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Os egípcios não são famosos somente por suas pirâmides. Como iríamos descobrir, o legado desse
povo tão especial vai muito além dos artefatos antigos, já que foram responsáveis por algumas imensas
contribuições à nossa maneira moderna de viver. Os egípcios de hoje são uma mistura de tipos árabes,
negros e europeus, criando uma imensa variedade de tons de pele e características faciais. Muitas dessas
características são intensamente belas, algumas delas idênticas às imagens encontradas em antigas tumbas
dentro das pirâmides. Essa beleza não é apenas epidérmica: sempre foram uma nação amigável e
tolerante. A idéia corrente dos "perversos" egípcios que usaram os escravos judeus para construir as
pirâmides não faz sentido, em grande parte porque não existiam hebreus nessa época tão antiga.
Os primeiros egípcios devem ter sido fortemente influenciados, se não inteiramente guiados, pelos
construtores de cidades da Suméria. Talvez depois do Grande Dilúvio, alguns portadores dos segredos e
mistérios da construção tenham seguido em direção ao norte e ao oeste até encontrar outro povo
sustentado por um rio, que vivia sua vida através das rítmicas e controladas inundações desse rio, cujas
águas traziam húmus e fertilidade ao árido solo do deserto. Como o Egito tem um nível de chuvas baixo
demais para sustentar o plantio, o Nilo sempre foi central para a continuidade da vida nesse lugar, e
ninguém estranha que esse rio tenha se tornado praticamente um sinônimo do Egito.
Do fim de agosto até setembro uma inundação anual se espalha do sul do Mediterrâneo ao norte do
Egito, depositando a lama negra na qual o alimento dessa nação frutifica. Uma enchente exagerada em
um ano leva a perigosas inundações, destruindo casas e matando gado e pessoas: uma enchente mesquinha
significa falta de irrigação e, portanto, fome. O equilíbrio da vida era dependente da generosidade do
Nilo.
Antigos registros mostram que quando os soldados egípcios tiveram que combater seus inimigos na
Ásia, se horrorizaram com as condições que encontraram em lugares como o Líbano, por exemplo.
Quanto à vegetação, relataram "cresce selvagem e impede o progresso das tropas", e o Nilo
"inexplicavelmente cai do céu, em vez de correr por entre os montes". Essa referência mostra que eles não
tinham uma palavra para "chuva" e que até mesmo esse fenômeno naturalmente vital pode tornar-se malvindo
depois que se aprende a viver sem ele.
Também estranharam a temperatura da água que bebiam nos rios frios, preferindo deixá-la
esquentando ao sol em tigelas antes de levá-la aos lábios.
O Nilo viera sustentando pequenos e isolados grupos de caçadores nômades por dezenas de
milhares e anos, mas durante o quarto milênio a.C. algumas possessões agrícolas começaram a surgir.
Essas se desenvolveram em proto-reinos com fronteiras territoriais para proteger. Lutas se tornaram
comuns antes de haver a compreensão geral de que a cooperação era mais efetiva que a agressão,
promovendo o surgimento de comunidades harmoniosas. Em algum momento antes de 3100 a.C. um
único reino foi finalmente estabelecido com a unificação dos territórios do Alto e do Baixo Egito.
A teologia dos períodos iniciais do reino unido ainda era muito fragmentada, com cada cidade
mantendo os seus deuses originais. Muitas pessoas acreditavam em um tempo antes da memória quando
os deuses viveram da mesma maneira que os homens, com temores, esperanças, fraquezas e até mesmo
morte. Deuses não eram imortais, quanto mais onipotentes: envelheciam e morriam, e tinham cemitérios
exclusivos para seus restos mortais. Essa mortalidade total vai claramente contra qualquer definição de
deus, e levanta a questão de porque esses habitantes originais eram descritos assim. A única possibilidade
é que as pessoas que haviam controlado a região do Nilo há 5500 anos tivessem sido estrangeiros
possuidores de conhecimento ou tecnologia tão avançadas em comparação com a das populações nativas
que a estas parecessem verdadeiramente possuidores de poderes mágicos. No tempo antigo a magia e a
religião eram inseparáveis, e qualquer pessoa poderosa podia facilmente ser tomada por um deus.
Não faz sentido especular tanto sobre eventos perdidos na pré-história, mas talvez esses deuses
vivos fossem os homens que possuíam os segredos da construção, que repassaram para os construtores
das pirâmides antes de partir ou morrer como uma raça isolada.
Os egípcios acreditavam que a matéria sempre tivesse existido: para eles era ilógico pensar que um
deus fizesse alguma coisa a partir de rigorosamente nada. Sua visão era a de que o mundo começara
quando a ordem saiu do caos, e que desde então há uma batalha entre as forças da organização e as da
desordem. Essa criação da ordem fora trazida por um deus que sempre existira - não só estava lá antes dos
homens, do céu e da terra, mas já existia até mesmo antes do tempo dos deuses.
Esse estado caótico era chamado de Nun, e como as descrições sumérias e bíblicas das condições
pré-Criação, tudo era um abismo escuro, cheio de água e sem sol, mas com um poder, uma força criativa
dentro de si que ordenava que a ordem se iniciasse. Esse poder latente que estava dentro da substância do
caos não se sabia que existia: era uma probabilidade, um potencial que se entrelaçava com a
irregularidade da desordem.
Estranhamente, essa descrição da Criação explica com perfeição a visão da ciência moderna,
particularmente a teoria do Caos, que mostra como padrões intrincados se desenvolvem e repetem
matematicamente dentro de acontecimentos completamente desestruturados. Parece que os antigos
egípcios estavam mais próximos de nossa visão de mundo baseada na física do que parece possível a um
povo que não tinha nenhuma compreensão da estrutura da matéria.
Os detalhes desses tempos iniciais variavam um pouco de acordo com as crenças de cada um das
grandes cidades: as mais influentes eram (usando seus antigos nomes gregos) Mênfis, Hermópolis,
Crocodilópolis, Dedera, Essna, Edfu e Heliópolis, "a cidade do sol", que antes fora conhecida como On.
O ponto central da teologia que era praticada nessas cidades era um "momento primeiro" da história
quando uma pequena ilha ou monte fértil e pronto para sustentar a vida se ergueu do caos das águas. Em
Heliópolis e Hermópolis o espírito que havia deflagrado a vida trazendo a ordem era o deus sol Re
(também conhecido como Rá) enquanto na grande cidade de Mênfis ele era identificado como Ptar, o
deus da terra. Em qualquer dos casos considerava-se que ele havia chegado à consciência de si mesmo no
momento em que fez com que a primeira ilha emergisse das águas. Rei Ptar tornou-se a origem dos
benefícios materiais que os egípcios usufruíam, e era a inspiração de todas as artes, a fonte das
capacidades essenciais e, mais importante que tudo, dos mistérios da construção.
