Eridu, Lagash e Nippur. Cada uma delas era politicamente autônoma, com um rei e um corpo sacerdotal. Para os sumérios a terra era de Deus, sem cujo poder de procriação toda a vida terminaria: o rei era um deus terreno e menor cuja responsabilidade era assegurar a produtividade de sua comunidade. No centro de cada cidade estava a casa de seus deuses - o Templo, do qual os sacerdotes controlavam todos os aspectos da vida em comunidade, incluindo a distribuição da justiça, administração da terra, ensino científico e teológico e ritual religioso. As escolas, conhecidas como "edubba", produziam as classes profissionais que iniciavam a educação em tenra idade. Esperava-se que se tornassem proficientes na escrita e que estudassem uma gama de assuntos que incluía matemática, literatura, música, lei, contabilidade, supervisão e almoxarifado. Seu desenvolvimento era orientado para produzir cultos líderes de homens. Apesar de elementos da língua suméria permanecerem sendo usados ainda hoje, não foram as origens do proto-indoeuropeu: na verdade é uma das poucas línguas completamente desconectadas dessa língua raiz. Nosso interesse na Suméria era perceber se os elementos de sua teologia haviam sido a fonte comum das crenças religiosas que se espalharam da mesma maneira que a língua, desenvolvendo-se para adaptar-se às preferências locais enquanto se deslocava, mas mantendo uma essência identificável. Das ruínas de Nippur os arqueólogos recuperaram muitos milhares de tabletes que registram a história de seu povo. Sua escrita mais antiga se iniciou, pelo que sabemos, por volta de 3500 a.C. e praticamente da mesma maneira como a língua se desenvolveu. Objetos como a cabeça, a mão e a perna foram os primeiros itens a serem identificados. Eram pictogramas facilmente reconhecíveis com um perfil dos objetos, mas rapidamente palavras mais simbólicas foram criadas. O símbolo para um homem era um pênis ejaculante, com toda a aparência de uma vela. Daí se desenvolveu a palavra para escravo, com três formas triangulares, representando montanhas, sobrepostas ao formato da vela. Isso indicava um estranho: a Suméria não tinha montanhas, e seus únicos residentes não-sumérios eram os escravos. As marcas que eles traçavam eram feitas enfiando um graveto em argila crua, e isso criava uma endentação e depósito mais fortes exatamente onde o instrumento iniciava ou terminava uma linha. Esse efeito triangular no fim de cada linha foi mais tarde traduzido como uma serifa, essas pequenas marcas que se vê no final das letras dessa página. Não é apenas o tratamento estilístico de nossas letras que veio das terras da Suméria: nosso próprio alfabeto lhe deve muito. A letra ''N', por exemplo, é derivada da imagem de uma cabeça de boi, que era um triângulo com dois de seus lados estendidos para dar a impressão de chifres. Isso foi elaborado primeiro pelos fenícios, então entrou no grego primitivo como uma cabeça de boi vista de lado, pois quando os gregos desenvolveram suas letras maiúsculas, o A foi girado outros noventa graus, tornando-se "alfa", uma letra muito similar ao nosso A moderno, que é essencialmente uma cabeça de boi com os chifres para baixo. Ainda hoje as línguas ocidentais possuem algumas palavras que são de origem puramente sumérias, como álcool, cana, gesso, mirra e açafrão. Além de nos legar, entre outras coisas, a roda, o vidro, nosso alfabeto, as divisões do dia, a matemática, a arte da construção, os sumérios nos deram outra coisa: Deus. Também nos proveram com as mais antigas histórias escritas, e como Maçons estávamos particularmente interessados nas referências sumérias a Enoque, que é tão importante na cultura maçônica, e na história suméria do Grande Dilúvio que aparece de maneira tão intensa no ritual maçônico do grau de Ark Mariners. Etimologistas nos mostraram que a história do Jardim do Éden no Livro do Gênese é a história da Suméria: e mais ainda, cidades como Dr, Larsa e Haram, mencionadas no Livro do Gênese, ficavam em território sumério. Assim, o Gênese nos conta a história da Criação: No princípio Deus criou o céu e a terra. Ora, a terra era vazia e vaga, as trevas cobriam a face do abismo, e o vento de Deus pairava sobre as águas. E Deus disse: "Haja luz", e houve luz. Deus chamou à luz dia e às trevas noite... E Deus disse: "Haja um firmamento no meio das águas e que ele separe as águas das águas". Deus fez o