terça-feira, 21 de março de 2017

CAPÍTULO OITO - O primeiro maçom


                                           O PRIMEIRO MAÇOM


Muitas de nossas energias já tinham sido dedicadas a desenrolar o novelo dos mistérios do Egito, mas enquanto estávamos começando a nos focar em personagens determinados e em eventos com grande significado para nós como Maçons, estávamos sempre buscando padrões na história. Algumas vezes a interpretação convencional de eventos históricos se complica com fatos que não se encaixam no padrão aceito. Quando essas falhas históricas acontecem, às vezes é possível perceber uma nova verdade por trás da face até então aceita da história. Foi uma dessas falhas que inicialmente direcionou a nossa atenção ao período dos hicsos na história egípcia. Os egiptólogos atuais chamam essa era de Segundo Período Intermediário (1782-1570 a.C.) colocando-a entre o Reino Médio e o Novo Reinado. Aqui havia uma grande perturbação no fluxo contínuo da história egípcia. Era o tipo de catástrofe da qual poucas civilizações conseguem se recuperar, e ainda assim sabíamos que o Egito não só se havia recobrado, mas daí partiria para alcançar novos níveis de realização, apesar do declínio total de sua monarquia tradicional e da dominação da população nativa durante seis gerações por um grupo de invasores estrangeiros que havíamos encontrado pela primeira vez sob o nome romântico de "Reis Pastores". Porque isso acontecera era o maior mistério. A nós parecia muito possível que uma era de mudanças - dos reis egípcios para os dominadores hicsos, e depois de volta à monarquia tebana - nos desse mais pistas, portanto, nos concentramos nesse período usando todas as fontes possíveis de informação, inclusive o Antigo Testamento. Hiram Abiff Descoberto Se houvesse uma ligação entre o Antigo Egito e os judeus do século I d.C., ela certamente ocorreria através de Moisés, o fundador da nação judaica, que havia sido adotado como membro da família real egípcia. A possibilidade de encontrar essa ligação era bastante remota, mas seguimos buscando enquanto revíamos os fatos que nos eram conhecidos. Tendo passado pelo 3° Grau da Maçonaria, aquele que nos conferiu o status de Mestre Maçom, temos a dizer que as referências a Hiram Abiff e o Antigo Testamento nos deixaram boquiabertos. As seguintes palavras são ditas pelo Venerável Mestre quando primeiramente apresenta esse antigo personagem ao candidato: A Morte não impõe maior terror que a nódoa da falsidade e da desonra. Dessa grande verdade, os anais da Maçonaria têm um glorioso exemplo na inabalável fidelidade e cruel morte de nosso GrãoMestre, Hiram Abiff, que perdeu sua vida logo antes do término do Templo do Rei Salomão, de cuja c cruelmente com qualquer um que lhes parecesse um obstáculo à sua causa: mas uma vez estabelecidos, não eram opressores difíceis, e as autoridades egípcias parecem ter colaborado com eles em grande escala. No século XVIII a.C. já haviam estendido seu domínio até o Alto Egito. Vindo quase que totalmente dos países que agora chamamos de Israel e Síria, os hicsos falavam a mesma língua semita do povo que mais tarde foi conhecido como israelitas. A pergunta que imediatamente veio à nossa mente foi: seriam os hicsos judeus? A resposta tinha que ser não, pelo menos no sentido amplo da palavra, porque o conceito de Judaísmo ainda não existia nessa época. As espalhadas tribos nômades que os egípcios chamavam de Habiru (hebreus) eram uma mistura de asiáticos semitas que falavam uma mesma língua, mas não era de nenhuma outra forma uma raça identificável. No entanto, é extremamente provável que os hicsos/habirus tenham, posteriormente, formado uma parte substancial do cooperativismo tribal que se tornou as tribos de Israel e mais tarde o povo judeu. Há várias razões que nos levam a crer que há uma conexão direta entre os hicsos e os judeus, sendo uma delas o fato de que a primeira menção da Bíblia ao povo judeu coincide precisamente com a época em que os egípcios expulsaram os hicsos de sua terra - para Jerusalém! Recentes evidências geológicas começam a mostrar que a existência do deserto em grande parte do Oriente Médio é uma ocorrência relativamente recente, e que há cinco ou seis mil anos atrás o território egípcio era uma área muito mais fértil e verde. Registros mostram que houve súbitos e dramáticos períodos de mudança climática durante o segundo milênio a.C., trazendo a seca como problema sazonal para todo o Oriente Próximo. Como crentes nos princípios de Ma'at, os egípcios eram um povo generoso, e proveram os nômades Habiru com água e terras para pastagem de seus carneiros quando as condições fora do Delta do Nilo se tornaram insuportáveis. Um claro exemplo disso é dado em Gênese, 12:10: Houve fome na Terra, e Abrão desceu ao Egito para aí ficar, pois a fome assolava a Terra. Durante o período de declínio da sociedade egípcia, o controle desses asiáticos sedentos era fraco, e eles tinham permissão para entrar no país em grandes números, e ninguém pedia que eles saíssem enquanto suas necessidades não estivessem satisfeitas. Sem uma política de imigração o país se tornou açambarcado por esses povos nômades: além do mais, eles eram seguidos por povos muito mais sofisticados, que enxergavam as oportunidades de ganho em meio à confusão geral. Esses semitas citadinos, os hicsos, eram muito mais guerreiros que os superconfiantes egípcios e possuíam armas muito avançadas, como os carros puxados por cavalos que lhes permitiam tomar o que quer que desejassem sem encontrar resistência significativa por parte das pacíficas populações nativas. Os Reis Hicsos É provável que durante o período dos hicsos os membros das tribos habirus tenham experimentado um status social mais elevado e se tomado mais assimilados à vida nas cidades. Antes disso a única maneira que um desses pastores do deserto tinha para aumentar suas posses e usufruir os benefícios da vida urbana era oferecer-se como escravo para uma família egípcia. Esse arranjo não era escravidão no sentido em que hoje a imaginamos: era mais como ser um serviçal preso a um contrato vitalício. Os salários podem não ter sido bons, mas a qualidade de vida era bem mais alta que as aspirações da vasta maioria do povo. Assim que os reis hicsos se estabeleceram, começaram a patrocinar a construção de templos e a produção de estátuas, relevos, escaravelhos, trabalhos artísticos em geral e alguns dos melhores trabalhos literários e técnicos de seu tempo. Aparentemente eles tinham pouca herança cultural própria e rapidamente adotaram os hábitos e costumes egípcios. Esses novos governantes começaram a escrever seus nomes em hieróglifos, assumindo os títulos tradicionais dos reis egípcios e até escolhendo nomes egípcios para si próprios. Os reis hicsos, a princípio, espalharam sua influência para dominar o Baixo Egito, a maior e mais rica das duas terras, a partir da nova cidade de Avaris. Adotaram como seu deus estatal uma deidade que já tinha sido especialmente reverenciada na área onde primeiramente se haviam estabelecido. Esse deus era Set, que tinha grandes semelhanças com seu anterior deus canaanita Baal. Centraram sua teologia em Set, mas também aceitavam Rá como um deus maior e o honram nos nomes reais que escolheram. Mais tarde controlaram ambas as Duas Terras a partir da velha capital Mênfis. É justo dizer que havia um tipo de relação simbiótica pela qual os invasores ganhavam cultura e refinamento tecnológico enquanto os egípcios ganhavam uma tecnologia nova como a dos carros de combate e outros armamentos, inclusive os arcos compostos e as espadas de bronze para substituir seus velhos e simples armamentos. Eles também ganharam mais uma coisa importante dos hicsos: o cinismo. Eles já tinham sido abertos e vida mansa demais no passado para seu próprio bem, dando pouca atenção à defesa pró- ativa de seu país. A experiência do período dos hicsos lhes ensinou uma poderosa lição e uma nova maneira positiva de encarar a realidade emergiu, assentando-lhes as fundações para o ressurgimento do espírito do Egito naquilo que hoje chamamos de Novo Reino. Apesar de terem perdido o controle da velha capital, Mênfis, elementos da verdadeira monarquia egípcia continuaram a existir no Alto Egito, na cidade de Tebas. Em seus registros fica claro que os tebanos reconheciam a soberania de seus dominadores asiáticos, com os quais parecem ter estado em bons termos. Com o tempo os reis hicsos se tornaram absorvidos em muitas das práticas religiosas e culturais do Egito, e inevitavelmente um problema político/teológico surgiu. Os invasores começaram a desejar ter poder espiritual da mesma forma que já tinham poder físico. Por exemplo, o dominador hicso chamado rei Khyan (ou Khayana) assumiu o nome real egípcio de "Se-user-en-re", assim como os títulos de "o Bom Deus" e "Filho de Rá", e em adição criou para si próprio o nome de Horus 'Abarcador-dasRegiões", um título que sugeria dominação mundial. Essa declaração por parte de um hicso de ser o "Filho de Deus" deve ter ultrajado o povo egípcio em todos os âmbitos. Aqui, acreditamos, existe uma questão essencial que ainda não foi estudada pelos egiptólogos modernos. Agora sabemos que havia um ponto muito especial durante o processo de feitura