Os líderes do Egito, primeiro os reis e depois os faraós, eram tanto deuses quanto homens, que
reinavam por direito divino. Cada rei era o "filho de deus" que no momento de sua morte se tornava um
só com seu pai, para ser deus em um paraíso cósmico. A história do deus Osíris mostra como esse ciclo
de deuses e seus filhos se iniciou:
A deusa celestial Nut tinha cinco filhos; o mais velho, Osíris, era tanto homem quanto deus. Como
depois se tornou norma no Egito, sua irmã tornou-se sua consorte: seu nome era Isis. Ajudado pelo seu
braço direito, o deus Thot, comandava o reino sabiamente, e o povo prosperava. No entanto seu irmão Set
tinha ciúmes do sucesso de Osíris, e o matou, cortando seu corpo em diversos pedaços que atirou em
partes diferentes do Nilo. Isis ficou inconsolável, especialmente porque Osíris não tinha produzido
nenhum herdeiro, o que significava que a perversidade de Set acabaria lhe concedendo o direito de governar.
Sendo uma deusa cheia de expedientes, Isis não desistiu: localizou as partes do corpo de Osíris e
mandou trazê-las a ela para que pudesse reuni-las magicamente e soprar um breve último momento de
vida em seu irmão. Ela então se sentou sobre o falo divino e a semente de Osíris a penetrou. Com Isis
agora trazendo no ventre o seu filho, Osíris se uniu com as estrelas de onde passou a governar o reino dos
mortos.
Isis deu à luz um filho chamado Horus, que cresceu para tornar-se um príncipe do Egito e mais
tarde desafiou o assassino de seu pai para um duelo. No combate que se seguiu Horus decepou os
testículos de Set, mas perdeu um olho. A seguir o jovem Horus foi declarado vencedor e tornou-se o
primeiro rei.
Desse momento em diante o rei era sempre considerado como sendo o deus Horus, e no momento
de sua morte ele se transformava em Osíris, e seu filho no novo Horus.
A Estabilidade dos Dois Reinos
O Baixo e o Alto Egito foram unidos em um só reino por volta de 5200 anos atrás. Não sabemos
que problemas o povo vivenciava antes desse tempo, quando os deuses ainda moravam entre eles, mas
desde o início a unificação foi considerada como sendo absolutamente essencial ao bem-estar do estado
bipartido.
A construção das pirâmides preencheu para os egípcios as mesmas necessidades que os zigurates
preenchiam para o povo da Suméria, por serem montanhas artificiais que auxiliavam os reis e sacerdotes a
alcançar os deuses. Mas muito mais antigo que a pirâmide era o pilar, que tinha a mesma função de ligar
o mundo dos homens e o mundo dos deuses.
Antes da unificação, cada uma das duas terras tinha seu pilar principal para conectar o rei e seus
sacerdotes com os deuses. Parece razoável considerar que, quando o Alto e o Baixo Egito foram unidos,
os dois pilares tenham sido mantidos. Cada um desses pilares era um cordão umbilical unindo Céu e
Terra, e os egípcios necessitariam de uma nova estrutura teológica para expressar a relação de sua nova
trindade formada por duas terras e um céu.
Na antiga cidade de Annu (mais tarde chamada de On na Bíblia, e de Heliópolis pelos gregos) havia
um pilar sagrado que também se chamava Annu - possivelmente antes da cidade. Esse, acreditamos, era o
grande pilar do Baixo Egito e sua contraparte, o Alto Egito, quando da unificação estava na cidade de
Nekheb. Mais tarde a cidade de Tebas, então conhecida como "Waset", tinha o título de "Iwnu Shema",
que significava "o Pilar do Sul".
Através da análise de rituais das crenças egípcias posteriores, viemos a acreditar que os pilares
sagrados se tornaram a manifestação física da unificação. Simbolizando a união das duas terras em um só
reino, os dois pilares foram considerados unidos pela celestial viga de Nut, a deusa do céu, as três partes
formando um portal arquitetônico. Com um pilar ao sul e outro ao norte, a abertura naturalmente se
voltava para o leste para saudar o Sol nascente. Em nossa opinião isso representava a estabilidade, e
enquanto os dois pilares permanecessem intactos o reino das Duas Terras prosperaria. Achamos isso
muito mais pertinente quando notamos que o hieróglifo egípcio para as Duas Terras, chamado "taui", era
o que se poderia descrever como sendo dois pilares voltados para o leste, com pontos que indicavam a
direção do nascer do sol.
Olhando do leste para essa porta espiritual, o pilar da direita era o do Baixo Egito, correspondente
ao pilar maçônico Jachin, que significa "estabelecer". Não há explicação no ritual moderno para o que
isso realmente signifique, mas a nós parece vir diretamente do Baixo Egito, a mais antiga das terras. De
acordo com o mito egípcio esse era o lugar onde o Mundo veio a existir a partir do caos primordial
chamado Nun, e, portanto, "Jachin" significa nada menos que o estabelecimento do Mundo.
Para os egípcios o pilar da esquerda marcava a conexão do Céu com o Alto Egito, e no ritual
maçônico ele é identificado como Booz, que quer dizer "força" ou "na força". Como demonstraremos no
próximo capítulo, essa associação Surgiu quando a terra. do Alto Egito mostrou grande força. em tempos
de necessidade do Egito, em uma época em que o Baixo Egito esteve perdido temporariamente nas mãos
de um inimigo poderoso.
A Maçonaria diz que a unificação dos dois pilares representa "estabilidade", e que não há dúvida de
que isso descreve como o Egito se sentia. Enquanto ambos os pilares estivessem intactos, o reino das
Duas Terras prosperaria. Esse tema da força através da unidade de dois pilares foi, acreditamos nós, o
início de um conceito que viria a ser adotado sob muitas formas por culturas posteriores, incluindo os
judeus e mais recentemente, a Maçonaria.
Ao estudar a história do Egito nós imediatamente percebemos um ideal que era absolutamente
essencial à sua civilização: era um conceito denominado Ma'at. À luz de nossas pesquisas é possível
imaginar nossa alegria e excitação quando demos com a seguinte definição:
O que caracterizava o Egito era a necessidade de ordem. As crenças religiosas egípcias não
tinham grande conteúdo ético mas em termos práticos havia um reconhecimento geral de que a justiça
era um bem tão fundamental que era parte da ordem natural das coisas. O juramento solene do Faraó ao
apontar seu vizir deixava isso bastante claro: a palavra usada, Ma'at, significava alguma coisa mais
compreensível que agir bem. Originalmente o termo era físico: significava nivelado, ordenado, e
simétrico como as fundações de um templo. Mais tarde passou a significar retidão, verdade, justiça.