firmamento, que separou as águas que estão sob o firmamento da águas que estão sobre o firmamento... E Deus disse: "Que as águas que estão sob o céu se reúnam em uma só massa, e que apareça o continente". E assim se fez. E Deus chamou ao continente, terra e à massa das águas, mares... e Deus disse: "Que a terra verdeje de verdura, ervas que dêem semente e árvores frutíferas que dêem, sobre a terra, frutos que contenham a sua semente..." Comparemos isso com um excerto de uma narrativa babilônica da Criação denominada Enuma Elish, tirada de suas primeiras palavras, "quando no alto". Foi escrita em babilônio e sumério pelo menos mil anos antes do Gênese e sobrevive praticamente completa em sete tabletes cuneiformes: Toda a terra era mar. Então houve um movimento no meio do mar. Nesse instante Eridu foi feita. .. Marduk deitou um papiro na face das águas. Formou a poeira e derrapou-a ao lado do papiro. Para que ele pudesse levar os Deuses a morar na morada que seus corações desejavam. Ele formou a humanidade. Com ele a deusa Aruru criou a semente da humanidade. As bestas dos campos e as coisas vivas dos campos Ele formou. O Tigre e o Eufrates ele criou e colocou em seu lugar: Seu nome ele proclamou de maneira divina. A relva, os juncos e as urzes, o papiro e a floresta ele criou. As terras, as charnecas e os pântanos, a vaca selvagem e sua cria, o carneiro do rebanho, pomares e florestas, o cabrito e o cabrito da montanha... O Senhor Marduk ergueu um dique ao lado do mar... papiros ele formou, árvores ele criou, tijolos ele prensou, edifícios ele ergueu, casas ele fez, cidades ele construiu. .. Erech ele fez... O épico mesopotâmico da Criação é sem dúvida a fonte da lenda da Criação como no Gênese, e lá se atribui a Deus todas as coisas boas que vieram a existir pela mão dos incríveis sumérios. As referências a edifícios sendo erguidos por Deus não permaneceram na história israelita, pois a natureza nômade dos judeus fez com que as únicas cidades em que eles tinham vivido quando o Livro do Gênese foi escrito fossem as cidades erguidas por outros, muitas vezes tomadas depois que seus habitantes originais haviam sido passados pelo fio das espada. O deus do Gênese, Yahweh, não veio a existir senão centenas de anos depois que esses tabletes cuneiformes foram gravados. De acordo com muitos peritos, os deuses das civilizações posteriores são desenvolvimentos dos deuses sumérios da fertilidade e das tempestades. Será isso verdade? Com certeza um deus da tempestade teve papel muito importante na Suméria e na lenda de Noé. Os sumérios viam a Natureza como uma entidade viva, e os deuses e deusas eram concretizações das forças dessa terra viva; cada um tinha um papel a cumprir nessas forças da Natureza. Algumas deidades eram responsáveis pela fertilidade da terra e de seu povo: outras eram responsáveis pela organização das tempestades que aconteciam. Era obviamente muito importante para a continuidade desse povo que os favores desses deuses da fertilidade fossem ativamente buscados: igualmente, dados os devastadores efeitos de suas ações, os deuses das tempestades tinham que ser aplacados para preservar a maneira suméria de viver. Teria sido um deus da tempestade com poderes sobre o clima quem causou o Grande Dilúvio, que deu início à história de Noé, e como Maçons estávamos naturalmente interessados em deuses da tempestade e dilúvios, já que a Ordem devota todo um grau adicional- o grau de Ark Mariners - com um ritual completo e detalhado que preserva a história do Capitão Noé e a lenda do Dilúvio. O maior problema com que o povo da Suméria tinha que lidar era a inundação das planícies baixas através das quais o Tigre e o Eufrates fluíam para o sul até o mar. Periodicamente essas inundações eram desastrosas, mas em uma determinada ocasião ela deve ter sido inesperadamente cataclísmica, assim passando a fazer para sempre parte do folclore. Se houve ou não houve um construtor de barcos chamado Noé não nos é dado saber, mas podemos estar bem seguros de que o Grande Dilúvio realmente aconteceu. Análises mais profundas do Gênese, especialmente da genealogia de Set e Caim, claramente levam a história da criação até a Suméria. Há listas em Larsa com reis sumérios que nomeiam dez reis que reinaram antes do Dilúvio, e dão a duração de cada um de seus reinados, que vão de 10.000 a 60.000 anos. Essa lista de Larsa termina com as