dos reis que tornava o novo Horus não desafiável: mas os futuros reis hicsos, com todo o seu poder estatal e sua emulação da religião egípcia, estavam excluídos desse louvor exclusivo. Como poderia um estrangeiro simplesmente mudar seu nome de Khyan para Seuserenre e se auto denominar como Horus sem passar pelo processo de iniciação secreta conhecido apenas pelos verdadeiros reis do Egito e seu grupo interno? A resposta é simples: não poderia. Fica completamente fora dos limites da razão pensar que os egípcios teriam partilhado seus maiores segredos com esses estrangeiros brutais: mas como Khyan queria desesperadamente esse poderoso título e não tinha acesso legítimo a ele, não lhe restou outra opção a não ser assumi-la por vacância. Relações superficiais entre os egípcios e seus novos mestres eram boas, mas o ressentimento devia ser muito grande. Além do mais, apesar de imitar o estilo e os costumes egípcios, os hicsos permaneciam essencialmente diferentes. O enxerto dos hicsos no Egito foi a melhor das hipóteses superficial. Eles falavam o egípcio com um sotaque engraçado, usavam barbas (os egípcios se barbeavam todos os dias, a não ser quando de luto) tinham uma maneira estranha de se vestir e se transportavam em estranhas máquinas com rodas que chamavam de carros, que eram puxados por cavalos em vez de burros. A Perda dos Segredos Originais Continuamos nossa pesquisa do final do Reino Médio e ficamos certos de que as tensões entre os novos reis hicsos e a verdadeira linhagem real egípcia deve ter alcançado o ponto máximo com as falsas coroações como Horus. Se estivéssemos certos sobre a cerimônia secreta de ressurreição dos reis legítimos, teria que ter havido problemas para afastar esses presunçosos enxeridos que pressionavam para obter os segredos reais agora que já tinham tomado todo o resto. Ter o controle da vida cotidiana era uma coisa: levar esse controle para o reino dos deuses, tanto os terrestres quanto os celestes, deve ter sido intolerável. Uma vez que os reis hicsos já eram da terceira e quarta gerações nascidas no Egito e haviam assumido a teologia egípcia, parece quase certo que se sentiam com direito a possuir os segredos de Horus, já que se consideravam como sendo eles mesmos Horus. E (talvez mais importante) eles queriam ser Osíris na morte e transformar-se em uma estrela que brilhasse para todo o sempre. Tendo se tornado reis do Egito, por que deveriam morrer uma morte canaanita, quando morrer como Horus lhes garantiria a vida eterna? Essa foi uma época complexa e fascinante, e nós estudamos e reestudamos os eventos e personagens envolvidos. Alguma coisa sobre este período em geral e sobre as atitudes dos verdadeiros reis do Egito - mas particularmente Seqenenre Tao II - começou a incomodar Chris. Esse rei ficou restrito à cidade de Tebas no Alto Egito até o fim do domínio dos hicsos, e por uma grande variedade de pequenas razões Chris começou a sentir que a história de Hiram Abiff poderia ter-se iniciado com uma batalha de poder entre Seqenenre Tao II e o importante rei hicso Apepi I, que tomou o nome real egípcio de A-user-re ("Grande e Poderoso como Rá") e o título de "Rei do Alto e Baixo Egito, Filho de Rá". Por meses Chris estudou esse período, procurando mais e mais evidências que afastariam ou confirmariam suas suspeitas. Essas suspeitas lentamente se solidificaram em uma intuição muito forte. Chris nos conta como isso se deu: "Eu sabia que o rei hicso Apepi também era conhecido como Apophis. Este era um exemplar de nomenclatura que me alertou para o seu envolvimento em uma batalha espiritual que não era nada mais do que a recriação da fundação do Egito por Osíris, Isis e o primeiro Horus. Fiquei convencido de que Apophis era um homem que deliberadamente se dedicou a obter os segredos dos verdadeiros reis egípcios - a qualquer preço!". "O povo hicso era guerreiro e auto-centrado. Adotavam como seu deus principal Set, o assassino de seu irmão Osíris, o deus que todo rei egípcio almejava tornar-se. Identificando-se com Set os hicsos demonstravam seu desdém para com o povo egípcio e sua aliança com as Forças do Mal. O conceito de Ma'at deve ter parecido muito tolo a Apophis, e sintomático da 'moleza' que havia permitido a seus antepassados a tomada do Egito. O oposto de Ma'at era chamado Isfet, que significava conceitos negativos como o egoísmo, a falsidade e a injustiça, e de acordo com a mitologia egípcia o líder desses atributos de Isfet era um deusserpente monstruoso, malvado, com a aparência de um dragão, denominado... Apophis. Fiquei surpreso ao descobrir que esse poder maligno tinha o mesmo nome que o rei hicso". "Os epítetos desse monstro anti-Ma'at incluíam 'aquele com a aparência malvada' e 'aquele que tem o caráter cruel', e para os egípcios era a própria corporificação do caos primordial. A serpente da qual o rei hicso havia tirado seu nome era representada como sendo cega e surda para todas as coisas; ela podia apenas gritar dentro da escuridão e era expulsa todos os dias pelo nascer do sol. Não admira que o grande terror de cada egípcio fosse essa serpente maligna. Apophis, em uma noite escura, finalmente venceria a batalha contra Rá e o dia seguinte nunca nasceria. Para defender-se dessa ameaça sempre presente, liturgias eram recitadas diariamente nos templos do deus-sol para apoiar a batalha contínua entre as forças da luz e das trevas". "Acabei sabendo que uma vasta coleção de liturgias auto descritivas havia sido descoberta como O Livro para a Derrota de Apophis. Esse era um livro secreto que era guardado no templo e continha centenas de palavras mágicas para afastar os males de Apophis, dando ao leitor iniciante as instruções precisas de como fazer figuras de cera da serpente que podiam ser amassadas até a deformidade, destruídas pelo fogo ou desmembradas com facas. O livro exigia que o estudante executasse esses atos todas manhãs, meio-dia e meia-noite e, mais especialmente, nos momentos em que o Sol estivesse obscurecido por nuvens". "Seiscentos e cinqüenta quilômetros ao sul de Avaris, a cidade de Tebas continuava com sua linhagem de reis egípcios, a despeito de se curvarem ao poder dos hicsos e do pagamento aos coletores de impostos de Apophis de todas as taxas devidas. Apesar de estarem isolados e empobrecidos, os tebanos lutavam para manter os costumes do período do Reino Médio que lhes eram tão caros. Haviam sido impedidos pelos hicsos (e seus títeres de Kush) de ter acesso às madeiras da Síria, ao calcário de Tura, ao ouro da Núbia, ao marfim e ao ébano do Sudão e às pedreiras da moderna Assuã e do Wadi Hammamat, o que os forçou a improvisar novas técnicas de construção. Mesmo com as severas limitações que enfrentavam acabaram por produzir excelentes edifícios, ainda que usassem mais tijolos de lama que pedras. De qualquer forma, as crescentes dificuldades parecem ter trazido um ressurgimento do espírito e determinação que haviam tornado o Egito grande, e mesmo enquanto a qualidade de vida continuava a ser prejudicada, o aprendizado e cultura começaram a se desenvolver. Essa pequena cidade-reino começou a se erguer da depressão e da desordem e a pôr-se de pé contra os asiáticos do Baixo Egito". "Minha descoberta era a de que por volta do trigésimo quarto ano de reinado de Apophis ele instruiu o rei de Tebas para que lhe revelasse todos os segredos de Osíris, para que finalmente pudesse alcançar a vida eterna, que era seu direito como 'verdadeiro' rei das Duas Terras. O rei tebano Seqenenre Tao II era um jovem firme que se considerava o verdadeiro Horus e não tinha nenhum interesse em partilhar seus direitos de nascimento com quem quer que fosse, quanto mais esse asiático barbudo que usava o nome da 'serpente das trevas'. Sua recusa imediata deve ter gerado grande tensão entre os dois, e o rei Apophis começou a usar seu poder contra Seqenenre de todas as formas possíveis. Um exemplo significativo desse conflito foi a ordem dada por Apophis de Avaris a Tebas (uma distância de seiscentos e cinqüenta quilômetros) reclamando a Seqenenre por causa de barulho: Faça com que a lagoa dos hipopótamos, que fica a leste da cidade, seja extinta. Pois eles não permitem que me venha o sono nem de dia nem de noite. "Essa mensagem não era apenas um joguinho tolo para humilhar Seqenenre. Ela ilustra um poder muito claro tentando estabelecer nada menos que o direito divino de governar. Apophis já tinha todo o poder de Estado que desejava, mas o que ele não tinha era o segredo da ressurreição e a bênção dos deuses. Sua mensagem era profundamente política. Os tebanos haviam revivido o arpoamento ritual de hipopótamos em sua lagoa a leste da cidade: era um antigo ritual sagrado executado para garantir a segurança da monarquia egípcia. Isso era claramente feito para irritar Apophis, mas doía mais ainda por ser o hipopótamo uma das formas do deus dos hicsos, Ser, portanto, o rei asiático estava sendo duplamente insultado". "O ritual dos hipopótamos consistia de cinco cenas que incluíam um prólogo, três atos e um epílogo. O propósito dessa peça era comemorar a vitória de Horus sobre seus inimigos, sua coroação como rei das Duas Terras e seu triunfo definitivo sobre aqueles que a ele se opusessem. Era o rei que, naturalmente, vivia