Pode haver uma descrição mais clara e acurada da Maçonaria? Como Maçons, acreditamos que não.
A Maçonaria se considera um sistema peculiar de moralidade baseado no amor fraternal, no apoio mútuo
e na verdade. O Maçom recém-iniciado é informado de que todos os esquadros e níveis são sinais seguros
pelos quais se pode conhecer um Maçom.
A Maçonaria não é uma religião, da mesma forma que o conceito de Ma'at não era parte integrante
de alguma lenda ou estrutura teológica. Ambas são compreensões pragmáticas de que a continuidade da
civilização e progresso social reside na habilidade individual de "fazer aos outros como se faz a si
próprio". O fato de ambas usarem o plano e construção de um templo como exemplo, além de observar
que o comportamento humano deve estar nivelado e aprumado, está certamente além da mera
coincidência. É raro encontrar em qualquer sociedade um código moral que exista fora de um sistema
religioso, por isso é justo dizer que Ma' at e Maçonaria, pedra por pedra, nível por nível, têm uma
semelhança que muito pode ensinar ao mundo moderno.
Quando começamos a apreciar a força e beleza de Ma'at sentimos mais e mais que a Maçonaria, em
sua forma atual, era dela uma pobre descendente, se descendente fosse. Talvez os membros de uma
Grande Loja se identifiquem com os valores reais que indiscutivelmente fazem parte da Ordem, mas
tememos dizer que, de acordo com nossa experiência, poucos Maçons ativos têm sequer um vislumbre do
esplendor social com o qual estão associados. Em nosso mundo ocidental moderno, valores tais como
piedade e caridade se confundiram com a religião, sendo quase sempre chamados de "valores cristãos", o
que é uma vergonha. Muitos cristãos são, é claro, pessoas piedosas e caridosas, mas nós acreditamos que
isso tem mais a ver com sua espiritualidade individual que com qualquer exigência teológica. Da mesma
forma, alguns dos mais terríveis e desumanos atos da história têm sido realizados em nome do
Cristianismo.
Analisando as equivalências modernas de Ma'at, não podemos deixar de observar que muitos
socialistas e comunistas se consideram buscadores não teológicos da bondade e equanimidade humanas.
Quando o fazem, se enganam.
Como uma religião qualquer, seu credo exige a aceitação prévia de uma metodologia pré-ordenada
para que sua "bondade" funcione: Ma'at era a bondade pura, dada de graça. Parece-nos razoável dizer que
se a sociedade ocidental algum dia alcançar seus amplos objetivos de igualdade e estabilidade, finalmente
teremos redescoberto Ma'at. Se engenheiros modernos se maravilham com os dificilmente imitáveis
talentos dos construtores das pirâmides, o que nossos cientistas sociais não poderiam fazer com um
conceito como esse?
Nesse momento percebemos que o elo entre a os valores maçônicos e os de Ma'at era difícil de
negar. Certamente alguns alegarão que a Maçonaria foi uma fantasiosa invenção do século XVII,
estilizada a partir dos conceitos de Ma'at. Mas este argumento não se sustenta, porque os hieróglifos não
puderam ser entendidos até que se decifrasse a Pedra de Rosetta - que trazia a tradução dos hieróglifos em
grego - cem anos depois que a Grande Loja de Inglaterra já se estabelecera. Antes disso, obviamente não
havia nenhuma maneira para que a Maçonaria conhecesse e entendesse Ma'at de maneira a usá-la como
seu modelo estrutural.
Havíamos encontrado no Antigo Egito uma civilização que pregava os princípios que havíamos
aprendido no ritual da Maçonaria, e que também usava o conceito dos dois pilares dentro de sua estrutura
civil. Havia também uma história de assassinato e ressurreição ligada ao nome de Osíris, mas ela não
estava conectada ao arquiteto do Templo de Salomão, ou de qualquer outro templo. Obviamente era
preciso que olhássemos para a civilização do Antigo Egito muito mais detalhadamente.
Os egípcios haviam experimentado as limitações da decisão individual durante seu período
formativo, e por isso iniciaram, através da genialidade da ampla idéia de Ma'at, a construção de uma nova
ordem que servisse tanto aos deuses quanto aos homens. O temperamento futuro do povo egípcio, parecenos,
havia sido moldado pelo espírito de tolerância e amizade. Em tempos antigos Ma'at havia se tornado
a base para o sistema legal e logo se tornou a própria "retidão", desde o equilíbrio do universo e seus
corpos celestes até a honestidade e a justeza de princípios na vida cotidiana. Na antiga sociedade egípcia,
o pensamento e a natureza eram entendidos como dois lados de uma mesma realidade, e o que quer que
fosse regular e harmonioso em qualquer um desses lados era considerado como uma manifestação de
Ma'at.
Estávamos cientes, a partir de nossos estudos maçônicos, de que a apreciação de tudo que fosse
"regular" e "harmonioso" é central em toda a Maçonaria e que o direito de livre investigação dos
mistérios da natureza e da ciência é dado a todos Companheiros ou Maçons do 2° Grau.
A história de Set e Osíris que narramos antes demonstrava ao povo do Egito que a regra divina da
legitimidade dos reis não podia ser quebrada, mesmo pelos poderes de desagregação e anarquia que Set
representava. O conceito de Ma'at se tornou o mais importante traço de um bom rei e os antigos registros
mostram que cada rei e faraó era descritos como "aquele que pratica Ma'at", "protetor de Ma'at" ou
"aquele que vive sob os preceitos de Ma'at". A ordem social e o equilíbrio da justiça fluíam da fonte de
Ma'at, o deus-vivo Horus, o rei. Apenas através da preservação da linhagem divina dos reis é que a
civilização do Egito podia sobreviver. Essa apresentação de Ma'at e da linha real como inseparáveis era
evidentemente um excelente mecanismo para evitar rebeliões e preservar a monarquia.
Não só a estabilidade política do país era sustentada pelo amplexo de Ma'at, mas também toda a
prosperidade da nação. Se as pessoas vivessem suas vidas de acordo com Ma'at, os deuses assegurariam
que o Nilo traria consigo uma enchente do tamanho exato para fertilizar a colheita que alimentaria a população.
Muita ou pouca água seria culpa do povo e do rei. Viver sob os preceitos de Ma' at garantia a
vitória na guerra. Inimigos do país eram vistos como as forças do Caos, e seriam derrotados porque os
deuses apoiavam o bom povo de Ma'at.
