terça-feira, 21 de março de 2017
CAPÍTULO QUATRO - A Conexão Gnóstica Os Primeiros Censores Cristãos
O século XX foi muito rico na descoberta de manuscritos perdidos, a mais importante delas sendo a dos chamados ''Manuscritos do Mar Morto", encontrados em Qumran em uma série de cavernas do deserto, trinta e dois quilômetros a leste de Jerusalém; e a extensa coleção conhecida como "Evangelhos Gnósticos", descobertos em Nag Hammadi, no Alto Egito, em 1947. Parece razoável supor que ainda haja mais descobertas a serem feitas no futuro, assim como que tenha existido uma série de descobertas não registradas feitas no passado. As descobertas feitas antes de nosso tempo podem ser organizadas em três categorias: as conhecidas e registradas, as destruídas e/ou perdidas e as que aconteceram, mas foram mantidas em segredo. Talvez, especulamos nós, os Templários tivessem desencavado uma coleção de manuscritos similar a essas descobertas recentes, mas a tivessem mantido oculta dos olhos do mundo em geral. A Maçonaria moderna tem freqüentemente sido descrita como sendo 'gnóstica' em muitos aspectos, portanto, decidimos tomar como nosso ponto de partida a biblioteca de Nag Hammadi, buscando encontrar alguma pista do que os Templários tivessem encontrado. Os Evangelhos Gnósticos O termo 'gnóstico' é usado hoje em dia como o nome coletivo de uma longa série de trabalhos heréticos que infectaram a verdadeira Igreja durante algum tempo, mas foram postos fora da lei como tolices importadas de outras religiões. Na verdade, 'gnóstico' é um título bem pouco exato e que não identifica nenhuma escola de pensamento específica. Escritos identificados como Gnosticismo Cristão vão desde os que apresentam influências hindus e persas, entre outras, aos que apresentam um fundo de conceitos mais claramente judeus. Alguns desses trabalhos são extremamente bizarros, como a história de Jesus menino matando uma outra criança em um acesso de ira e depois ressuscitando sua vítima, enquanto outros são clara e simplesmente mensagens filosóficas atribuídas a ele. A palavra vem do grego gnosis, significando conhecimento ou compreensão, não no sentido científico, mas a partir de uma interpretação mais espiritual, assim como os budistas podem encontrar a iluminação através da auto contemplação e empatia com o mundo à sua volta. A consciência do próprio eu, a apreciação da natureza e das ciências naturais são, para os gnósticos, caminhos que levam a Deus. Muitos cristãos gnósticos viam Jesus Cristo não como um deus, mas como o homem que iluminou os caminhos, da mesma maneira que Gautama Buda e Maomé são compreendidos por seus seguidores. Os Evangelhos Gnósticos são conhecidos pelo menos há tanto tempo quanto os Evangelhos do Novo Testamento, mas esses trabalhos não-canônicos se tornaram conhecidos de um público não acadêmico muito maior depois da publicação da tradução de cinqüenta e dois rolos de papiro em escrita copta desenterrados em Dezembro de 1947, próximo à cidade de Nag Hammadi no Alto Egito. Esses documentos em particular datam de 350-400 a.C., mas muitos deles são reconhecidos como sendo cópias de documentos pelo menos trezentos anos mais velhos. Foram encontrados por um jovem árabe chamado Mohamed Ali-Al Samman e seus irmãos em um vaso selado de cerâmica vermelha, com mais ou menos um metro de altura, que estava enterrado em solo macio perto de uma grande barragem. Os irmãos haviam quebrado o vaso, pensando encontrar algum tesouro, mas ficaram desapontados ao achar apenas treze livros de papiro encadernados em couro. Levaram os livros para casa porque estavam secos o bastante para serem usados como combustível para o fogão. Felizmente o jovem Mohamed Ali estava sendo investigado pela polícia, e temendo ser acusado pelo roubo dos textos, pediu a um padre local, Al Qummus Basiliyus Abd-Al Masih, que os escondessem para ele. Naturalmente, o padre percebeu o possível valor dos documentos e enviou alguns para o Cairo para que fossem avaliados: eles passaram pelas mãos de muitos negociantes e estudiosos até que um trecho do Evangelho segundo Tomé, mais antigo que qualquer um que já tivesse sido visto, chegou às mãos do professor Quispel, da Fundação Jung, de Zurique. Este ficou atônito com o que viu e rapidamente detectou o resto da descoberta, que nesse momento já havia