o papel de Horus e no Ato I ele enfiava dez arpões em um hipopó- tamo macho, alternadamente como Horus, Senhor de Mesen e Horus, o Behdetita, representando o Alto e o Baixo Egito. No Ato III, a vítima, representando Set, era desmembrada duas vezes". ''Esse embate pelo poder deve ter continuado por algum tempo, mas eu creio que em um certo momento Apophis decidiu encerrar com a impudência do rei tebano, e extrair os segredos de Seqenenre de uma vez por todas o resultado seria a morte de Seqenenre seguida de perto pela expulsão dos hicsos e a volta à regra dos reis egípcios". Nesse instante, Chris já sentia que sua suspeita, que se havia transformado em descoberta, era agora urna respeitável, ainda que tênue hipótese. Ele estava pronto para discuti-la com Robert, que prontamente concordou que tinham em Seqenenre um candidato promissor para a origem de Hiram Abiff. A Evidência Bíblica Nosso próximo passo foi considerar uma outra fonte de informação adicional muito importante, que poderia nos dar uma outra perspectiva do embate Seqenenre-Apophis. Nossas visões dos eventos do século XVI a.C. haviam se desenvolvido a partir de uma mistura de informação tirada tanto da história do Egito quanto do ritual maçônico: agora o Livro do Gênese poderia ser adicionado a essa mistura porque, surpreendentemente, descobrimos que ele é riquíssimo em informação sobre esse período. As figuras-chave que poderiam, potencialmente, ter alguma ligação com Seqenenre e Apophis são Abraão, Isaac, Jacó, José e, possivelmente, Moisés. Datar esses personagens havia se mostrado muito mais difícil para os peritos do que aqueles de períodos mais tardios da história judaica, de David e Salomão em diante, quando existem na História pontos de referência cruzada muito mais claros. O ponto de partida lógico para tentar identificar essas cinco figuras famosas foi José, o asiático ou protojudeu que, como diz a Bíblia, veio a ocupar o mais alto cargo do Egito, estando abaixo apenas do próprio rei. A história de José, desde que foi vendido como escravo por seus irmãos até sua ascensão ao poder no Egito e seu famoso manto de muitas cores (derivado de uma tradução incorreta de "um casaco de longas mangas") é bem conhecida e geralmente aceita como sendo baseada em uma pessoa real. No entanto, a lenda foi superenfeitada por escribas posteriores que foram os primeiros a transformar a tradição oral para a forma escrita. Referências a camelos como bestas de carga e o uso de moedas são historicamente impossíveis, porque nem camelos nem moedas existiam até muitas centenas de anos após a última data possível de referência a José. De acordo com o Livro do Gênese, Abraão desceu ao Egito quando tinha setenta e cinco anos de idade, e teve seu filho Isaac aos cem anos, morrendo setenta e cinco anos depois. Isaac teve dois filhos, Jacó e Esaú, quando tinha sessenta anos de idade e Jacó teve doze filhos, sendo José o segundo mais novo. Parece seguro assumirmos que tenha havido algum exagero nisso, particularmente no que concerne à idade de Abraão. Para trabalhar com períodos de tempo mais realistas, podemos começar por assumir que José estava no ápice de seu poder no Egito entre as idades de trinta e sessenta anos. Podemos então voltar até um período de tempo provável entre sua época como Grande Oficial do Egito e a chegada a essa terra de seu bisavô Abraão. Jacó aparentemente adorava ser pai de crianças com tantas mulheres quantas pudesse, incluindo suas duas esposas e suas criadas. José era um dos mais jovens e é provável que seu pai já fosse relativamente velho à época de seu nascimento, portanto, aceitemos que Jacó tinha sessenta anos. Podemos aceitar a idade bíblica de sessenta anos para Isaac no nascimento de Jacó, mas teremos que, mais realisticamente, reduzir os cem anos de Abraão para uns setenta anos. Essas idades seguem o espírito de informação dado pela Bíblia sem aceitar os obviamente impossíveis extremos que foram impostos à História. O Livro do Gênese nos conta que Sara, a mulher de Abraão, era uma bela mulher e que Abraão temia que os egípcios quisessem matá-lo para roubá-la, portanto, dizia a todos que ela era sua irmã. A lógica é difícil de seguir, mas como eles são mais tarde descritos como velhos e já tendo superado a idade de fazer amor quando Isaac finalmente nasceu, isso indica que os dois eram bastante jovens ao dirigir-se para o Egito. Na outra ponta de nossa escala encontramos uma pista na história de José, que nos ajuda a identificar uma data histórica. Essa pista é uma referência ao uso de um carro puxado por cavalos, que coloca com clareza esse evento no período dos hicsos, porque esses eram os veículos dos dominadores asiáticos, não dos reis nativos. Aceita-se que, de maneira geral, havia elementos semitas entre os invasores, e que esse seria um período durante o qual imigrantes semitas seriam favoravelmente recebidos. Muitos estudiosos comentaram que a mudança de dinastias que se seguiu à expulsão dos hicsos pode corresponder à ascensão de "um novo rei que não conhecia José" (Êxodo, 1:8) e que quaisquer estrangeiros deixados no Egito estariam sujeitos a ser tratados da maneira descrita nos primeiros capítulos do Êxodo. Há pouco lugar para dúvidas de que a migração dos hebreus para o Egito durante uma seca em Canaã e a dominação dos hicsos sobre o Egito ocorrem paralelamente à ascensão política de José. O faraó do período de José recebeu bem os hebreus em seu reino porque ele era hicso, portanto, também um semita, como eles. Já foi aventada a hipótese de que quando só hicsos foram derrubados, o novo monarca egípcio considerava os hebreus como aliados dos hicsos e, portanto, se pôs a escravizá-los. Os peritos parecem ter sido lentos em chegar à conclusão óbvia desta evidência. Os versículos 8 e 9 do Êxodo nos dão a data mais clara possível para José e esse faraó não-identificado: Nesse ínterim um novo rei subiu ao trono do Egito, que não conhecia José. E ele disse a seu povo: "Cuidado, o povo dos filhos de Israel é numeroso e mais forte do que nós". Havíamos concluído com certeza que José foi contemporâneo a Apophis, e, portanto, de Seqenenre Tao. Precisávamos nos recordar constantemente de não tomar nenhuma das palavras do Antigo Testamento como evidência conclusiva, por causa do abismo de tempo entre os eventos e aqueles que eventualmente os registraram. Lembrem-se das referências a camelos e moedas: podem ter se enganado quanto aos detalhes. Mesmo assim, o quadro geral é provavelmente um bom indicador do que efetivamente aconteceu naquela época. Em termos bem simples a Bíblia nos conta que José se tornou o homem mais importante do Egito, abaixo apenas do próprio faraó, levando-nos a concluir que José foi o vizir do rei Apophis, de tão longo reinado, o oponente de Seqenenre Tao II. Trabalhamos na cronologia para trás a partir da confrontação entre Apophis e Seqenenre, datada pela maioria dos estudiosos como tendo ocorrido em 1570 a.C., e para o cômputo geral aceitamos que o vizir José tinha por volta de cinqüenta anos nessa época. O seguinte padrão então emergiu: 1570 a.C Vizir José (possivelmente com 50 anos de idade). 1620 a.C. Nascimento de José (seu pai Jacó reconhecidamente velho, provavelmente com 60 anos). 1680 a.C. Nascimento de Jacó (seu pai Isaac com 60 anos de idade). 1740 a.C. Nascimento de Isaac (seu pai Abraão reconhecidamente muito velho, digamos, 70 anos). 1780 a.C Abraão chega ao Egito pela primeira vez (provavelmente com 30 anos de idade). As idades que estabelecemos são tão fiéis quanto a informação disponível na Bíblia é razoavelmente possível, e trabalhando em direção ao passado a partir do conflito entre Apophis e Seqenenre conseguimos estabelecer a chegada de Abraão no Egito precisamente no ano que foi identificado como o início do reinado dos hicsos! A conclusão dramática é inescapável: Abraão era ele próprio um hicso, talvez até mesmo um príncipe: recordemo-nos de que o termo hicso significa simplesmente "príncipes do deserto", e que toda a evidência aponta para Abrão sendo um homem bem-nascido de Ur. Ficávamos constantemente nos recordando de que os autores dessas histórias tinham uma distorção de pelo menos mil anos com que lidar, e que eles, como outras pessoas supersticiosas, tentariam acomodar seus preconceitos e crenças dentro da história que interpretavam e transcreviam. O Livro do Gênese começa com relatos extremamente antigos das origens do homem, mas rapidamente se afasta dessas lendas distantes e chega à relativamente recente história dos escribas. Em nenhum ponto os autores mencionam abertamente as conquistas asiáticas dos egípcios, que se sabe ter acontecido em algum período entre Abraão e Moisés. Seriam eles ignorantes desse período, ou estariam simplesmente envergonhados dele? Não podemos saber, mas esses fatos estarem ausentes de seu relato desses anos tão significativos para a história nos pareceu muito estranho. O Assassinato de Hiram Abiff O rei Seqenenre estava em meio a uma grande batalha mental com Apophis, a força das antigas trevas materializada como um rei hicso no Baixo Egito, e ele precisava de todo o poder do deus-sol Amon-Rá para tornar-se vitorioso. Todos os dias ele deixava o palácio real de Malkata para visitar o Templo de Amon-Rá