Ma'at era eventualmente considerada como deusa. Era a filha do deus sol Rá e navegava com ele
pelo céu em um barco, sendo também mostrada como aquela que ficava na frente do barco garantindo que
se manteria um curso perfeito e verdadeiro. Ma'at sempre traz uma pena de avestruz em seu ornato de
cabeça, e um ankh pendurado em cada braço. O ankh era e é o símbolo da vida. Tem a forma de um
crucifixo, com a parte de cima cortada de cima a baixo e aberta para os lados, formando um olho ou um
barco em posição vertical.
Uma outra descoberta muito significativa para nós foi a de que o irmão de Ma'at era o deus-lua
Thot, que quase sempre é mostrado na proa do barco de Rá ao lado de Ma'at. Nosso interesse cresceu
quando encontramos referências para o fato de que Thot era uma figura importante em certas antigas
lendas maçônicas.
Foi Thot quem ensinou aos egípcios a arte de construir e a religião, e diz-se que foi ele quem
estabeleceu o que é verdadeiro. Um rei que combatia o mal era considerado um bom deus - e herdeiro de
Thot.
A Feitura de um Rei
Como mostramos, a Maçonaria tem muitos elementos que são egípcios, usando pirâmides e o olho
de Amon-Rá, mas ninguém realmente acredita haver qualquer ligação. As tradições orais da Maçonaria
datam o estabelecimento do ritual em mais ou menos 4000 anos atrás, mas ninguém crê que isso seja
verdade. No entanto, com a possível origem egípcia das colunas e a natureza idêntica à de Ma'at,
estávamos começando a acreditar em uma possível ligação. O lugar de se iniciar a busca por evidências
mais profundas da similaridade dos rituais tinha que ser os costumes do rei e de sua corte.
Quando o senhor das duas terras morria, ele se tornava Osíris e seu filho imediatamente se tornava
Horus e o novo rei. Quando o rei não tinha filhos os deuses eram chamados para resolver o problema. No
entanto, acreditávamos que eram os membros de uma "loja real" que tomavam as decisões e assim que a
iniciação do novo "mestre" estava completa, o Horus estava além de toda competição, para sempre.
Uma dessas ocasiões seguiu-se à morte de Tuthmosis II em 1504 a.C. Ele tinha uma filha de sua
mulher, Hatshepsut, mas seu único filho nascera de uma concubina chamada Isis. Esse filho sucedeu ao
pai com o nome de Tuthmosis III e narrou a estranha história de como o deus Amon o havia escolhido
como novo senhor das duas terras. Quando ainda jovem estava sendo preparado para o sacerdócio e
freqüentava o templo que o mestre construtor Ineni havia erguido para seu avô. Um dia ele estava
presente quando seu pai oferecia um sacrifício a Amon e o deus fora trazido ao Salão das Colunas de
Cedro, carregado dentro de um andor em forma de barco.
O deus era carregado à altura dos ombros, em volta de toda a sala. O jovem muito corretamente se
prostrou ao chão com os olhos fechados, mas assim que o andor o alcançou, o deus fez com que a
procissão parasse simplesmente multiplicando o seu peso, forçando os carregadores a colocá-lo no chão.
O jovem percebeu que tinha sido posto de pé e nesse momento compreendeu que fora escolhido como o
próximo Horus, mesmo com seu pai ainda vivo.
Essa história tem uma forte semelhança com o comportamento atribuído a Yahweh quando era
carregado em sua Arca (seu andor em formato de barco) pelos israelitas. Isso nos levou a pesquisar no
Livro do Êxodo sob uma nova luz, e começamos a perceber o quanto a história de Moisés e de seus
israelitas realmente era egípcia.
Em nossa opinião a cerimônia de coroação do novo Horus (o futuro rei) também era a cerimônia
funeral do novo Osíris (o rei que se ia) Esses eventos eram realizados em segredo e estavam restritos ao
corpo interno de oficiais muito graduados - uma Grande Loja? Entre esses estavam obviamente incluídos
os grandes sacerdotes e os membros homens imediatos da família real, mas mestres construtores, chefes
dos escribas e generais do exército também poderiam estar incluídos. A liturgia funerária não foi
registrada, mas muitos dos procedimentos foram ordenados para traçar um quadro bastante esclarecedor.
Descobrimos serem muito significativos o reconhecimento e a coroação dois eventos separados. O
reconhecimento acontecia normalmente na primeira luz do dia imediatamente após a morte do velho rei,
mas a coroação era celebrada um bom tempo depois. A despeito dos extensos registros feitos pelos
egípcios, não foi encontrada qualquer descrição completa de uma coroação egípcia, o que sugere que
importantes partes eram um completo segredo ritualístico transmitido para um pequeno grupo de forma
exclusivamente verbal.
Sabe-se que o ritual de feitura-de-rei era realizado na pirâmide de Unas. Como em um templo
maçônico, o teto da câmara principal representa o céu com as estrelas em seus devidos lugares. A visão
mais aceita é a de que a cerimônia era celebrada na última noite da lua minguante, começando ao pôr-dosol
e levando toda noite até o nascer do sol, sendo seu propósito um ritual de ressurreição que identificava
o rei morto com Osíris. As cerimônias de ressurreição não era exclusivas da morte de um rei e na verdade
parecem ter sido eventos bastante freqüentes realizados no templo mortuário. Já se sugeriu que esses eram
rituais para honrar ancestrais reais, mas também podem ter sido cerimônias de admissão de novos
membros ao grupo real mais interno, durante a qual eram figurativamente ressurrectos antes de ser
admitidos aos segredos e mistérios concedidos de boca a ouvido desde o tempo dos deuses. Claro está que
esses segredos, por definição, requereriam a existência de uma "sociedade secreta", um grupo de
privilegiados que constituiria uma sociedade a parte. Tal grupo teria que realizar cerimônias de admissão:
nenhuma instituição de elite antiga ou moderna deixa de ter uma cerimônia de admissão dos membros comuns
ao patamar do grupo interno mais restrito.
No ritual de coroação / funeral, o velho rei era ressurrecto no novo, e se provava candidato
adequado viajando por todo o perímetro de seu país. Isso era um ato verdadeiramente simbólico, já que o
novo rei era conduzido em toda a volta do templo para mostrar-se como um candidato de valor aos
presentes, que incluíam o deus Rá e seu assistente direto. Em uma cerimônia maçônica o novo membro
também é conduzido por toda a volta do templo para provar-se um candidato de valor.