compreensivelmente encontrado abrigo no Museu Copta do Cairo. Assim que teve oportunidade de examinar a documentação completa o professor Quispd percebeu que estava frente a textos ainda desconhecidos que haviam sido enterrados por volta de 1600 anos antes, em um período crítico na formação da Igreja Católica de Roma. Os trabalhos redescobertos haviam sido suprimidos como heréticos pelos eclesiásticos cristãos. Não sendo isso, o Cristianismo ter-se-ia desenvolvido em uma direção completamente diferente, e a forma ortodoxa dessa religião, como a conhecemos hoje em dia, talvez nem tivesse existido. A sobrevivência da estrutura organizacional e teológica da Igreja Católica de Roma sempre dependeu da supressão das idéias que estavam nesses livros. A Ressurreição Gnóstica. Havia grandes diferenças entre as duas mais antigas tradições cristãs no que se refere à verdade sobre a ressurreição de Jesus. No trabalho gnóstico Tratado sobre a Ressurreição, a vida humana comum é descrita como sendo a morte espiritual, enquanto a ressurreição é vista como o momento da iluminação, em que se revela o que verdadeiramente existe. Quem quer que aceite esta idéia se torna espiritualmente vivo e pode ressurgir dos mortos imediatamente. A mesma idéia pode ser encontrada no Evangelho Segundo Filipe, que ridiculariza os "cristãos ignorantes que entendem a Ressurreição literalmente": Aquele que diz que primeiro se morre e depois se ressurge dos mortos incorre em erro, pois a Ressurreição deve ser recebida enquanto ainda estão vivos. Essa descrição de uma ressurreição-em-vida nos fez recordar do tema de fundo da cerimônia maçônica do 3° Grau (Mestre), nos encorajando a investigar mais profundamente a causa da polêmica sobre a verdade literal da ressurreição do corpo de Jesus. Há importantes conseqüências de uma crença literal na ressurreição do corpo de Jesus, que mais tarde ascendeu aos céus. Toda a autoridade da Igreja Católica de Roma se fundamenta na experiência da ressurreição de Jesus vivida por seus doze apóstolos, experiência esta que era impossível para qualquer um que tivesse chegado ao mundo após esta subida aos céus. Essa experiência fechada e indiscutível tinha enormes implicações para a estrutura política da Igreja original. Por meio dela se restringia a liderança da Igreja a um pequeno círculo de pessoas que tinham uma posição de autoridade incontestável que conferia a este grupo o direito de ordenar os futuros líderes como seus sucessores. Isso resultou no tipo de autoridade religiosa que sobreviveu até nossos dias: apenas os apóstolos tinham autoridade religiosa definitiva e seus únicos e legítimos herdeiros são os padres e bispos, sendo esta ordenação traçada à mesma sucessão apostólica. Ainda hoje, o próprio papa deriva a sua autoridade de Pedro, primeiro entre os apóstolos, já que foi a primeira testemunha da ressurreição. Foi de extremo interesse dos líderes da Igreja primeva a aceitação da ressurreição como uma verdade literal por causa dos benefícios que ela lhes conferia como fonte incontestável de autoridade. Já que ninguém das gerações posteriores poderia ter acesso a Cristo da maneira que os apóstolos teriam tido durante sua vida terrena e sua ressurreição, cada crente deve voltar-se para a Igreja de Roma, essa mesma de que os apóstolos são considerados fundadores, e para seus bispos, como focos de autoridade. A Igreja Gnóstica considerava essa visão literal da ressurreição "a fé dos tolos", declarando que aqueles que anunciavam ao mundo que seu senhor morto havia retomado fisicamente à vida estavam confundindo uma verdade espiritual com um acontecimento verdadeiro. Os Gnósticos citavam a tradição secreta dos ensinamentos de Jesus como declarada em sua fala aos discípulos em Mateus: A ti foi dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não foi dado. Os Gnósticos reconheciam que sua teoria do conhecimento secreto, que devia ser adquirido por seus próprios esforços, também tinha implicações políticas. Elas sugerem que quem quer que tenha "visto o Senhor" através da visão interna pode declarar-se portador de autoridade que iguala ou ultrapassa a dos apóstolos e de seus sucessores. Descobrimos que Irineu, conhecido como o pai da teologia Católica e o mais importante teólogo do século II d.C., enxergou os perigos que essa visão da autoridade da