na hora do meio-dia, quando o sol estava em seu meridiano e um homem não projetava praticamente nenhuma sombra, nenhuma nódoa de escuridão, no solo. Com o sol em seu zênite o poder de Rá estava em seu ponto máximo e o da serpente das trevas, Apophis, em seu ponto mínimo. Essa declaração - "enquanto nosso Mestre Hiram Abiff se recolhia para prestar suas homenagens ao Mais Alto, como era seu costume, sendo a hora do meio-dia" - vem do ritual do 3° Grau, como já explicamos no Capítulo Um, em que é um comentário sem explicação prévia. Mas agora, no contexto de Seqenenre, fez sentido pela primeira vez. Eis nossa reconstrução dos eventos. Determinado dia, sem que Seqenenre disso tivesse conhecimento, conspiradores enviados por Apophis já haviam tentado extrair os segredos de Osíris dos dois sacerdotes mais graduados e, tendo falhado em seus intentos, os haviam matado. Estavam aterrorizados pelo que agora teriam que fazer, enquanto esperavam pelo próprio rei, cada um deles em uma saída diferente do Templo. Assim que Seqenenre terminou suas preces ele se dirigiu para a porta do sul onde foi abordado pelo primeiro dos três homens, que lhe exigiu os segredos de Osíris. Ele ficou firme e enfrentou a todos. A cerimônia do 3° Grau maçônico relata o que aconteceu nesse dia há três mil e quinhentos anos no Templo em Tebas. Para que a comparação se torne mais perfeita mudamos os nomes originais para os nomes egípcios: ... terminadas suas orações, preparou-se para sair pela Porta do Sul, onde foi abordado pelo primeiro desses rufiões que, na falta de melhor arma, havia se armado com uma régua, e de maneira ameaçadora exigiu de nosso Mestre, Seqenenre, os verdadeiros segredos de Osíris, avisando-o de que a morte seria a conseqüência de sua recusa: mas fiel à sua obrigação este replicou que esses segredos eram conhecidos apenas por três homens em todo o mundo, e que sem o consentimento dos outros dois ele não poderia e nem efetivamente os divulgaria... E que falando por si mesmo, preferia sofrer a morte a trair a sagrada confiança nele depositada. Essa resposta não sendo satisfatória, o rufião deu um forte golpe na cabeça de nosso Mestre, mas abalado por sua postura firme, apenas conseguiu acertar-lhe a têmpora direita, ainda assim com força suficiente para que ele se abalasse e caísse ao chão sobre o joelho esquerdo. Recobrando-se dessa situação, ele correu para o pomo do Oeste, onde foi oposto pelo segundo rufião, a quem respondeu como antes, ainda com firmeza não diminuída quando o rufião, que estava armado com um nível aplicou-lhe um violento golpe na têmpora esquerda que o fez cair ao solo sobre seu joelho direito. Percebendo que todas as chances de escapar por esses dois portões estavam cortadas, nosso Mestre cambaleou, fraco e sangrando, até a porta do Leste onde o terceiro rufião estava colocado e que, recebendo uma resposta idêntica às suas insolentes exigências pois nosso Mestre permaneceu fiel à sua obrigação mesmo em seu momento mais difícil - deu-lhe um violento golpe no centro da testa com um pesado maço de pedra, que o deixou sem vida a seus pés. Os segredos da feitura dos reis egípcios morreu com Seqenenre, o homem que chamamos de Hiram Abiff, "o rei que foi perdido". Estávamos sentindo que já tínhamos o mais provável candidato para nosso Mestre maçônico e começamos a pesquisar mais profundamente sobre o que se sabe sobre esse homem. Ficamos tremendamente impressionados quando lemos pela primeira vez os detalhes da múmia de Seqenenre - com os incríveis fatos dos ferimentos de Seqenenre detalhadamente descritos: Quando em Julho de 1881 Emil Brugsch descobriu a múmia do Faraó Ramsés II, no mesmo nicho estava outro corpo real, pelo menos 300 anos mais velho que o de Ramsés, sendo isso perceptível pelo odor pútrido que exalava. De acordo com as marcas esse era o corpo de Seqenenre Tao, um dos senhores nativos do Egito forçados a viver no extremo sul em Tebas durante o período dos hicsos, e como era patente até para os olhos menos treinados, Seqenenre havia encontrado um fim violento. O centro de sua testa havia sido afundado... outro golpe havia fraturado a órbita de seu olho direito, o lado direito de seu maxilar e seu nariz. Um terceiro golpe havia sido dado atrás de sua orelha esquerda, quebrando o mastóide até a primeira vértebra do pescoço. Era aparente que em vida tinha sido jovem alto e elegante com cabelos negros encaracolados, mas a expressão fixa em sua face mostrava que havia morrido em agonia. Após a morte parece não ter sido bem cuidado, pois seu corpo tem todos os sinais de haver sido abandonado por algum tempo antes da mumificação, donde o odor pútrido e os sinais de decomposição inicial. Registros egípcios são silenciosos quanto à morte de Seqenenre, mas quase certamente foi pelas mãos dos hicsos/canaanitas. O impossível havia acontecido. Havíamos identificado Hiram Abiff e, além disso, seu corpo ainda existe. Os ferimentos combinam perfeitamente. Um cruel golpe que lhe quebrou os ossos em toda a extensão do lado direito de sua face: ele certamente teria tonteado e caído de joelhos com um golpe desses. Sendo jovem, alto e encorpado pôs-se de pé da forma como os homens fortes o fazem quando em momentos de necessidade, mas encontrou outro atacante que feriu o lado esquerdo de sua cabeça, novamente quebrando-lhe os ossos. Muito enfraquecido e próximo ao colapso ele ainda tentou retomar suas forças, mas o último e letal golpe acertou exatamente o centro de sua testa, matando-o instantaneamente. Outra inscrição que encontramos descreve claramente esses ferimentos: Os terríveis ferimentos no crânio de Seqenenre foram causados por pelo menos duas pessoas atacando-o com uma adaga, um machado, uma lança e possivelmente um maço. Foram necessários muitos dias para que nossa excitação voltasse a níveis suportáveis para nos permitir pensar em avançar em nossas investigações, e quando isso aconteceu, fizemos uma revisão do que já tínhamos. Os instrumentos sugeridos como armas do crime recordavam a lenda maçônica na qual Hiram é atacado com uma variedade de ferramentas de construção, incluindo um pesado malho que certamente produziria ferimentos similares aos de um maço. A descrição prévia dos sinais de decadência de seu corpo mostra que os embalsamadores reais não receberam o corpo senão depois de algum tempo de sua morte, o que nos trouxe à mente as circunstâncias descritas no 3° Grau maçônico relativas ao corpo de Hiram Abiff, desaparecido após o assassinato: Com seus temores naturalmente ampliados pela segurança de seu artista principal, ele selecionou quinze fiéis Companheiros, e lhes ordenou que fizessem diligentes buscas pela pessoa de nosso Mestre, certificando de que ainda estivesse vivo, ou de que tivesse sofrido na tentativa de extrair-lhe os segredos de seu exaltado grau. Um dia certo tendo sido determinado para seu retomo a Jerusalém, organizaram-se em três Lojas de Companheiros e partiram pelas três saídas do Templo. Muitos dias foram gastos em infrutíferas buscas: na verdade um dos grupos retomou sem ter feito nenhuma descoberta importante. O segundo grupo foi mais afortunado, pois na tarde de um certo dia, após haver sofrido as maiores privações e fadigas pessoais, um dos Irmãos que havia se colocado em postura reclinada, para ajudar-se a erguer, segurou-se em uma moita que nascia ali perto a qual, para sua surpresa, saiu com facilidade do solo: examinando-a mais de perto, descobriu que a terra havia sido recentemente revolvida: e, portanto, chamou a seus companheiros, e com seus esforços unidos reabriram essa cova e encontraram o corpo de nosso Mestre recentemente enterrado. Cobriram-no outra vez com todo o respeito e reverência, e para marcar o lugar, enfiaram um ramo de acácia sobre a cova, apressando-se então para Jerusalém para dar as aflitivas notícias ao rei Salomão. Quando as primeiras emoções de tristeza do rei haviam diminuído, ele lhes ordenou que retomassem e erguessem nosso Mestre para um sepulcro que estivesse de acordo com sua posição e talentos: ao mesmo tempo informando-lhes que por sua morte inesperada os segredos dos Mestres Maçons estavam perdidos. Portanto, ordenou-lhes que ficassem particularmente atentos a quaisquer sinais ou palavras que ocorressem, enquanto pagavam esse último e triste tributo de respeito ao mérito do morto. Tiremos Hiram Abiff do tempo do rei Salomão e tudo o mais faz sentido. Estávamos também muito interessados em descobrir se o corpo do rei Seqenenre era o único corpo de rei conhecido do Antigo Egito que exibia sinais de morte violenta. Portanto tínhamos agora a história de um homem morto por três golpes enquanto protegia os segredos reais egípcios dos invasores hicsos. Mas e sobre a ressurreição? Seqenenre obviamente não havia ressuscitado, já que seu corpo está no Museu do Cairo, portanto, nossa história ainda não estava completa. Decidimos, então, examinar nosso ritual maçônico. Os Assassinos de Hiram Abiff Na lenda maçônica os assassinos de Hiram Abiff são denominados Jubelo, Jubelas e Jubelum, com o nome conjunto de "os Juwes". Os nomes parecem invenção simbólica: o único significado que pudemos encontrar foi que os três nomes contêm a palavra "jub" que quer dizer montanha em árabe. Mas isso não