Depois de passar por todos os pontos da rosa dos ventos ele é apresentado ao sul, ao oeste e
finalmente ao leste. O primeiro deles ao Segundo Vigilante, que representa a Lua (Thot era o deus da
Lua), depois ao Primeiro Vigilante, que representa o Sol (Rá era o deus do Sol) e finalmente ao Venerável
Mestre, que se pode dizer que represente Osíris. Como os egípcios, os Maçons também conduzem suas
cerimônias à noite.
As similaridades são fortes, mas que evidência tínhamos de que existia realmente uma sociedade
secreta, quanto mais que os princípios da cerimônia de coroação se estendiam à iniciação de seus
membros?
Há muitas inscrições indicando a existência de um grupo selecionado a cujos membros era dado o
conhecimento de coisas secretas. Uma inscrição em uma porta falsa, agora no Museu do Cairo, foi feita
por alguém que ficou surpreendido e honrado em ser admitido ao grupo interno do rei Teti. Lá está escrito
assim:
Hoje em presença do Filho de Rã, Teci, para sempre vivo, alto sacerdote de Ptar, mais honrado
pelo rei que qualquer de seus servos, como mestre das coisas secretas de toda tarefa que sua majestade
deseje feitas, agradando ao coração de seu senhor todos os dias, alto sacerdote de Phtá, Sabu, Alto
Sacerdote de Ptar, portador da taça do rei, mestre das coisas secretas do rei em todas as partes... quando
sua majestade me favoreceu, fez com que eu entrasse na câmara privada, fez com que eu arrumasse em
seu nome as pessoas em todos os lugares, e lá encontrei o caminho. Nunca foi assim feito a outro servo
que não eu, por nenhum soberano, porque sua majestade me amava mais que a qualquer um de seus
servos, porque eu estava honrado em seu coração. Eu fui útil na presença de sua majestade, encontrei o
caminho de todas as coisas secretas da corte, fui honrado pela presença de sua majestade.
Essa pessoa obviamente sentiu que sua aceitação em grupo tão excelso era bem pouco usual para
alguém que ocupasse o seu cargo original, o que indica que indivíduos mais velhos e importantes
provavelmente tinham direitos de serem membros desse grupo, o rei e provavelmente outros tinham
autoridade suficiente para indicar outras pessoas selecionadas.
Egiptólogos nunca encontraram uma explicação para a expressão "encontrei o caminho" em
referência a assuntos secretos, mas podemos interpretar isso como sendo instrução em conhecimento
secreto que posteriormente se tornava uma maneira de viver. Um ponto importante é que os essênios e a
Igreja de Jerusalém usavam a mesma expressão para os que seguiam sua Lei.
Outra inscrição se refere a um construtor desconhecido que também era membro secreto do grupo
interno de apoiadores do rei Teti:
Assim fiz para que sua majestade me elogiasse por conta disso... [sua majestade fez com que eu
entrasse] na câmara privada e que eu me tornasse membro da corte do soberano. .. sua majestade me fez
conduzir os trabalhos do templo. .. e nas pedreiras de Troja. .. fiz uma porta falsa, no decorrer do
trabalho.
A expressão "câmara privada" é uma tradução nonocentista que foi escolhida por descrever o que
modernamente seria a sala pessoal de um rei, mas isso não se confunde com o termo "corte do soberano",
que implica toda a equipagem de um palácio. Talvez pudesse ser mais bem expressa assim: "Sua
majestade permitiu-me entrar a câmara real de acesso restrito para que eu pudesse me tornar membro da
elite real".
Como já vimos, havia instruções sobre práticas secretas para essa elite, que provavelmente eram
concedidas em cerimônias ocultas da vista de indivíduos menos importantes. Isso representaria o mais
alto nível de aceitação a que um homem podia aspirar: mas para um homem que era também um deus,
Horus, havia um evento ainda mais especial - a feitura de um rei. Era uma ocasião tremendamente
importante por representar a continuidade do elo entre as Duas Terras e a prosperidade e estabilidade que
elas viviam. No entanto, entre a morte do velho rei e a confirmação do novo havia um ponto de perigo,
por abrir espaço para a oportunidade de uma insurreição.
O egiptólogo H. W. Fairman comentou:
É bastante evidente que em algum ponto da feitura de um rei, em sua escolha ou sua coroação,
alguma coisa acontecia que garantia a sua legitimidade, o que automaticamente desarmava qualquer
oposição, exigindo e obtendo a lealdade, e isso simultaneamente o transformava em um deus, ligando-o
diretamente ao passado do Egito.
Essa visão é partilhada por muitos, mas até agora nenhuma evidência específica havia vindo à luz
para identificar esse evento-chave como parte da cerimônia. Graças às nossas pesquisas mais amplas, uma
nova e surpreendente teoria sobre a natureza especial da feitura de reis no Egito havia nos ocorrido.
Comecemos revendo o que já se sabe do ritual de fazer reis:
A coroação tinha lugar em dois estágios. O primeiro estágio incluía a unção e a investidura com um
colar cerimonial e um avental assim como a apresentação do ankh (símbolo da vida) e quatro buquês. No
segundo estágio as insígnias reais eram apresentadas e o ritual principal tinha início. Uma parte crucial
disso era a reafirmação da união entre as Duas Terras e a feitura do novo rei pela apresentação de duas
coroas diferentes e de todos os paramentos. Nunca foi revelado em que ponto desses procedimentos o rei
se tornava um deus.
Sugeriríamos que o processo crucial e central da feitura de um rei envolvia a viagem do candidato
através das estrelas, para que fosse admitido como membro da sociedade dos deuses, e lá fosse
transformado em Horus, possivelmente por ser espiritualmente coroado pelo velho rei - o novo Osíris. Em
algum ponto dos acontecimentos dessa noite o velho e o novo rei viajavam juntos para a Constelação de
Orion, um para permanecer em sua casa celestial e o outro para aprender a governar a terra dos homens.
O novo rei teria passado por uma "morte", por meio de uma poção administrada a ele pelo sumosacerdote
durante um encontro do grupo interno dos portadores do real segredo. Essa droga teria sido um
alucinógeno que lentamente induzia a um estado catatônico, deixando o novo rei inerte como qualquer
cadáver. Com o passar das horas a poção perdia seu efeito e o Horus recém-feito retornaria de sua visita
aos deuses e antigos reis do Egito. A volta seria perfeitamente calculada para que o novo rei retornasse à
consciência precisamente quando a estrela da manhã surgisse no horizonte. Desse momento em diante
nenhum mortal sequer pensaria em usurpar seu poder, divinamente concedido em um conselho dos deuses
que habitam os céus. Uma vez tendo os membros da elite do rei, os "portadores do real segredo", decidido
a quem erguer para o divino e exclusivo grau de Horus, o momento para qualquer tipo de competição já
teria passado.