Igreja apresentava: Consideram-se tão maduros que ninguém pode comparar-se a eles na grandeza de sua gnose, nem mesmo se mencionarmos Pedro ou Paulo ou qualquer dos outros apóstolos... Eles crêem haver descoberto muito mais que os apóstolos, que segundo seu ponto de vista ainda pregavam os evangelhos muito influenciados pela influência das opiniões judaicas, e que por isso são muito mais sábios e inteligentes que os apóstolos. Aqueles que se consideram mais sábios que os apóstolos também se consideram mais sábios que os padres, pois o que os Gnósticos dizem sobre os apóstolos, particularmente os Doze, expressa sua atitude em relação aos padres e bispos que alegam fazer parte da sucessão apostólica ortodoxa. Além disso, muitos mestres Gnósticos também declaram ter acesso a suas próprias fontes secretas de tradição apostólica, em rivalidade direta com a que é comumente aceita nas igrejas. No Apocalipse Gnóstico de Pedra a declaração de autoridade religiosa da Igreja ortodoxa é abalada pela narração de um Cristo reerguido explicando a Pedro que: Esses que se auto denominam bispos e diáconos e agem como se tivessem recebido sua autoridade de Deus são na realidade canais onde a água não corre. Apesar de não compreenderem os mistérios, eles se vangloriam de que o mistério da verdade pertence exclusivamente a eles. Interpretaram errado aquele ensinamento do apóstolo, e ergueram uma imitação de Igreja em lugar da verdadeira tradição da irmandade cristã. Esse ponto foi destacado e explicado pelos estudiosos que haviam traduzido os Evangelhos Gnósticos. Nós dois fomos surpreendidos com a importância política dessa idéia de uma ressurreição viva em uma tarde em que, na Biblioteca da Universidade de Sheffield, encontramos esse comentário da respeitada estudiosa gnóstica Elaine Pagels: Reconhecer as implicações políticas da doutrina da ressurreição não revela seu extraordinário impacto nas experiências religiosas dos cristãos... mas em termos da ordem social... o ensinamento ortodoxo da ressurreição teve um efeito bem diverso. Foi através dele que se legitimou a única hierarquia de pessoas através das quais todos os outros poderiam se aproximar de Deus. O ensino Gnóstico subvertia essa ordem, declarando oferecer a todos os iniciados um meio direto de acesso a Deus, do qual os padres e bispos eram totalmente ignorantes. Agora sabíamos que a interpretação da ressurreição havia sido um tremendo foco de controvérsia na primeva Igreja Cristã, e que existia uma tradição secreta que tratava da ressurreição espiritual em vida, ligada a um grupo de cristãos denominados Gnósticos, denunciados como heréticos por razões puramente políticas, porque seu interesse na busca do conhecimento minava a autoridade dos bispos dessa Igreja Ortodoxa. A ressurreição também figurava com proeminência no ritual maçônico do 3o . Grau, mas lá ela é uma história de ressurreição em vida misturada com a história de um assassinato ilegal e a descoberta e segundo enterro de um corpo morto. Havíamos encontrado referências a esse elemento da ressurreição em vida nos Evangelhos Gnósticos, mas agora necessitávamos de mais informação para tentar desvendar o que os Templários tinham encontrado, portanto, avançamos na pesquisa lendo as descobertas de Nag Hammadi traduzidas. Particularmente, os livros relacionados a Tomé nos forneceram várias pistas adicionais. No Evangelho segundo Tomé encontramos uma frase que está em direta correspondência com o ritual de Mestre Maçom de Marca: E Jesus disse: "Mostrem-me a pedra que os construtores rejeitaram. Esta é a pedra angular. Percebemos que várias passagens similares aparecem no Novo Testamento: E Jesus disse a eles: "Nunca lestes nas Escrituras que a pedra que os construtores rejeitaram é a mesma que se tornou a pedra angular? Esse é o trabalho do Senhor, maravilhoso ante nossos olhos?" (Mateus, 21:4). E não lestes nas Escrituras: "A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular?" (Marcos, 12:10). E ele lhes disse: "O que é isto então que está escrito, que a pedra que os construtores rejeitaram é a mesma que se tornou a pedra angular?" (Lucas, 20: 17). Essas citações dos Evangelhos Sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) falam de Jesus ensinando as Escrituras sobre a importância de uma pedra angular rejeitada: mas apenas no