nos parece relevante de nenhuma maneira. Eram os assassinos verdadeiros que nos interessavam, não o simbolismo tardio. Como já mostramos, as circunstâncias da vida de José descritas na Bíblia indicam que ele foi vizir do rei hicso Apophis, e, portanto, é bem provável que estivesse envolvido no plano para extrair os segredos de Seqenenre. A Bíblia também nos conta que o pai de José, Jacó, teve uma troca simbólica de nome mais tarde em sua vida, quando se tornou Israel, e seus doze filhos foram identificados com as doze tribos de Israel. Essa foi, claramente, a idéia dos autores posteriores da história judaica, que procuravam pelo momento claramente definido em que a nação tivesse formalmente começado a existir. Os filhos de Jacó/Israel eram circunstâncias históricas que pareciam apropriadas ao status de tribos, na época em que os escritores do Gênese colocaram a tinta sobre o papiro. A tribo de Ruben parece ter perdido importância enquanto que a tribo de Judá se tornou a nova elite, portanto, chamamos os descendentes dos israelitas de "judeus", não de "rubeus". Buscando alguma coisa que pudesse ser uma pista nessas passagens da Bíblia, chegamos a um estranho versículo na versão do rei Jaime, em Gênese 49-6 que não se refere a nada conhecido. Aparece exatamente no ponto em que Jacó está morrendo e refletindo sobre as ações de seus filhos, os novos cabeças da tribos de Israel: Ó minha alma, que não entres em seu segredo, com sua assembléia, minha honra, não te unas: pois em sua ira assassinaram um homem, e de sua vontade própria derrubaram uma parede. Aqui encontramos referência a um assassinato que deve ter sido considerado importante o bastante para ser incluído, ainda que não explicado. Quais segredos eram buscados? Quem foi assassinado? A Igreja Católica descreve isso como uma referência profética ao fato de que os judeus mataram seu Cristo, mas essa informação não faz sentido. Nossa tese sugere uma possibilidade mais sensível. A primeiras palavras não são nem um pouco ambíguas: "que não entres em seu segredo". Em linguagem moderna o significado é "não conseguiste conhecer o seu segredo". A acusação final é a seguinte: "não só vocês não conseguiram o seu segredo, como também para piorar as coisas vocês perderam o controle e o mataram, prejudicando tudo e fazendo com que o mundo caísse sobre nossas cabeças!". Os dois irmãos e futuras tribos de Israel que são responsabilizados por esse assassinato desconhecido são Simeão e Levi, os filhos de Jacó/Israel com a cega Lia a quem ele desprezou. Essas tribos eram claramente amaldiçoadas pelo que haviam feito quando "assassinaram um homem", mas quem era essa vítima inominada? Apesar de acharmos improvável que os assassinos de Hiram Abiff fossem realmente chamados Simeão e Levi e que tivessem sido efetivamente os irmãos de José, parece bastante possível que esse estranho versículo contivesse a tradição folclórica do assassinato de um homem inominado que tivesse trazido desgraça a duas das Tribos de Israel. E mais ainda: porque seria esse crime tão importante a ponto de merecer estar incluído na história dos judeus, enquanto o indivíduo assassinado permanece nãoidentificado? Nós nos achávamos ainda mais convencidos de que a resposta podia estar em Seqenenre Tao. Os eventos que levaram a seu assassinato, já resumidamente narrados, e suas decorrências são tão essenciais à nossa tese que consideramos importante repassá-los com o máximo de detalhes. Apophis estava ultrajado. Quem esse reizinho de Tebas pensava que era? Ele não compreendia que o mundo havia mudado para sempre e que seu império era apenas história, esmagada sob os calcanhares dos algozes hicsos? O rei chamou seu vizir José, que havia alcançado posição tão alta por ser capaz de interpretar os sonhos de Apophis, e lhe disse que o tempo da convivência amigável havia terminado: os segredos deviam ser tomados de Seqenenre sem demora. O rei estava ficando velho e tinha todas as intenções possíveis de conseguir uma pós-vida egípcia. José foi feito responsável pelo projeto, e quem melhor para executá-lo que dois desafetos entre seus irmãos, efetivamente Simeão e Levi? Se fossem apanhados e mortos não teria importância, pois não mereciam sorte melhor já que haviam vendido José como escravo muitos anos antes. Caso se dessem bem, melhor ainda: José seria um herói e seus irmãos teriam pago uma velha dívida. Os irmãos foram rapidamente instruídos sobre o que fazer e sobre o mapa da cidade. Podem ter raspado suas reveladoras barbas de hicsos antes de entrar em Tebas, para não chamar muita atenção sobre si próprios. Uma vez na cidade entraram em contato com um jovem sacerdote do Templo de Amon-Rá, conhecido por ser ambicioso e facilmente influenciável. Os irmãos explicaram que Apophis era tremendamente poderoso e havia decidido destruir Tebas se não conseguisse arrancar o segredo de Seqenenre. O jovem sacerdote (chamemo-lo Jubelo) foi informado de que apenas ele poderia afastar o desastre que cairia sobre toda a população de Tebas caso não os ajudasse a extrair o segredo, tornando desnecessário o ataque de Apophis, também garantindo que seria feito alto-sacerdote de Apophis assim que os segredos estivessem seguros e a luta política com Seqenenre estivesse resolvida. Jubelo tinha muito medo desses asiáticos ameaçadores, mas sabia o que acontecera em Mênfis quando os hicsos ficaram insatisfeitos. Talvez a única coisa que lhe restasse fazer fosse trair a confiança nele depositada: em qualquer caso ele bem podia se ver como alto-sacerdote, mesmo que do malvado deus Apophis. Jubelo revelou a Simeão e Levi quem eram os dois sacerdotes que detinham o segredo, e a melhor maneira e lugar para abordá-los. Ambos foram apanhados, mas se recusaram a prover quaisquer detalhes, portanto, foram ambos mortos para proteger os conspiradores. Agora restava apenas uma opção desesperada: atacar o próprio rei. Jubelo a esta altura estava aterrorizado, mas já tinha superado o ponto sem volta, portanto, guiou seus dois co-conspiradores ao Templo de Amon-Rá enquanto o sol se dirigia para o seu ponto mais alto. Um pouco mais tarde o rei emergiu da saída onde foi instado a entregar os segredos. Ele recusou e o primeiro golpe foi dado. Em questão de minutos, o rei Seqenenre estava caído ao chão do Templo em uma poça de sangue. Em fúria cega e frustração um dos irmãos atingiu o corpo mais duas vezes. Jubelo estava passando fisicamente mal de tanto medo. Todos os três sabiam que haviam ficado subitamente sós, sem um amigo sequer no mundo. Seriam caçados pelos tebanos, José não lhes estenderia nenhuma simpatia, e Apophis ficaria fulo de raiva pela perda definitiva dos segredos. Seu fracasso era verdadeiramente espetacular. Os segredos estavam perdidos para sempre e uma guerra sem quartel para vingar a Seqenenre certamente seria deflagrada por Kamose e Ahmose, os filhos do rei morto - uma guerra que expulsaria os hicsos para fora do Egito para sempre. As paredes efetivamente estavam caindo por sobre suas cabeças! E quanto ao sacerdote traidor? Ele foi apanhado vários dias depois escondido no deserto fora de Tebas, no lugar que hoje chamamos de Vale dos Reis. Foi trazido de volta ao Templo e obrigado a explicar sua parte nessa traição, assim como a contar todos os detalhes do plano urdido por Apophis e seu vizir asiático, José. Ouvindo os detalhes, o filho de Seqenenre chamado Kamose sentiu-se ultrajado pelo perverso ato dos hicsos: mas ele também estava seriamente perturbado pelo fato de que não poderia tornar-se rei: os segredos perdidos lhe tiravam toda a possibilidade de vir a ser Horus. Para ele e os que o apoiavam, era um desastre sem comparação possível. Kamose reuniu um conselho dos mais velhos entre os sacerdotes sobreviventes e um deles, destinado a tornar-se o Alto Sacerdote, apresentou uma interessante análise da situação e uma solução brilhantíssima para o dilema. Ele notou que o Egito havia começado a existir milhares de anos antes, na idade dos deuses, e que a ascensão das Duas Terras havia sido criada através do assassinato de Osíris por seu irmão Set. A deusa Isis não havia desistido e havia feito a ressurreição do corpo desmembrado de Osíris para que ele pudesse ser pai de seu filho, o filho de deus chamado Horus. Horus era ele mesmo um deus que cresceu para a maturidade e combateu o perverso Set em uma magnífica batalha na qual Horus perdeu um olho e Set perdeu seus testículos. O jovem deus foi considerado como tendo vencido a batalha, mas nem por isso deixou de ser uma vitória indecisa, que gerou uma tensão crescente e permanente entre o bem e o mal. O sábio sacerdote explicou que o Egito havia crescido em força após esta batalha, mas que as Duas Terras haviam lentamente envelhecido e entrado em declínio. O poder do deus Set havia crescido com a chegada dos hicsos, que o adoravam assim como à serpente Apophis. Acabara de acontecer na terra, portanto, uma outra batalha entre o primeiro Horus e Set, mas dessa vez Set havia vencido e o Horus do momento havia perdido. Nessa batalha o rei Horus mais uma vez tivera seu olho ferido antes de morrer. A resposta era recordar-se da sabedoria de Isis e recusar-se à desistência apenas porque um deus havia sido assassinado. Ele lentamente ergueu sua