seguintes palavras: "Após o Dilúvio os reis nos foram enviados do alto". Isso sugere que um novo começo foi estabelecido logo depois do Dilúvio. O último nome na segunda lista de Larsa é Ziusundra, que é outro nome para Utanapishtim, o herói da história babilônica do Dilúvio, escrita no décimo primeiro tablete da Epopéia de Gilgamesh. O sétimo rei dessa lista suméria é tido como possuidor de sabedoria especial em assuntos relativos aos deuses e como sendo o primeiro homem a praticar a profecia: esse sétimo nome é Enoque, de quem as Escrituras dizem ter "andando com Deus", e que na tradição judaica posterior é tido como tendo sido levado para o Céu sem ter morrido. Parece-nos haver pouca dúvida de que os escritor do Gênese estava usando material sumério que havia sido absorvido pela tradição judaica. Os elos entre a religião dos judeus e a antiga terra da Suméria são claros, mas a situação se torna ainda mais intrigante quando encaramos a razão pela qual o escritor original, ou o Yahwehista que usou esse material, legou tanta longevidade aos descendentes de Set anteriores ao Dilúvio. Suspeitamos que foi para enfatizar o contraste entre as condições de vida antes e depois do julgamento divino que o Dilúvio representou. Há, porém, uma outra razão provável. Já foi sugerido por alguns estudiosos que os números astronômicos nas listas de reis sumérios podem ser produto de especulações astrológicas que aplicam medidas derivadas da observação das estrelas para calcular os períodos míticos de reinado. Da mesma forma, os primeiros escritores judeus podem ter arranjado esses números na lista para que correspondessem à cronologia que decretava um número exato de anos entre a Criação e a fundação do Templo de Salomão, dividindo esse período em épocas, a primeira das quais, da Criação até o Dilúvio, teria durado 1656 anos. Ur, hoje famosa por seu grande zigurate, era tida no terceiro milênio a.c. como uma das grandes cidades-estado do mundo. Os lados norte e oeste dessa cidade tinham largos canais que permitiam a aproximação de grandes navios que vinham do Eufrates e do mar, muito mais próximo a ela há 4400 anos que agora. Uma prancha de conhecimento lista ouro, minério de cobre, madeiras rijas, marfim. pérolas e outras pedras preciosas em apenas uma carga. Ur esteve em seu apogeu sob Ur-Namma por volta de 2100 a.C., quando grande parte da cidade foi reconstruída e desenvolvida, contando com uma população de pelo menos 50.000 pessoas. O grande zigurate foi aumentado, incrustado com mosaicos e plantados arbustos e árvores. Em seu topo ficava o templo da deidade da cidade - Nanna, deusa da Lua. Em 2000 a.C. os habitantes incorreram na ira de seus deuses e, assim como outras cidades sumérias, e Ur foi saqueada pelos Elamitas. Essa derrota, como todas as outras, foi imputada ao povo por ter falhado com seu deus de alguma maneira, tendo ele em troca deixado que ficassem sem proteção contra seus inimigos. Essa destruição foi descrita por um escriba que testemunhou a terrível ocasião: Em todas as ruas, onde costumavam passear quando vivos, corpos mortos estavam caídos: em seus lugares, onde as festividades da terra aconteciam, as pessoas estavam amontoadas. Templos e casas foram arrasados, valores confiscados e muitos dos que não morreram transformados em escravos. A cidade sobreviveu, mas nunca verdadeiramente recuperou sua antiga glória e no século XVIII a.C. já se tinha transformado em uma cidade relativamente pequena. Durante esse período de declínio as relações entre os sumérios e seu panteão de deuses tornaram-se tensas, e o conceito de deuses pessoais ganhou importância. Esses deuses pessoais, que normalmente nem nome tinham, se relacionavam diretamente com cada indivíduo - mais ou menos o que chamaríamos de anjo da guarda. Uma pessoa herdava seu deus de seu pai, portanto, quando alguém dizia que "adorava o deus de seus pais", ele não estava fazendo uma declaração meramente institucional sobre a importância desse deus, mas sim expressando sua identidade familiar individual - seu direito por nascimento. Esse deus pessoal cuidaria dele e levaria seu caso a deuses superiores, se necessário, mas em troca disso exigia atenção e obediência. Se o homem se comportasse mal seu deus podia abandoná-lo. O homem era, é claro, o árbitro do que era certo e errado: se sentisse que tinha errado temeria a reação de seu deus, mas se tivesse