Essa teoria lógica respeita todos os critérios acadêmicos para intuir a parte desconhecida da
cerimônia que tornava o rei intocável. Esse processo conseguiria:
1. Desarmar a oposição e garantir lealdade total;
2. Transformar o novo rei em um deus (status que, obviamente, nenhum homem poderia conceder);
3. Ligá-lo diretamente com o passado do Egito (já que havia visita do todos os reis anteriores).
Provando o Improvável
Se houvéssemos descoberto uma nova câmara em uma das pirâmides e em uma de suas paredes
uma descrição completa desse ritual de feitura de reis, teríamos provas suficientes para que muitos (ainda
que não todos) os acadêmicos aceitassem nossa teoria como viável. Não é esse o caso, e com certeza isso
não acontecerá.
Os registros de eventos não incluiriam nem detalhes de uma poção administrada ao futuro rei nem
detalhes da química de embalsamamento usada no rei morto. Já que os hieróglifos falham em registrar
que o candidato à realeza experimentava uma "morte temporária" e viajava às estrelas, diríamos que o
evento principal era a criação de um Osíris e que a criação de um Horus era um evento implícito ao
principal. Existem muitas provas circunstanciais para apoiar essa teoria.
Antes de entrarmos nas razões pelas quais acreditamos que essa teoria está correta, gostaríamos de
lembrar que nossa aproximação a esse assunto sempre partiu de dois pontos de vista. Segundo nosso
sistema, nós nunca ignoramos nenhum fato provado, e sempre indicamos claramente quando estávamos
especulando; Em contraste com a enorme quantidade de novas idéias que colocamos neste livro, não
podemos de nenhuma forma apresentar provas absolutas de que era assim que se faziam reis, mas esta é
sem dúvida uma teoria que preenche as lacunas no processo conhecido de feitura de reis egípcios, e toda
ela se apóia nos fatos como eles são.
Muitas pessoas têm a impressão de que os antigos egípcios construíam as pirâmides para servir
como sepultura para seus faraós. Na verdade, a época na qual as pirâmides foram construídas foi
relativamente muito curta, e talvez seja uma surpresa para muitos leitores saber que a rainha Cleópatra
está temporalmente mais próxima dos técnicos da NASA que dos construtores da Grande Pirâmide.
Também está bem longe da verdade a idéia de que o objetivo principal das pirâmides era prover espaço
sepulcral para reis mortos, e seu propósito e verdadeiro significado ainda é amplamente discutido. Uma
analogia útil seria o fato de que a Catedral de São Paulo não é a sepultura de sir Christopher Wren, ainda
que ele esteja enterrado nela.
A maior fonte de informações sobre o ritual de Osíris/ Horus vem de inscrições conhecidas como
Textos da Pirâmide, encontrados dentro das cinco pirâmides de Saqqara, perto do Cairo, das quais a mais
importante é a do rei Unas, que data do final da Quinta Dinastia dos reis. Apesar de ter 4300 anos ela
ainda é uma pirâmide relativamente tardia, mas o ritual que ela descreve é considerado como tendo 5300
anos de idade.
O estudo desses textos produziu uma reconstrução de alguns dos elementos do ritual, mas o que
falta acaba se revelando naturalmente. Essa reconstrução descreve as várias câmaras e o ritual específico
de cada uma delas: a câmara fúnebre representa o mundo inferior, a antecâmara, o horizonte ou mundo
superior, e o teto era o céu noturno. O caixão contendo o corpo do rei morto era trazido à câmara fúnebre
onde o ritual era executado.
O corpo era colocado dentro do sarcófago e os membros da elite passavam para antecâmara,
quebrando dois vasos vermelhos na passagem. Durante a cerimônia o Ba (a alma) do rei morto deixava o
corpo e atravessava o mundo inferior (a câmara fúnebre) e então, adquirindo forma tangível como estátua
de si próprio, prosseguia atravessando o céu noturno e alcançando o horizonte onde se religava ao Senhor
de Tudo.
O processo então se repetia de forma abreviada. Para quem? Talvez para o candidato a rei?
O aspecto mais tantalizante dessa interpretação do texto da Pirâmide de Unas é que ele contém
outro ritual que corre por baixo do ritual principal. Era um ritual silencioso, exclusivamente relativo a
algo como uma ressurreição. Parece ter sido realizado como parte do ritual falado, começando, na medida
em que os celebrantes atravessavam da câmara fúnebre para a antecâmara, com a quebra dos dois vasos
vermelhos.
A única tentativa de explicação para esse ritual paralelo é a de que ele ocorreria no Alto Egito,
enquanto o falado, o mais importante, ocorria no Baixo Egito. Em vez disso, cogitamos se não poderia ter
sido pelo transporte do candidato a rei temporariamente "morto", que teria que ser ressurrecto sob forma
humana antes que a tumba fosse selada.
As mesmas cerimônias, hoje se sabe, foram conduzidas de forma idêntica em outros períodos, e
muitos peritos crêem que o ritual seja mais antigo que a mais antiga história egípcia, que começa por
volta de 3200 a.C.
Uma oração de uma pirâmide da Sexta Dinastia (2345 -2181 a.c.) expressa o espírito da teologia do
Antigo Egito, que se fundamentava sobre a ressurreição das estrelas e a manutenção da estabilidade sobre
a Terra:
Tu permaneces, ON, protegido, paramentado como deus, paramentado com o aspecto de Osíris no
trono do Primeiro dos Ocidentais. Tu fazes o que ele desejou fazer entre os espíritos, as Estrelas
Inextinguíveis. Teu filho fica em teu trono, paramentado com teu aspecto: ele faz aquilo que tanto
desejaste, fazendo comando dos vivos por ordem de Rá, o Grande Deus: ele cultiva cevada, ele cultiva
espelta55, com os quais possa depois te presentear. Oh, N. toda a vida e domínio a ti são dados, e a
eternidade é tua, diz Rã. Tu mesmo dizes que recebeste o aspecto de um deus, e tu és, portanto, grande
entre os deuses que estão no estado. Oh, N, teu Ba se ergue entre os deuses, entre os espíritos: e o temor
de ti está em seus corações. Oh, N, esse N se coloca em teu trono como cabeça dos vivos: e o temor de ti
está em seus corações. O teu nome que está na terra vive, teu nome que está na terra, permanece: tu
nunca perecerás, tu nunca serás destruído para sempre e sempre.