mão e apontou um dedo para o trêmulo jovem sacerdote, gritando: "Eis a manifestação de Set. Ele nos ajudará a derrotar o perverso". O corpo de Seqenenre estava em péssimas condições depois de passar muitos dias em seu esconderijo, mas os embalsamadores conseguiram prepará-lo da maneira usual. Como parte de sua punição Jubelo foi continuamente mergulhado em leite azedo e no calor do deserto a proteína animal em decomposição logo o fez feder, dando-lhe a marca específica do "perverso". Quando chegou a hora da cerimônia de Seqenenre/Osíris, simultaneamente com a de Kamose/Horus, tudo estava preparado, mas havia dois caixões, não apenas um. O primeiro esquife antropóide estava esplêndido e literalmente preparado para um deus/rei docemente perfumado, o segundo era totalmente branco sem nenhuma inscrição. O momento das cerimônias foi se aproximando, e o fedorento e semidelirante Jubelo foi trazido completamente nu à frente dos embalsamadores. Suas mãos foram presas ao lado de seu corpo e com um golpe preciso da uma faca os seus genitais foram cortados e jogados ao chão pelo próprio Kamose, que estava por tornar-se Horus. O gemente Jubelo foi então enrolado em bandagens de mumificação dos pés para cima. Foi-lhe permitido colocar as mãos sobre a ferida que lhe causava tanta agonia, porque isso mostraria a todos os observadores o lugar exato do ferimento dessa criatura perversa. As bandagens finalmente chegaram à cabeça de Jubelo e os embalsamadores as apertaram firmemente sobre sua face até que ele estivesse completamente coberto. Assim que terminaram e ele foi colocado em seu caixão, Jubelo jogou a cabeça para trás tentando colocar sua traquéia reta e forçou sua boca a abrir-se em uma tentativa de respirar através das sufocantes bandagens. Ele morreu alguns minutos depois que seu caixão foi selado. Jubelo pagou caro por sua traição. O sábio, novo Alto-Sacerdote, havia dito a Kamose que segredos substitutos teriam que ser criados para tomar o lugar dos verdadeiros que haviam sido perdidos com a morte de seu pai. Uma nova cerimônia de ressurreição real de uma morte figurativa foi estruturada para substituir o velho método, e novas palavras mágicas foram criadas para elevá-lo ao status de Horus. A nova cerimônia contava a história da morte do último rei do primeiro Egito, que com o novo rei se tornou uma nação renascida. O corpo de Jubelo viajou para o Reino dos Mortos junto a Seqenenre, para que a batalha pudesse continuar - Set (na forma de Jubelo) sem seus testículos e o novo Osíris, exatamente como o primeiro Horus, sem seu olho direito. Os sacerdotes haviam organizado tudo para que a batalha continuasse de onde havia parado no início dos tempos. A guerra estava longe de chegar a seu fim. Kamose foi extremamente ofensivo a Apophis quando escolheu o nome real de "Wadj-kheper-re", que significa ''Florescendo na Manifestação de Rá". Em outras palavras, "você falhou e eu estou muito bem e de posse dos segredos reais". Kamose foi reerguido de uma morte figurativa, e assim aconteceu com sua nação. O período que agora chamamos de Novo Reinado logo se iniciou e o Egito tornou-se mais uma vez uma nação cheia de orgulho. A Evidência Física A história que acabamos de contar é uma versão fictícia para expor nossa confiança naquilo que acreditamos tenha acontecido há tantos milhares de anos. Não obstante, as únicas partes que inserimos na história são os pequenos detalhes que juntam os fatos reais que desvendamos. Usamos a evidência bíblica para estabelecer o envolvimento de José e de seus irmãos, mas o jovem sacerdote, a quem denominamos Jubelo, chamou nossa atenção através de longas pesquisas em registros egípcios. Quase não acreditamos em nossa boa sorte quando demos com os restos mortais do jovem que tem sido um enigma para os egiptólogos nos últimos cem anos. De todas as múmias encontradas no Egito, duas se destacaram para nós por serem pouco usuais. Seqenenre é único por ser o único rei que encontrou um fim violento, e um outro cadáver também se destacou por outras razões radicais. Buscando informação sobre todas as múmias registradas, ficamos imediatamente interessados nos detalhes dos estranhos restos mortais de um jovem que na vida não tivera mais que um metro e sessenta de altura. Fotografias dessa múmia desembrulhada eram fascinantes por causa da aparência de extrema agonia em sua face, assim como os detalhes de seu enterramento, que não tinham precedentes. O corpo não havia sido embalsamado, pois não havia nenhuma incisão e os órgãos internos estavam todos em seus devidos lugares. Apesar do indivíduo não ter sido mumificado no sentido exato da palavra, havia sido enrolado em bandagens como de costume. Estranhamente, nenhuma tentativa havia sido feita para corrigir o ângulo da cabeça nem compor os traços da face, e o efeito dessa múmia é o de um homem que dá um longo e terrível grito. Os braços não estão ao lado do corpo nem cruzados no peito do jeito de sempre, mas esticados para baixo com as mãos cobrindo, ainda que não tocando, a região púbica. Debaixo dessas mãos em concha há um espaço onde os genitais deveriam estar: esse homem foi castrado. Seu cabelo empastado está coberto de um material com a aparência do queijo, o que nos tocou como sendo o resultado que se espera de sucessivos mergulhos em leite azedo, com o objetivo de fazê-lo cheirar mal: os demônios das trevas tinham um sentido de olfato muito apurado, e o reconheceriam como um dos seus. Os dentes estão em boas condições e as orelhas foram furadas, e esses detalhes indicam nascimento em classe superior. A múmia foi achada em um caixão de cedro pintado de branco, sem nenhuma inscrição, tornando a identificação impossível, mas os peritos crêem que ele tenha sido um nobre ou um membro da classe sacerdotal. A datação neste caso é muito difícil, mas se considera que seja da Décima Oitava Dinastia, que se iniciou logo depois do reinado de Seqenenre Tao. Uma pista importante que antes não foi notada está nas rugas formadas pela pele da face. São muito estranhas, mas também estão presentes em uma outra múmia - a de Ahmose- Inhapi, a viúva de Seqenenre! Essas rugas são causadas por bandagens muito apertadas, e essa característica sugere que a mesma pessoa de mãos muito pesadas executou os dois enrolamentos. Nossos diagramas mostram como o ângulo dessas rugas fortemente sugere que o jovem sacerdote estava vivo quando foi enrolado e enterrado. Esse corpo não identificado não gerou grande interesse entre os egiptólogos, que tendem naturalmente a se interessar mais pelas múmias dos famosos, mas faz tempo que se aceita que essa múmia mostra todos os sinais de que estava viva quando de seu enterro. A datação oficial estimada do início do Novo reinado era inacreditavelmente próxima de nosso momento-alvo, e começamos a pensar se a jovem múmia não teria sido descoberta na área de Tebas, tendo, portanto, uma conexão com o nosso rei assassinado. Logo descobrimos que foi encontrada por Emil Brugsch em 1881, não apenas em Tebas, mas na sepultura real e, Deir al Bahri. .. ao lado de Seqenenre Tao! Essa não era a tumba original de nenhum dos dois, mas é bastante provável que tenham sido mudados da mesma sepultura ao mesmo tempo em data posterior. As possibilidades de coincidência iam se evaporando, e nós começávamos a ter certeza de que havíamos não apenas encontrado Hiram Abiff, mas também descoberto as circunstâncias de sua morte e identificado um dos assassinos, três mil e quinhentos anos depois dos eventos. Sentimo-nos como os detetives devem se sentir quando resolvem um caso difícil, e comemoramos com muito champagne nessa noite. O desafortunado Jubelo, no entanto, nunca conseguiu escapar da presença de sua vitima. O jovem sacerdote está no Museu do Cairo, número de catálogo 61023 junto com Seqenenre Tao, número de catálogo 61051. A Evidência Maçônica Assim que ficamos novamente sóbrios depois das comemorações da solução do assassinato de Seqenenre, sentamos para considerar qual seria nosso próximo passo. Retomamos ao ritual maçônico para buscar ainda mais pistas para nossa reconstrução do desenvolvimento do segredo dos reis. A história de Seqenenre e seus assassinos é a história do Egito passando por uma reencarnação, e é a história de Hiram Abiff. As duas são uma e a mesma história. A Bíblia completa os trechos em branco, e os restos humanos nos dão irrefutáveis evidências médico-legais, apesar do abismo de três mil e quinhentos anos. Mas descobrimos que as evidências maçônicas vão ainda mais fundo. Chris voltou sua atenção para as palavras secretas usadas na cerimônia do 3° Grau, que é a de exaltação de Mestre Maçom. As palavras são sussurradas para o irmão recém-ressurrecto e nunca são ditas em voz alta. Parece blá-blá-blá sem sentido. Ambas as palavras são muito similares em sua estrutura e som como se tivessem sido formadas por uma corrente de sílabas muito curtas ao estilo do Antigo Egito. Chris as separou em sílabas e em muito pouco tempo percebeu estar olhando para algo que fazia sentido perfeito! Os sons sussurrados em Loja aberta são: Ma'at-neb-men-aa, ma'at-ba-aa Os leitores Maçons certamente reconhecerão essas palavras, mas ficarão atônitos em saber que são puro antigo egípcio. Seu significado é fenomenal: Grande é o Mestre da Maçonaria, grande é o espírito da Maçonaria. Traduzimos Ma'at como Maçonaria porque não existe nenhuma palavra atual que chegue perto do complexo conceito original que engloba uma série de idéias em torno de "verdade, justiça, harmonia e retidão moral como estão simbolizadas pela pureza regular das aprumadas, niveladas e esquadrinhadas fundações de um templo". Ma'at era, como já vimos antes, uma atitude de vida que combinava os três maiores valores que a humanidade possui, principalmente o conhecimento da ciência, a beleza da arte e a espiritualidade da teologia. E isso é a Ordem Maçônica. Outras traduções são ao pé-da-letra, palavra por palavra. Reconstruímos essas palavras em hieróglifos para demonstrar sua origem egípcia apesar de duvidarmos que elas alguma vez tenham sido escritas em qualquer língua, antes da impressão deste livro. A pergunta que nós fazíamos era como essas poucas palavras tinham sobrevivido intactas durante um período de tempo tão vasto. Acreditamos que esses vocábulos sobreviveram à possibilidade de tradução em outras línguas canaanita, aramaico, francês e inglês - porque sempre foram tidas como "palavras mágicas", o encantamento que tornava a ressurreição do novo candidato em alguma coisa mais que apenas simbólica. Seu significado original provavelmente já estava perdido no tempo de Salomão! Observado o início do Novo reinado, podíamos sentir o poder dessas palavras quando imaginamos Kamose sendo erguido como o primeiro candidato logo após o assassinato de seu pai, a figura que conhecemos como Hiram Abiff. Isso acaba por significar "o rei está morto, viva o rei". O candidato recém-ressurrecto é o espírito de Ma'at (Maçonaria) vivendo além das mortes daqueles que o antecederam. Esse encantamento fossilizado nos deu mais evidências poderosas para apoiar nossa tese. Se alguém quisesse duvidar que Seqenenre era Hiram Abiff, teria que explicar porque a cerimônia maçônica moderna contém duas frases em puro antigo egípcio no próprio âmago do ritual. Já foi estabelecido por antropólogos culturais que a informação é efetivamente transmitida para as gerações sucessivas por meio de rituais tribais, sem que os recebedores da mensagem necessariamente façam qualquer idéia do que está sendo transmitido. Na verdade todos concordam que a melhor maneira de transmitir idéias sem distorção é fazê-lo através de pessoas que não compreendem o que estão dizendo. Um bom exemplo disso está na maneira como as rimas infantis ainda sobrevivem mais perfeitamente que as velhas histórias, que subseqüentemente foram escritas e embelezadas por uma série de "melhoradores" bem-intencionados. Por exemplo, muitas crianças inglesas ainda cantam "eenie, meenie, minie, mo" (correspondente em português ao uni-duni-tê) uma rima baseada em um sistema de contagem que certamente pré-data à ocupação romana da Inglaterra, e possivelmente até mesmo os celtas. Sobreviveu intacta por dois ou três mil anos e, se deixada em paz, pode durar ainda outros tantos. Esse encantamento fossilizado egípcio relativo a Ma'at chegou aos Maçons via duas longas tradições verbais e um período de hibernação enterrado debaixo do Templo de Herodes. A referência às suas qualidades mágicas o mantiveram mesmo muito depois do significado e de suas palavras terem se perdido. Essa descoberta nos deu evidências realmente poderosas pára apoiar nossa tese em desenvolvimento, e qualquer um que desejasse refutar que Seqenenre foi Hiram Abiff, agora teria que explicar como é que a cerimônia maçônica moderna contém duas frases em puro egípcio antigo no próprio âmago de seu ritual. Acreditamos que para que esses sons se traduzissem claramente por mera coincidência seria preciso desafiar as probabilidades em milhões para um, mas já que a tradução possui um significado preciso e inteiramente relevante, o acaso deve ser afastado completamente. Encontramos outras conexões abundantes com a Maçonaria quando olhamos para a estrutura do sacerdócio e do oficialato mais idoso do Novo Reinado do Egito. As descrições de papéis e funções são claramente maçônicas. O primeiro profeta da rainha Hatshepsut também era conhecido como "Supervisor das Obras" e o Primeiro Profeta de Ptah era o "Grande Construtor" ou o "Grande Artífice". Sabemos que a Maçonaria não podia ter copiado essas descrições porque, como já demonstramos, não havia maneira de traduzir-se o egípcio até muito tempo depois da Ordem ter sido fundada. Quanto mais olhávamos, mais conexões surgiam. No Antigo Egito um homem serviria o Templo associado ao deus de seu ofício. O deus lunar Thot estava associado aos arquitetos e escribas: e foi Thot quem mais tarde se tornou objeto de interesse dos Maçons iniciais. Também encontramos conexões com os essênios, os fundadores da Igreja de Jerusalém, no fato dos sacerdotes egípcios só usarem túnicas brancas e gastarem muito tempo com lavagens e purificações. Eles se abstinham de relações sexuais, eram circuncidados, e tinham tabus em relação a certos alimentos, inclusive frutos do mar. Usavam a água de forma quase batismal, e também incenso para purificar suas vestes. Essas observâncias dos essênios eram, portanto, bem antigas. Acreditamos ter extraído tudo o que podíamos desejar desse trecho de nossa investigação, mas um pensamento subitamente veio a Robert. Os rituais maçônicos se referem a Hiram Abiff como o "Filho da Viúva", o que nunca teve nenhuma explicação - mas subitamente duas interpretações ligadas uma à outra vieram à tona. Na lenda egípcia o primeiro Horus só foi concebido depois da morte de seu pai, e, portanto, sua mãe era uma viúva mesmo antes dessa concepção. Parecia lógico, portanto, que todos os que posteriormente se tornaram Horus, i.e., os reis do Egito, também se descrevessem como "Filhos da Viúva", um título especialmente correto para Kamose, o filho da viúva Ahmose-Inhapi, mulher de Seqenenre Tao II. Seqenenre Tao, o Intimorato Podíamos agora estarmos certos de que a história de Hiram Abiff era um fato histórico e não apenas simbólico como muitos Maçons (nós mesmos, a princípio) acreditam. Anteriormente nos havia parecido ser uma história ritualizada que tivesse sido inventada para trazer luz sobre pontos simbólicos importantes, mas era exatamente o contrário: o simbolismo havia sido extraído da realidade. O evento marca um ponto maciçamente importante na teologia egípcia, quando os segredos do culto das estrelas e a mágica da feitura-de-reis foi perdido pela primeira vez para sempre. Os antigos egípcios reconheciam haver alguma coisa muito especial sobre o rei Seqenenre, que morrera por volta dos trinta anos de idade, porque lhe havia sido dada a alcunha de "o Intimorato" em relatos que a ele se referem. Por causa da brutal natureza de seus ferimentos alguns observadores especularam que ele tivesse morrido em batalha contra os hicsos, apesar da maioria concordar que ele provavelmente tenha sido assassinado. A teoria da batalha ignora registros que mostram haver paz com os hicsos até o reino de Kamose, e se Seqenenre tivesse morrido como herói em uma batalha, esses registros não ficariam silenciosos sobre os meios de sua morte. Seqenenre era obviamente visto como um herói morto por outras razões menos usuais que simplesmente liderar suas tropas em batalha. Agora estávamos certos de que esse título lhe fora dado por um povo grato por seus esforços em manter os segredos das Duas Terras, até mesmo em face da morte. Certamente a morte de Seqenenre, o Intimorato, foi o início da reconquista egípcia de sua liberdade ante os invasores, enquanto Tebas se preparava para a guerra contra os hicsos como vingança por este assassinato perverso. O filho de Seqenenre, rei Kamose, eventualmente infligiu pesadas derrotas aos "malditos asiáticos" e os hicsos logo foram expulsos de Mênfis. As mulheres do último rei hicso, o sucessor de Apophis denominado Apepi II, passaram pela aterrorizadora experiência de ver a frota tebana, liderada por um general de nome Aahmas, singrar pelo Canal do Pet' ektu acima até os muros de Avaris, a capital dos hicsos. Os hicsos foram finalmente e completamente expulsos do Egito pelo irmão mais jovem de Kamose, e seu sucessor, Ahmose, que os rechaçou de volta a Jerusalém. Incapazes de escapar pelo mar, não menos do que duzentas e quarenta mil famílias foram forçadas a enfrentar o caminho dos desertos de Sinai e Negev. Estranhamente, a rota que tomaram era conhecida como ''Wat Hor" - o Caminho de Horus. Em conclusão, esse drama que se desdobrou em Tebas no fim da primeira metade do segundo milênio a.C. foi um ponto crucial na história do Egito: uma recriação óbvia da batalha entre o Mal e o Bem que havia criado o país dois mil anos antes. O Velho Reinado do Egito havia nascido, crescido, amadurecido, envelhecido e finalmente morrido pelas mãos do perverso deus Set, que desta vez havia usado seus seguidores contra os egípcios como se fossem uma praga. O Egito, como o próprio Osíris, estivera morto por algum tempo. Depois desse período de morte, Amon-Rá havia lutado em uma batalha contra o antigo deusserpente, a força das trevas, Apophis, que havia tomado a forma de um rei hicso. Talvez sentindo que o Egito estava para ressurgir, Apophis havia tentado em vão assenhorear-se dos