feito alguma coisa que todos, menos ele próprio, considerassem perverso, ele estava a salvo. Essa parece ser uma excelente maneira de controlar a maior parte do mau comportamento, seguindo a linha Grilo Falante, em sua frase lapidar no filme Pinóquio: "Deixe que a sua consciência seja seu guia". Em algum ponto do período de declínio entre 2000 e 1800 a.C. um homem chamado Abrão decidiu abandonar a cidade de Ur e seguir para o norte na procura de uma vida melhor. A direção que ele escolheu era praticamente oposta à de Dilmun, a terra sagrada a que seu povo aspirava, por ser a terra de seus ancestrais. Em algum ponto da história judaica Abrão se transformou em Abraão, o pai do povo judeu. Estava claro para nós que as idéias que ele levou consigo de Ur deviam ser parte muito importante daquilo que estávamos precisando compreender. Estávamos olhando para épocas muito antigas na esperança de ganhar uma maior compreensão de Abraão e de seu deus, já que junto representavam o primeiro encontro entre um homem de verdade (o oposto de um personagem mítico) com a deidade que mais tarde se tornou o deus dos judeus. Nenhum de nós sabia de muito antemão sobre as terras da Suméria: na verdade todo esse período da história era totalmente desconhecido até o meio do século XIX quando P. E. Botta, um arqueólogo francês, começou a fazer importantes descobertas na área hoje conhecida como Mesopotâmia. A expansão da cultura suméria deve ter ocorrido há mais de 5000 anos. Um dos melhores exemplos desse tipo de desenvolvimento cultural advindo de uma origem norte-africana/sudoeste-asiática são os celtas, que atravessaram a Europa central e finalmente se estabeleceram em áreas litorâneas do oeste da Espanha, Bretanha, Cornualha, Gales, Irlanda e Escócia, onde alguns grupos sociais ainda se mantêm geneticamente puros graças à virtual ausência de casamentos com outras pessoas fora de seu grupo. Seu artesanato de intrincados nós mostra uma forte relação com a arte do Oriente Médio e, houvesse alguma dúvida, as análises de DNA de celtas contemporâneos que vivem em comunidades remotas mostrou ser idêntico ao de grupos tribais do Norte da África. Ninguém sabe verdadeiramente por quanto tempo a Suméria existiu, mas pelos registros que consultamos parece razoável crer que tudo o que sabemos da Suméria aconteceu depois do Grande Dilúvio: muitas das cidades e aldeias eram provavelmente muito maiores antes que o Dilúvio as tivesse apagado da face da terra. Deus, o Rei, os Sacerdotes e os Construtores O Dilúvio é lembrado como um acontecimento muito antigo, até mesmo para aqueles que hoje consideramos mais antigos que nós. A Bíblia conta a história de Noé sobrevivendo com sua família e animais variados. Em um mito mesopotâmico do Dilúvio, o rei Utanapishtim salva tanto sementes quanto animais da enchente destruidora, enviada por Enlil para aterrorizar aos outros deuses. Na mitologia grega Deucalião e sua mulher Pirra constroem uma arca para escapar da devastadora ira de Zeus. Intuir não era mais nosso único caminho: evidências de uma grande enchente há 6000 anos foram encontradas nas proximidades de Ur, onde uma camada de barro depositado pelas águas com dois metros e meio de espessura cobre uma área de mais de 100.000 quilômetros quadrados. Isso representa toda a largura do vale que fica entre o Tigre e o Eufrates, do norte da moderna Bagdá até a costa do Golfo Pérsico, incluindo o Iraque, o Irã e o Kuwait. Para deixar tal depósito a enchente deve ter sido de proporções gigantescas, e certamente teria arrastado qualquer cultura humana no que mais tarde foi o território da Suméria. Essa datação da enchente explica porque os sumérios parecem ter surgido do nada por volta de 4000 a.c. - virtualmente da noite para o dia em termos arqueológicos. Um cultura sofisticada e completamente desenvolvida, sem nenhuma evidência histórica de suas origens em qualquer outro lugar, é verdadeiramente muito misteriosa. Mas é um mistério que tem uma solução simples. A resposta é que o período inicial, talvez o maior, da história da Suméria foi completamente perdido nesse cataclisma, e os sumérios tiveram que reconstruir tudo das fundações para cima. O maior problema que confrontava esse povo remanescente era encontrar sobreviventes que tivessem sido "guardiões dos segredos reais", aqueles que tivessem sido sumo sacerdotes dos templos desaparecidos e, portanto, ainda