Evangelho de Tomé ele pede para que lhe mostrem a pedra que os construtores rejeitaram - num paralelo exato com o ritual de Maçom de Marca, e isto nos pareceu indicar uma conexão entre Maçonaria e Gnosticismo. Mais adiante, em outra obra, os Atos de Tomé, encontramos a narrativa desse apóstolo construindo um belo palácio nos céus através de suas boas ações na terra. Essa história é a epítome da fala dita no canto nordeste durante o ritual maçônico do 1o . Grau (Existente na cerimônia do Ritual de Emulação, praticado na maioria das Lojas da Grande Loja Unida da Inglaterra). Apesar desses pontos serem muito interessantes, não pareciam ser o bastante para explicar o comportamento dos Cavaleiros Templários, que fora a razão de nossa pesquisa nesses textos. Nesse ponto, apesar de já termos encontrado algumas possíveis conexões entre cristianismo gnóstico e a Maçonaria moderna, nada verdadeiramente concreto havia surgido. Havíamos encontrado alguns conceitos fundamentais que tinham paralelo com as bases da Maçonaria, particularmente a idéia de que as pessoas deveriam experimentar uma "ressurreição" em vida, e nesse ponto decidimos olhar mais de perto para a formação da primeva Igreja Cristã, buscando deduzir o que os Cavaleiros Templários haviam descoberto. Conclusão Especulamos se não seria possível que os Templários tivessem encontrado um repositório oculto de textos que tivesse mudado sua visão de mundo, e em uma tentativa de encontrar o que eles teriam achado fomos pesquisar em uma coleção de antigos textos cristãos conhecidos coletivamente como Evangelhos Gnósticos. Concluímos que o conceito de gnosis (conhecimento) é exatamente o oposto do conceito de "fé" da Igreja de Roma, e que esse é um tipo de processo de pensamento que se coaduna muito bem com a Maçonaria. Chegamos à conclusão que muitas das doutrinas seletivas da Igreja primeva estavam baseadas tanto em manobras políticas quanto em opiniões religiosas. Nas descobertas de Nag Hammadi, escondidas entre os anos de 350 e 400 d.e. e redescobertas no Egito, havíamos encontrado uma interpretação bastante diferente da verdade por trás da ressurreição de Jesus. Havia no Gnosticismo Cristão uma tradição de ressurreição em vida, que nos trouxe fortes lembranças da cerimônia maçônica do 3° Grau. A crença literal na ressurreição do corpo de Jesus, que mais tarde ascende aos céus, era um fator básico no estabelecimento da autoridade da Igreja Católica de Roma. Essa autoridade se fundamenta nos alegados testemunhos da ressurreição de Jesus pelos seus doze apóstolos preferidos, uma experiência impossível de ser vivida por qualquer um que tivesse se tornado parte do grupo depois da ascensão de Jesus. Essa experiência fechada e indiscutível era a fonte do poder do Bispo de Roma na estrutura política da Igreja primeva, conferindo-lhe incontestável autoridade sobre qualquer um que nela tivesse fé. Lemos escritos gnósticos que consideravam essa visão da ressurreição como "a fé dos tolos", declarando que qualquer um que anunciasse que seu Mestre morto havia retomado fisicamente à vida estava confundindo uma verdade espiritual com um evento real, e que eram como "canais sem água". Essa visão era apoiada pelo apelo a uma tradição secreta do ensinamento de Jesus que está no Evangelho de Mateus. Irineu, um teólogo do século II d.C., havia escrito sobre os perigos que esta idéia de ressurreição em vida gerava para o poder dos sacerdotes estabelecidos. Em nosso estudo dos textos de Nag Hammadi descobrimos que a interpretação da ressurreição já havia causado tremenda controvérsia na Igreja Cristã primeva, e que um grupo de cristão denominado "gnósticos" possuía uma tradição secreta que tratava de ressurreição espiritual em vida em conexão com Jesus. Concluímos então que os gnósticos haviam sido denunciados como hereges por razões políticas, e mais ainda: que seu interesse por esse conhecimento minava a autoridade dos bispos e a ortodoxia de sua Igreja. Leituras subseqüentes dos Evangelhos Gnósticos nos mostraram fortes ecos de rituais maçônicos que já conhecíamos bem e, encorajados por essas descobertas, decidimos olhar mais de perto essa Igreja Cristã primeva, sempre com a mente aberta. Começamos a analisar a especificidade das declarações do próprio Jesus.
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