segredos de Osíris. Falhou porque o intimorato Seqenenre Tao preferiu morrer a trair esses grandes segredos. Ele é o "rei que foi perdido", porque seu corpo foi encontrado tarde demais para que ele pudesse ressurgir em pessoa, e porque o segredo de Osíris havia morrido com ele. Desse momento em diante os segredos originais de como Isis reergueu Osíris foram trocados por segredos substitutos e nenhum rei do Egito voltou a unir-se às estrelas. Desse momento em diante os senhores do Egito não foram mais reis. Tornaram-se meros Faraós, palavra que vem do egípcio "per-aa", um eufemismo para "rei" com o significado de "grande casa", da mesma forma que os Estados Unidos da América por vezes se referem à sua base de poder como Casa Branca em vez do próprio presidente. O absoluto direito divino do indivíduo havia terminado para sempre. Não apenas um rei fora perdido, mas todos os reis estavam perdidos para sempre! Apesar da perda dos segredos, a ressurreição do Egito foi um enorme sucesso e o Novo Reinado se tornou o último grande período dos egípcios. A morte e a ressurreição haviam levado a um renascimento que trouxe nova força e vigor para toda a nação. As questões restantes que precisávamos responder para ver confirmadas as ligações entre Hiram Abiff e Seqenenre Tao eram: por que Seqenenre é lembrado como um construtor, e como se tornou associado à idéia do Templo de Salomão? A primeira era muito lógica: Seqenenre fora o grande protetor de Ma'at, o princípio de verdade e justiça que é representado pela construção das fundações niveladas e aprumadas de um templo. Quanto à segunda parte, em breve estabeleceríamos que os israelitas tiveram acesso direto a essa história dramática, e que ela foi usada pela Casa Real de David como sustentadora de uma estrutura de segredos reais que seus novos e incultos monarcas não conheciam. Quando chegou o momento de escrever a história dessa lenda, os judeus mudaram sua origem egípcia e a atribuíram ao maior dos momentos na história de sua nação: a construção do Templo do Rei Salomão. O herói da história judaica não podia ser o rei porque a história de Salomão era bem conhecida. Portanto criaram um papel que era a melhor coisa depois disso - o construtor do grande Templo. Os segredos da construção e a sabedoria do construtor foram compreendidas por todos, por isso não houve "ressurreição" melhor para Seqenenre, o Intimorato. Uma origem egípcia para Hiram Abiff resolveu outro problema. Assim que compreendemos que nosso personagem central, Hiram Abiff, não estava adorando ao deus Yahweh, mas sim ao deus-sol Rá - literalmente "o altíssimo", pudemos entender o significado do meio-dia como hora de devoção. Maçons ainda hoje declaram que sempre se encontram simbolicamente ao meio-dia porque a Maçonaria é uma organização mundial e, portanto, o sol sempre está em seu meridiano no que se relaciona à Maçonaria. A referência maçônica a Deus como "o Altíssimo" é, portanto, uma descrição de Rá, o deus-sol em sua mais marcante posição, o zênite dos céus ao meio-dia. Em adição, vale a pena notar que a Bíblia nos conta que antes de adotarem o nome Yahweh os israelitas chamavam seu deus de "el-elion", uma expressão canaanita para "deus - o altíssimo". Isso reforça a ligação entre a história egípcia original e os israelitas que a levaram consigo. Topamos com outra prova circunstancial muito significativa. Ela tem a ver com o rei Tuthmosis III que, como narramos no capítulo anterior, foi feito rei como resultado de Deus tê-lo escolhido no templo ao tornar sua arca pesada demais para seu carregadores. Tuthmosis III foi o quarto rei depois da partida dos hicsos, e tudo sobre sua vida indica que os segredos da religião baseada nas estrelas e da feitura de Osíris e Horus já estavam perdidos. O fato de ele ter tido que substanciar seu direito ao trono por meio da história dessa "arca" indica que ele não sentia ter um claro e divino direito de governar, em contraste com seus antecessores. Mas é o fato dele ter sido usurpado por outro que particularmente revela sua falta de divindade. Tuthmosis III havia morrido sem produzir um herdeiro legítimo com sua mulher e meia-irmã Hatshepsut, e um menino nascido de sua relação com uma concubina havia tomado o trono, mas ele não pode ter sido feito Horus segundo a técnica de feitura de reis. A princípio, o rei Tuthmosis não teve nenhuma dificuldade em estabelecer seu reinado, mas as coisas se desenvolveram de uma maneira sem precedentes. Antigos hieróglifos mostram como Hatshepsut saiu do segundo plano para reclamar status idêntico ao de Tuthmosis, rapidamente superando-o para tornar-se a primeira mulher a ter a verdadeira progênie divina do deus Amon-Rá. Tuthmosis III foi então despachado para treinamento militar para que não houvesse dúvidas sobre quem estava no controle. Como muitas mulheres que alcançam o topo, ela se tornou imensamente poderosa e realizou grandes coisas. Seu templo mortuário na margem oeste do Nilo é ainda hoje um dos mais fascinantes e belos edifícios de todos os tempos. Sem dúvida a nobre morte de Seqenenre Tao marcou a ressurreição da maior civilização do mundo e o ponto no qual os verdadeiros segredos da linha real do Egito se perderam para sempre. Os segredos substitutos foram criados para prover o necessário rito de passagem para os futuros faraós e seus conselheiros mais próximos, mas o direito absoluto de reinar que estava embebido nos segredos originais não era passado adiante com os novos mistérios. O nosso sucesso nessa busca havia continuado de maneira bem suave, e Robert lançou a seguinte questão: as respostas estão vindo tão certas e rápidas, pode ser que estejamos começando a enxergar exatamente aquilo que desejamos enxergar. Decidimos rever exatamente onde estávamos e as evidências que havíamos coligido, e observando sem nenhuma paixão cada elo da corrente de nossa teoria, ficamos mais certos do que nunca de que estávamos em um novo veio da história facmal, e que o que havíamos descoberto produzia uma continuidade tão elegante simplesmente por ser a verdade. Nosso próximo desafio seria entender como a lenda de um rei egípcio assassinado por protoisraelitas fora transformada em um evento da história da nova nação dos judeus. Agora sabíamos que teríamos que deslindar as circunstâncias da maior lenda da história do povo judeu - o profeta Moisés. Conclusão Focar o período dos hicsos no Antigo Egito havia produzido resultados além de todas as nossas expectativas. Agora sabíamos quem era Hiram Abiff, e para nossa alegria havíamos localizado seu corpo e o corpo de um de seus assassinos. Havíamos observado o papel do Egito na história dos judeus, tornando-se óbvio pelo estudo da Bíblia que houvera uma mudança de atitude completa dos egípcios para com os judeus. Mas o mais interessante era o que a Bíblia não diz. Não existe referência ao período da invasão do Egito pelos hicsos, mas investigações mais precisas nos permitiram datar o período dos hicsos com muita exatidão, baseando-nos em informações do Antigo Testamento. Estudos posteriores e mais cuidadosos do Livro do Gênese nos permitiram deduzir que Abraão foi contemporâneo da invasão dos hicsos, que significa "príncipes do deserto". O último protojudeu influente no Egito foi José, e com a comparação da Bíblia e da evidência histórica descobrimos que José foi vizir de Apophis, o rei invasor que se envolveu em uma grande batalha por supremacia com o rei tebano, Seqenenre Tao II. Seqenenre era herdeiro dos antigos rituais egípcios de feitura de reis, era por direito o verdadeiro Horus. Apophis havia tomado um nome real egípcio, mas nunca teve acesso aos segredos da feitura dos reis. Encontramos no Gênese 49:6 uma referência ao assassinato de um homem pelos irmãos de José na tentativa de arrancar-lhe um segredo, e descobrimos que a múmia de Seqenenre mostra claramente ter sido ele morto por três golpes na cabeça e não imediatamente preservado. Isso casava exatamente com todos os fatos que conhecemos da história de Hiram Abiff. Investigações posteriores nos fizeram descobrir que um jovem sacerdote havia sido enterrado ao lado de Seqenenre. Usando todas essas evidências e a história maçônica que conhecemos tão bem, fomos capazes de reconstruir a história do assassinato de Seqenenre e como dele resultou a queda dos hicsos. Conhecendo esses detalhes do assassinato de Hiram Abiff, podíamos finalmente compreender o significado das duas palavras que são sussurradas na cerimônia de Exaltação, que foneticamente se traduzem em antigo egípcio e permanecem fazendo sentido: "Grande é o Mestre da Maçonaria, grande é o espírito da Maçonaria". Aí estava, afinal, um firme elo com a Maçonaria moderna. Duas palavras aparentemente sem sentido nem objetivo que só sobreviveram porque os rituais maçônicos as conservam de cor e por repetição. Com nossa ligação entre Seqenenre e a verdadeira história de Hiram Abiff firmemente estabelecida, agora teríamos que encarar uma lacuna de quase 1500 anos até o único grupo que poderia enterrar informações que os Templários pudessem encontrar. Teríamos que traçar o desenvolvimento do Judaísmo até o florescimento dos essênios, e nosso estudo teria que se iniciar com Moisés.

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