tivessem o poder da ciência, especialmente o da ciência da construção. Alguns devem ter sobrevivido, talvez seus conhecimentos dos mistérios ocultos da natureza e da ciência lhes tivessem garantido aviso suficiente sobre a enchente que estava por vir, dando-lhes tempo para fugir para terras mais altas ou quem sabe construir uma arca. Os segredos e simbolismo da construção antecedem claramente o Dilúvio, e nós cremos que a súbita e urgente necessidade de reconstruir "o mundo todo" criou uma nova visão de mundo baseada no esquadro, no nível e nas fundações perfeitamente retas de uma nova ordem. Não estamos dizendo que isso era Maçonaria de alguma maneira, mas que deu início à ligação entre a ciência da construção e o conceito de ressurreição, já que o mundo havia "morrido" e uma vez mais seria erguido das águas da Criação. Muitas pessoas podem ter achado a reconstrução da Suméria um desafio muito grande, e deixado a região em busca de um novo lar longe do barro macio e úmido que cobria sua terra. Com eles levaram sua língua que tinha uma estrutura gramatical tão sofisticada quanto a de muitas línguas modernas. E a isso juntaram seu conhecimento de agricultura, a história de seus edifícios, seus deuses e seus mitos. Para povos menos avançados da Europa e Ásia eles devem ter parecido como se fossem deuses. Nosso problema para escrever a história de nossa investigação era a amplitude dos tópicos sobre os quais devíamos nos debruçar, todos aparentemente não-relacionados, mas na verdade fortemente ligados uns aos outros. Por vezes nossos estudos ficavam enterrados sob material que ia do início dos tempos aos dias de hoje. Organizar tudo o que havíamos descoberto em algum tipo de seqüência inteligível provou ser um desafio, mas quanto mais informações coligíamos mais claro se tornava o quadro. Isso foi especialmente verdadeiro em relação aos assuntos da Suméria. Quanto mais procurávamos pelas suas influências sobre outras culturas, mais encontrávamos. Este livro não pode lidar com todo esse material, mas gostaríamos de dar um exemplo do quão extraordinária essa cultura foi. O conceito de pilar ou montanha sagrada conectando o centro da Terra com o Céu (paraíso) é um conceito sumério que encontrou espaço em muitos sistemas de crença, inclusive os do Norte da Ásia. Os tártaros, mongóis, e os povos Buryat e Kalmyk do Norte da Ásia têm uma lenda que diz ser a sua montanha sagrada um edifício formado por sete andares, cada um menor que o anterior em sua subida até o céu. Seu ápice é a estrela polar, "o umbigo do céu", que corresponde à base embaixo, "o umbigo da terra". Essa estrutura não descreve nenhum edifício que essas tribos conheçam, mas parece ser a descrição de um zigurate sumério, que foi criado como uma montanha artificial. Estamos certos de que essa conexão não é uma coincidência porque o nome que esses nômades dão a essa torre mítica e sagrada é simplesmente... Sumer43! Acreditasse que todos os templos sumérios seguiam esse formato, o mais famoso deles sendo conhecido como a Torre de Babel, o grande edifício estreitamente ligado aos descendentes de Noé. Essa torre foi erguida na Babilônia por Nabopolassar e era um zigurate de sete andares com noventa metros de altura e um altar para o deus Marduk em seu topo. Como a história do Dilúvio, a história da Torre de Babel foi escrita no Livro do Gênese combinando versões diferentes de antigas lendas, permitindo que os autores encontrassem algum sentido em sua visão de mundo. O Capítulo l0 do Gênese lida com o povoamento dos países da Terra após o Dilúvio, explicando como os filhos de Noé haviam dado início a várias tribos em cada parte do mundo. Para os hebreus o mais importante desses filhos é Sem, que deu origem aos povos conhecidos como semitas (no curso de seus impressionantes seiscentos anos de vida) entre os quais, é claro, estão incluídos os judeus. O capítulo seguinte do Gênese conta a história da Torre de BabeI, iniciando com a afirmação de que antes só existia uma língua. Começa assim: Todo mundo se servia de uma mesma língua e das mesmas palavras. Como os homens emigrassem para o Oriente, encontraram um vale na terra de Senar (hebreu para Suméria) e aí se estabeleceram. Disseram um ao outro: "Vinde, façamos tijolos e cozamo-los ao fogo!". E o tijolo lhes serviu de pedra, e o betume, de argamassa. E eles disseram: "Vinde! Construamos uma cidade