Consideremos agora a prece silenciosa pelo candidato a rei, que experimentará sua breve morte
passando pelo mundo inferior e encontrando os reis passados das Duas Terras:
Poderoso e externo Rá, Arquiteto e Senhor do Universo, sob cuja vontade criativa todas as coisas
em principio foram feitas, nós frágeis criaturas de tua providência, humildemente imploramos que
derrames sobre essa assembléia, reunida em teu nome, o orvalho contínuo de tua bênção. Mais
especialmente te rogamos que concedas tua graça a este servo que busca partilhar conosco os segredos
das estrelas. Enche-o de tal fortitude para que na hora de suas provas ele não falhe, mas passe em
segurança sob tua proteção, através do negro vale da sombra da morte e finalmente se erga do sepulcro
da transgressão para brilhar como as estrelas, para sempre e sempre.
Não combina perfeitamente? Mas não é nenhum ritual do Antigo Egito: é uma oração oferecida na
cerimônia maçônica do 3° Grau antes que o candidato passe pela morte figurativa para ser ressurrecto
como Mestre Maçom!
E quanto à sugestão de que uma poderosa droga narcótica era usada para "transportar" o novo rei
até as estrelas e de volta? Como já dissemos, não haveria registro dessa poção da mesma forma que não
existe nenhum registro real do ritual de coroação.
Parece razoável não haver registros do mais importante momento da feitura de um rei porque
ninguém sabe qual ele era: o candidato tomava a poção, viajava até as estrelas e retomava como rei e
Horus. Tudo que os que permaneciam na terra tinham a fazer era apresentar-lhe os paramentos de oficio
sem nada lhe perguntar sobre os negócios dos deuses, dos quais esse rei era agora um. O próprio rei sem
dúvida teria estranhos sonhos induzidos pela droga, mas não revelaria, é claro, nenhum deles. Por este
processo da cerimônia de feitura-de-reis, o novo Horus era colocado indiscutivelmente como a escolha
divina para governar as Duas Terras.
Drogas narcóticas têm sido usadas em cerimônias religiosas em quase todas as antigas culturas
humanas e seria surpreendente se uma cultura avançada como a dos antigos egípcios não possuísse
conhecimento muito sofisticado sobre seu uso. A pergunta não é se eles usavam essas drogas, mas sim
porque acreditamos que eles não as usavam. O método usual para que um homem alcançasse os céus pela
morte era atravessar essa ponte ainda em vida, usualmente com a ajuda de narcóticos:
A ponte funerária, um elo entre a Terra e o Céu que os humanos usam para se comunicar com os
deuses, é um símbolo comum a todas as antigas práticas religiosas. Em algum ponto do passado distante
tais pontes eram de uso muito habitual, mas com o declínio do homem tornou-se cada vez mais difícil
usar essas pontes. Pessoas só podem cruzar esta ponte com seu espírito estando mortas ou em estado de
êxtase. Tal travessia seria cheia de dificuldades: nem todas as almas conseguiriam atravessá-la, porque
demônios e monstros poderiam derrotar aqueles que não estivessem adequadamente preparados. Apenas
os ''bons'' e traquejados adeptos que já conheciam o caminho através de um ritual de morte e ressurreição
poderiam atravessar a ponte com facilidade,
Essas idéias do Xamanismo se coadunam em todos os sentidos com o que sabemos das crenças do
Egito. Demônios eram afastados da passagem de Osíris por meio de maldições proferidas, mas na
realidade o caminho seria bastante seguro por duas razões: inicialmente, ele vivia segundo os preceitos de
Ma'at, e, portanto, era um bom homem: segundo, ele já conhecia o caminho por tê-lo atravessado quando
fora transformado em Horus. Talvez a passagem do novo rei fosse conduzida em silêncio para não
chamar a atenção de demônios. O novo rei podia então seguir o velho rei através dos céus, aprendendo o
caminho para que um dia pudesse guiar o próximo rei, quando de sua própria morte.
Mais tarde descobrimos que Henri Frankfort havia percebido que os ritos de renascimento do rei
morto eram conduzidos paralelamente aos rituais de coroação de seu herdeiro. Isso confirmou nossa visão
de uma cerimônia dupla para o rei morto e o vivo. Além do mais, uma passagem dos Textos da Pirâmide
mostra que o novo Horus era considerado como sendo a estrela da manhã, quando o novo Osíris diz:
Os juncos flutuantes do céu estão postos em seu lugar para mim, para que sobre eles eu atravesse
até Rá no horizonte... eu me erguerei entre eles, pois a lua é meu irmão e a Estrela da Manhã é meu
descendente. . .
Cremos que muito da teologia e tecnologia dos egípcios foi adotada dos segredos dos construtores
de cidades da Suméria, e que os sumérios eram extremamente bem versados no uso de drogas para
propósitos religiosos.
A próxima pergunta que tínhamos a fazer era se os rituais de ressurreição eram ou não reservados
com exclusividade para as cerimônias de coroação. A resposta parece ser que não. Lá pelo final do Velho
Reino (cerca de 2181 a.C.) alguma forma de cerimônia de ressurreição real era realizada anualmente, e
com o progresso do Meio-Reino, o ritual começou a ser aplicado às pessoas graduadas, provavelmente
fora do grupo interno do rei. Essas pessoas não-reais com toda certeza não teriam acesso ao conhecimento
do grupo real.
A Estrela da Manhã Brilha Novamente
Agora era preciso que levássemos em conta um elemento vital da teologia egípcia. Como dissemos
antes, a teologia do Egito era um desenvolvimento das crenças da Suméria. Mais ainda: as crenças dos
futuros hebreus (e por conseqüência dos cristãos) eram um desenvolvimento da teologia egípcia
acrescentada de posteriores versões babilônicas do mesmo material fonte. Já havíamos chegado a uma
identificação em comum da estrela da manhã como símbolo de renascimento na Comunidade
Essênia/Igreja de Jerusalém e a Maçonaria: agora reencontrávamos o tema mais uma vez no Antigo Egito.
Os Textos da Pirâmide 357, 929, 935 e 1707 se referem à descendência do rei morto (Horus) como sendo
a Estrela da Manhã.
É interessante notar que o hieróglifo egípcio para a Estrela da Manhã tem o significado literal de
"conhecimento divino". Isso parece apoiar nossa tese de que o candidato à realeza era elevado ao status
de novo deus/rei Horus ao partilhar os segredos dos deuses na terra dos mortos, onde aprendia todos os
grandes segredos antes de voltar à Terra quando a Estrela da Manhã surgisse no horizonte imediatamente
antes do nascer do sol.