e uma torre cujo ápice penetre nos céus! Façamos nosso nome famoso e não sejamos dispersos por sobre toda a terra!". E Yahweh desceu para ver a cidade e a torre que os Filhos de Adão tinham construído. E Yahweh disse: "Eis que todos constituem um só povo e falam uma só língua. Isso é o começo de suas iniciativas. Agora, nenhum desígnio será irrea1izável para eles! Vinde! Desçamos! Confundamos sua língua para que não mais se entendam uns aos outros!". Yahweh os dispersou dali por toda a face da Terra, e eles cessaram de construir a cidade. Essa pequena racionalização explicou aos judeus porque as pessoas falavam línguas diferentes e como era razoável, já que o mundo havia sido uma vastidão deserta antes que Deus decidisse repovoá-lo através da linhagem de Noé, que Yahweh prometesse a terra de Canaã aos filhos de Sem sem pensar no povo que estava lá antes deles. De seu início na Suméria, "Deus" tomou caminhos diferentes, pelos vales do Nilo, pelo Vale do Indo e possivelmente até mesmo o rio Amarelo, dando início às grandes religiões do mundo. Tudo isso aconteceu em tempos muito antigos e uma das últimas variações da teologia suméria foi o Deus dos judeus. A Figura de Abraão, O Primeiro Judeu. Assim que Abraão tomou a decisão de deixar Ur, sua direção natural foi subir para o norte, seguindo os dois rios em busca de um novo lar na qual pudesse estar em paz com seu Deus. O Antigo Testamento nos conta que até que Abraão entrasse em cena os ancestrais de Israel "serviam a outros deuses" (Josué, 24:2), o que dificilmente surpreende, já que Yahweh, o deus dos judeus (e eventualmente dos cristãos) estava tão afastado deles quanto o computador estava para William Caxton! Mesmo depois que Yahweh se deu a conhecer a Seu "povo escolhido", a lealdade a Ele foi no mínimo discutível por pelo menos mil anos - outros deuses com outras descrições tinham a mesma popularidade. Quando chegou a hora dos israelitas registrarem a história e a herança de seu povo eles recordaram de imensos períodos de tempo, e confirmaram as antigas tradições orais simplesmente corrigindo os "detalhes" para que ficassem como deviam ter sido. Abraão foi provavelmente levado a deixar sua cidade nativa de Ur porque os nômades sem deus vindos do Norte que estavam dominando seu dia-a-dia não lhe eram mais aceitáveis: nesse tempo, o descontentamento político sempre se expressava como descontentamento teológico. A Bíblia declara que Abraão se afastou da ordem humana exatamente onde a regra divina havia sido rejeitada. Isso se refere à remoção dos representantes de Deus sobre a Terra - o rei de Ur e seus sacerdotes. Abraão é geralmente considerado como sendo a primeira figura histórica da Bíblia: por contraste, Adão, Eva, Caim, Abel e Noé são representantes de pessoas e tempos que englobam as primitivas idéias e tradições hebraicas relativas aos primórdios da vida sobre a terra. Provavelmente é verdade que ele tenha viajado para a terra de Canaã, morando em uma tenda, e no caminho, tendo pesadas discussões com seu deus pessoal que naturalmente estava viajando com ele desde a Suméria. A descrição de Abraão como sendo um nômade igual a eles faz imenso sentido, já que ele e o povo que com ele viajou não possuíam território que pudessem chamar de seu. Seu próprio nome "hebreu", descobrimos, deriva do termo aparentemente derrogatório "habiru" (por vezes escrito "apiru") usado pelos egípcios para descrever as tribos semitas que vagavam como os beduínos. Pelo que vimos, a história dos judeus alega descendência de Set, o filho de Noé, que já era personagem de uma lenda suméria, e mais tarde de Abraão, que deixou a Suméria para encontrar a "terra prometida". Não havendo nenhum traço desses moradores da Suméria, cremos que muitos sumérios devem ter viajado para o norte e oeste, para tornar-se uma parte significativa dos povos nômades que formaram a nação judaica. No entanto toda a evidência mostra que os judeus não são nem uma raça nem uma nação histórica como eles mesmos vieram a crer, mas sim um amálgama de grupos semitas que encontraram em comum sua ausência de estado territorial, e adotaram uma história teológica baseada em um sub-grupo sumério. Talvez um em cada dez israelitas no tempo de David e Salomão fosse de descendência suméria, e apenas uma pequena fração entre eles fosse de descendentes de Abraão, que pela lógica não foi o único sumério a viajar para Canaã e Egito durante a segunda metade do segundo milênio a.C. Os habirus se destacavam dos nômades que haviam existido no Egito, por serem asiáticos que vestiam estranhos trajes, eram barbados e falavam em língua estrangeira. Considera-se Abraão como a chave para a fundação de Israel, com seu Deus que lhe promete para seu povo um novo lar sobre a terra, mais tarde identificado como a parte norte do Crescente Fértil, denominada Canaã. Dada a natureza das deidades sumérias antes descritas, é de se crer que Abraão tenha sido um sacerdote com um deus particular que era seu companheiro e guardião. O judeu ou cristão comum, ao ler o Antigo Testamento, pode ser desculpado se acreditar que a terra de Canaã foi um presente de direito que Deus fez a Seu povo escolhido, mas a eventual tomada de posse dessa terra "prometida" não foi mais que um roubo. Se as palavras do Antigo Testamento foram tomadas literalmente, então os judeus e seu Deus eram efetivamente muito perversos. Nenhuma justificativa sobrenatural pode explicar o massacre de tantos de seus habitantes originais, que é o que o Antigo Testamento declara ter acontecido. Muitos cristãos hoje em dia têm uma idéia vaga e imprecisa da história de seu Deus, que foi primeiro o Deus dos judeus. Imaginam seu Deus Todo-Poderoso e Amantíssimo prometendo a seu "povo escolhido" uma linda terra, de onde fluem o leite e o mel (uma espécie de Suméria ou Jardim do Éden redescoberto) uma terra chamada Canaã. Mas Canaã não era um lugar selvagem e desabitado onde nobres andarilhos pudessem construir uma nova terra natal, e Yahweh não era nenhum doce benfeitor. Era um deus das tempestades, um deus das guerra. Recentes pesquisas arqueológicas revelaram que os canaanitas cujas terras os israelitas haviam tomado possuíam uma civilização avançada com cidades muradas e inúmeras cidades e aldeias, sofisticados sistemas de produção de alimento, manufaturas e negócios exteriores. Se aceitarmos as histórias da Bíblia, então o Deus original dos hebreus era na realidade um chefe que justificava a invasão, o roubo e o massacre, com muito em comum com Gêngis Khan! Nos impressiona o fato de muitos cristãos acreditarem que o Antigo Testamento seja um registro de eventos históricos, apesar do fato de retratar Deus como um maníaco vingativo e vão, sem nem um pingo de compaixão. Além de ordenar o massacre de centenas de milhares de homens, mulheres e crianças nas cidades que ordenou que fossem tomadas de suas populações nativas, Ele também se tornou conhecido por atacar os próprios amigos sem razão aparente. Em Êxodo 4:24-25 lemos que Yahweh decidiu matar Moisés logo depois de ordenar-lhe que se dirigisse ao Egito para resgatar os israelitas "escravizados". Ele foi convencido a desistir dessa demonstração de mau comportamento por uma mulher que reconheceu Moisés como seu noivo. Isso foi reescrito mais tarde no texto apócrifo Jubileus para tomar a culpa de Yahweh e colocá-la sobre um espírito chamado Mastema, que é apenas a palavra que significa o lado "hostil" da natureza de Yahweh. Ainda assim, fica claro no Livro do Êxodo que Deus matou o filho de Moisés quando bem quis. Apesar de ninguém até hoje ter conseguido datar com precisão as viagens de Abraão, é de aceitação corrente que ele não existiu antes de 1900 a.C. nem depois de 1600 d.C. Se ele tivesse existido na parte mais tardia desse período ele estaria exatamente no meio da ocupação do Egito pelos hicsos, ou "reis pastores", que invadiram e oprimiram os egípcios entre 1786 e 1567 a.C. Havíamos chegado à conclusão de que se houvesse uma conexão entre Abraão e os semitas que ocuparam o Egito a partir de Jerusalém, a história começaria a fazer mais sentido. Abraão havia ido com seus seguidores em direção a Haran, uma cidade da Síria moderna nas barrancas do rio Balikh, que ficava na rota de comércio da Suméria acima do Eufrates. Daí ele levou seu grupo para Canaã, que é o que chamamos de Israel. Em algum ponto da jornada Abraão se preocupou com a possibilidade de ter feito alguma coisa errada, porque sentia que seu deus pessoal estava zangado com ele. Essa provavelmente foi a maneira como ele racionalizou um grande problema ou incidente que tenha afetado seu grupo, traduzindo a calamidade como resultado de seu deus tirar-lhes a proteção por estar zangado. Tão irritado estava o deus de Abraão (o que dá a medida do problema que eles enfrentavam) que