Estávamos trabalhando nessa fase de nossa pesquisa quando um novo livro foi publicado, alegando
trazer nova luz ao objetivo da construção das pirâmides simplesmente pela análise de seu projeto
astrologicamente inspirado. Robert Bauval e Adrian Gilbert divulgaram um caso bem montado e
defendido em que mostram que as pirâmides de Gizé estão arrumadas sobre o solo em uma cópia
intencional das estrelas no Cinturão de Orion.
Também fazem referência a rituais que eram conduzidos nos degraus dos zigurates da Antiga
Mesopotâmia, envolvendo a "Estrela da Manhã, vista como a Grande Deusa Cósmica Ishtar". Essa
evidência da confirmação de um caminho completamente diferente conforma o que havíamos descoberto
de maneira independente trabalhando temporalmente para trás a partir dos rituais da Maçonaria moderna.
No Egito o novo rei, Horus, é a Estrela da Manhã, erguendo-se (como se ergue o Maçom) de uma
morte figurativa e temporária. A Estrela da Manhã, o planeta Vênus, estava provando ser um elo muito
importante em nossa corrente.
Mas não importa quão fascinante fossem os paralelos com essênios e Maçonaria que tivéssemos
encontrado nas práticas egípcias, porque ainda havia uma pergunta óbvia a ser respondida. Havia
realmente um caminho para as idéias de Ma' at, os segredos dos reis do Egito e um ritual detalhado de
ressurreição que pudéssemos traçar até os Essênios? Para descobrir isso, era preciso que olhássemos mais
atentamente a história de Osíris.
O peculiar destino de Osíris - seu brutal assassinato e desmembramento, executados por seu irmão
Set, seguidos de sua ressurreição e exaltação às estrelas - é um exemplo muito remoto de vingança e
recompensa do sofrimento inocente. O destino de Osíris trazia esperança aos estratos mais baixos da
sociedade, dando um significado e um propósito para o sofrimento. O culto de Osíris tornou-se um culto
funerário, acessível ao egípcio comum. Enquanto outros deuses se mantinham afastados em seus templos,
Osíris podia ser cultuado em qualquer lugar por qualquer pessoa, ao lado do deus local.
Substitua-se "destino" por "crucificação" e essa descrição pode ser aplicada a Jesus Cristo.
Começávamos a achar possível que houvesse conexões de cuja existência sequer suspeitávamos. Não
tivemos que esperar muito até que uma hipótese viesse à tona. Quando estávamos no meio da análise do
próximo período chave da história do Egito, o personagem central de nossas pesquisas, Hiram Abiff,
emergiu das brumas do tempo para nos confrontar.
Conclusão
Sentíamos que pelo menos havia a probabilidade de que os primeiros construtores egípcios tivessem
origem na Suméria e que esses imigrantes sumérios houvessem trazido tanto a tecnologia quanto a
teologia para o Egito. A florescente civilização egípcia já estava bem estabelecida por volta de 3100 a.C.
e os dois reinos do Alto e Baixo Egito já se haviam entrelaçado como duas metades de um mesmo Estado
único. Essa unificação dos dois reinos com um só governante divino provaria ser muito importante para o
desenvolvimento de nossas investigações.
O direito de governar do rei era baseado na história do assassinato de Osíris por Set, e contava
como Isis havia reconstruído o corpo de Osíris, tendo depois um filho dele, Horus. Horus partiu para
tomar de volta os reinos do Egito batalhando fortemente contra Set. Cada rei, daí em diante, era
considerado como sendo uma encarnação de Horus, literalmente "o filho de Deus". Quando o rei morria,
ele se transformava em Osíris (o Deus Pai) e ia morar no reino dos mortos, enquanto seu filho se tornava
Horus, o novo rei vivo.
Havíamos descoberto que a segurança do estado como um todo dependia dos dois reinos
trabalhando juntos, e que essa cooperação era simbolizada pelos dois pilares, um ao norte e outro ao sul,
unidos por uma viga celeste formando um portal que ficava de face para o sol nascente. Esse poderoso
conceito da força através da unidade de dois pilares ainda é um tema central nos rituais maçônicos, um
tema com o qual estávamos grandemente familiarizados.
Esse não era o único elo que havíamos descoberto com a Maçonaria moderna: o conceito de Ma'at,
significando retidão, verdade e justiça dentro de um esquema simetricamente nivelado e ordenado,
resumia os princípios que havíamos aprendido como Maçons. Esse código humanista de ética não era um
mandamento religioso, nem um requerimento legal- era a bondade partilhada pelo próprio prazer de
partilhar.
Sabíamos que a Maçonaria não podia ter copiado essa idéia da história do Egito, porque o conceito
de Ma'at, há muito perdido para o mundo, assim permaneceu até a decodificação da Pedra de Rosetta.
Essa pedra, que abriu o caminho para a tradução dos até então incompreensíveis hieróglifos egípcios, não
fora encontrada até cem anos depois da fundação da Grande Loja de Inglaterra.
Nesse ponto havíamos estabelecido dois elos circunstanciais com a Maçonaria: primeiro havia uma
tênue ligação de cerimônia de ressurreição ligadas à lenda de Osíris: e depois Ma'at, inicialmente uma
grande verdade e mais tarde uma deusa, era irmã de Thot, o deus da Lua, outra figura de grande
significado nos mitos maçônicos.
Enquanto investigávamos as cerimônias da feitura de reis havíamos percebido que, apesar da
liturgia fúnebre não ter registros, ela envolvia uma ressurreição ritual que identificava o rei morto com
Osíris. Também havíamos encontrado evidências que sugeriam que cerimônias similares eram amplamente
usadas apenas na feitura de reis, e não pareciam envolver uma sociedade secreta. As evidências dessa
sociedade secreta encontramos em traduções de inscrições em artefatos do Museu do Cairo - textos que
também não poderiam ter sido traduzidos antes da descoberta da Pedra de Roseta, que ocorreu bem
depois que a Maçonaria já anunciara publicamente a sua existência.
Com a percepção adicional que nosso treinamento maçônico nos forneceu, fomos capazes de tentar
uma reconstrução da cerimônia egípcia de feitura de reis, que se enquadrava com todos os fatos
conhecidos.
O mais excitante elo com o 3° Grau da Maçonaria veio de referências, nos Textos da Pirâmide, de
que o rei representava a Estrela da Manhã, que tinha papel tão importante em nossas cerimônias de
elevação. O hieróglifo egípcio para Estrela da Manhã ou Estrela Divina era a mesma estrela de cinco
pontas usada para representar os cinco pontos de perfeição no 3° Grau Maçônico. Isso obviamente nos
encorajou a investigar mais de perto as ligações com o Egito porque, apesar de nossas suspeitas, não
tínhamos nenhuma prova de quaisquer práticas que fossem inegavelmente maçônicas.
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