ele sentiu que a única maneira de sair dessa seria oferecer seu filho Isaac em sacrifício. Uma passagem em Micah 6:7 mostra como a situação era séria: Devo eu dar meu filho em pagamento pela transgressão, o fruto de meu corpo pelo pecado de minha alma? Duas vezes na história de Abraão as palavras "depois dessas coisas" aparecem: é notório que esses eram os momentos de maior crise, nos quais o deus de Abraão devia ser aplacado. Esse foi um deles. Afortunadamente para o jovem Isaac, o problema deve ter-se suavizado e seu supersticioso pai pode mudar de idéia sobre a necessidade de matá-lo. Existe, no entanto, uma história muito mais tardia que diz ter sido Isaac sacrificado por Abraão mas subseqüentemente ressuscitado, e Isaac, como Jesus Cristo, é retratado como o "servo salvador" que traz salvação e redenção para os outros. Algo em torno de 1000 a 1300 anos se passou antes que a história de Abraão fosse escrita, sendo até então apenas uma lenda tribal perpetuada oralmente durante esse imenso período de tempo. Quando veio a ser escrita pareceu natural que o Deus de Abraão fosse Yahweh, apesar do fato de que Yahweh não ter surgido na história enquanto não chegou o tempo de Moisés. A terminologia de Moisés, quando guiou os israelitas para fora do Egito, dizendo-lhes que sua mensagem vinha do "deus de seus pais", é uma maneira exclusivamente suméria de referir-se ao deus pessoal que pertencia à descendência de Abraão. Enquanto apenas uma pequeníssima parcela desses asiáticos deslocados (protojudeus) pode efetivamente ter sido descendente de Abraão, todos eles nesse momento aceitam essa lenda e a adotam como uma razão nobre e correta para a presente circunstância. Se Moisés tivesse ido à frente desses escravos no Egito e lhes dito que sua mensagem vinha de Yahweh ou de um deus único que cancelava a existência de todos os deuses anteriores, teriam pensando que ele era louco. Diferente de outros personagens, Abraão não se tornou a origem de toda uma tribo que levasse seu nome: em vez disso o seu deus pessoal, o "deus de Abraão", tornou-se a característica distinta de seu futuro povo. Consideramos verdadeiramente fascinante que a psique de um homem da Suméria tenha formado a base para as três grandes religiões monoteístas do mundo. Nessa fase nossa pesquisa já nos tinha levado a um entendimento da concepção de deus pessoal e das pessoas que recebiam sua herança cultural de um homem que havia deixado a cidade suméria de Ur levando consigo seu deus pessoal. Apesar de termos encontrado comentários sobre uma possível cerimônia de ressurreição ligada a Isaac, o filho do pai dos judeus, essa história parece ter-se originado muito tempo depois. Não encontramos nenhum elo com a Maçonaria, por isso sentimos que antes de retomar o desenvolvimento do povo judeu deveríamos olhar para a maior de todas as civilizações, que floresceu em volta do rio Nilo. Abraão havia vivido no Egito durante o período de formação da nação judaica e nós estávamos cônscios de que mais tarde houve judeus que chegaram a lugares proeminentes na terra do Egito. O Antigo Egito tinha que ser o novo foco de nossas pesquisas. Conclusão Foi apenas quando estudamos os primeiros tempos do desenvolvimento de Deus que compreendemos quão pouco nos são ensinado do início da história. Nada sabíamos da Suméria, o berço da civilização e o lugar onde escrita e educação haviam se originado. Os sumérios, havíamos descoberto, eram os inventores do pilar e da pirâmide que se haviam espalhado muito além de seu próprio território. A história contada no Gênese sobre o Dilúvio já havia sido narrada quase mil anos antes no mito da criação suméria chamado Enuma Elish. Foi da cidade suméria de Ur que Abraão trouxe consigo seu deus pessoal, conhecido como "deus de seus pais", em algum ponto entre 2000 e 2600 a.C. Nós questionáramos sobre as possíveis ligações ou sincronicidade entre Abraão e os reis hicsos que haviam dominado o Egito de 1786 a 1567 a.C., mas não tínhamos conhecimento suficiente sobre os egípcios para satisfazer essa dúvida. E a despeito de algumas possíveis aparições de fascinantes personagens que são parte da Maçonaria, não havíamos encontrado nenhuma outra ligação com a Ordem como ela é hoje. Se quiséssemos decifrar essa charada, teríamos que nos adiantar no tempo e estudar a civilização do Egito.
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