terça-feira, 21 de março de 2017

CAPÍTULO DOIS - Começa a Busca






Um grande número de homens bem-informados já havia antes de nós tentado encontrar as origens da Maçonaria, não deixando de lado nenhuma das possibilidades óbvias: assim também o fizeram os romancistas e charlatões que a eles se uniram nessa busca. Para alguns a linha é simples: a Maçonaria é simplesmente tão antiga quanto sua história publicamente registrada (o século XVII) e tudo que pretenda pré-datar esses registros é um delírio irreal. Essa atitude pragmática é descomplicada, mas das hipóteses é a mais fácil de se rejeitar por muitas razões, como mostraremos, e não só pelo fato de haver amplas evidências que mostram que a Ordem se materializou vagarosamente durante mais de trezentos anos antes que se estabelecesse a Grande Loja Unida da Inglaterra. Do estabelecimento da Grande Loja Unida da Inglaterra em 1717 em diante, a Ordem tem sido clara quanto a sua existência: apenas os métodos de reconhecimento mútuo têm sido mantidos afastados do olhar do público. Mas a organização que agora chamamos de Maçonaria já era uma sociedade secreta antes do meio do século XVII, e sociedades secretas, por definição, não publicam histórias oficiais. Portanto nós decidimos pesquisar a história possível da Ordem antes que ela se tornasse pública, e sentimos que havia três sólidas teorias que receberam consideração por parte dos historiadores maçônicos: 1. Que a Maçonaria é tão antiga quanto seu ritual mostra. Que foi realmente criada como resultado de acontecimentos durante a construção do Templo do rei Salomão e que chegou até nós por meios ainda desconhecidos. 2. Que é o desenvolvimento das guildas de pedreiros da Idade Média, a partir das quais os conhecimentos "operativos" para o trabalho na pedra foram traduzidos para o que os Maçons chamam de conhecimentos "especulativos" para o trabalho de desenvolvimento moral. 3. Que os rituais maçônicos se originam diretamente da Ordem dos Pobres SoldadosCompanheiros de Cristo, hoje mais conhecida como Cavaleiros Templários. A primeira teoria, a de que a Maçonaria foi criação do rei Salomão, mostrou-se impossível de pesquisar, porque o Antigo Testamento é sua única fonte, donde não a aprofundarmos nesse momento. A segunda, de que os pedreiros medievais desenvolveram a Ordem para seu próprio desenvolvimento moral, é uma teoria que encontrou aceitação em praticamente todos os níveis, maçônicos e não-maçônicos. Não obstante, apesar da aparente lógica dessa idéia e do grande número de livros que a têm divulgado durante inúmeras gerações, percebemos ser difícil de fundamentar uma vez considerada em profundidade. Para começar, apesar de rigorosa pesquisa, fomos completamente incapazes de encontrar qualquer registro que mostrasse a existência de guildas de pedreiros na Inglaterra. Houvessem elas existido estamos certos de que algum indício ainda restaria; em muitos países da Europa essas guildas certamente existiram, havendo ampla evidência de suas atividades. A História da Maçonaria, de Gould, traz, página após página, escudos das guildas de pedreiros de toda a Europa, mas nenhuma inglesa. Esses trabalhadores eram artesãos especializados a serviço da Igreja ou de ricos proprietários de terras, e não parece provável que seus mestres houvessem sido esclarecidos o bastante para permitir alguma forma de proto-sindicato, mesmo que se esses trabalhadores tivessem desenvolvido o desejo de participar de uma estrutura unificadora como essa. Muitos deles gastaram toda a sua vida trabalhando em um único edifício, como uma catedral, e a necessidade de sinais secretos de reconhecimento, as palavras de passe, nos parecem desnecessárias entre Maçons que exercem seu oficio na mesma construção durante cinqüenta anos. Muitos pedreiros e canteiros da Idade Média eram analfabetos com pouca ou nenhuma educação além de seu aprendizado, que lhes ensinava apenas as técnicas do oficio. Imaginar que poderiam ter compreendido, quanto mais originado, um ritual tão complexo quanto esse que hoje é praticado pelos Maçons exige demais de nossa credibilidade. Seu vocabulário, e principalmente sua habilidade para pensamento abstrato, devem ter sido verdadeiramente muito limitadas. Viagens, especificamente para os mestres-pedreiros mais capacitados, eram eventos raros, portanto, sinais secretos, apertos de mão e palavras de passe teriam pouco ou nenhum valor; e mesmo se eles tivessem que viajar entre uma construção e outra, para que necessitariam de meios secretos de reconhecimento mútuo? Se alguém mentirosamente alegasse ser um pedreiro, não demoraria muito para que se descobrisse a sua inabilidade no trabalho da pedra. Como muitos reis e seus mais poderosos nobres têm sido Maçons desde os primórdios conhecidos da Ordem até a presente data (ver Apêndices), não conseguimos imaginar as circunstâncias nas quais um bando de nobres chega a uma reunião de pedreiros perguntando se podem copiar seus procedimentos e usá-los, de maneira simbólica, para seu próprio aprimoramento moral. Encontramos o argumento definitivo para abandonar a teoria das "guildas de pedreiros" quando estudamos o que em Maçonaria é conhecido como as Old Charges (Antigas Obrigações), cuja mais antiga se crê datar do século XV. Essas Old Charges estabelecem regras de conduta e responsabilidade para os Maçons e sempre se acreditou que elas haviam sido extraídas dos códigos de conduta das guildas de pedreiros da Idade Média. Uma dessas Charges diz que "nenhum irmão deve revelar qualquer segredo legítimo de qualquer outro irmão se isso puder a ele custar sua vida e posses". O único segredo maçônico que nessa época traria automaticamente essa pena, caso descoberto pelo Estado, seria a heresia, um crime que certamente não teria sido cometido nem apoiado por simples pedreiros cristãos. A pergunta que nós fizemos foi: Por que motivos a heresia seria antecipadamente encarada como possível segredo de culpa por esses construtores de castelos e catedrais? Não fazia sentido. Organizações não desenvolvem importantes regras de conduta caso um de seus membros venha um dia a ser culpado de crime contra a Igreja; quem quer que tenha criado essa regra estava claramente consciente de que todos os Irmãos viviam sob o risco de serem acusados de heresia. Estávamos seguros de que essas regras não haviam sido criadas por simples pedreiros, mas sim por um grupo que vivia à margem das leis do lugar. Satisfeitos com a falta de evidência que sustentasse a teoria da guildas de pedreiros da Idade Média e a quantidade de argumentos contra a mesma, tornamo-nos mais e mais curiosos por saber a que tipo de gente as Old Charges se referiam. . Uma outra Charge do mesmo período, muito discutida por historiadores, indica um antigo objetivo muito clandestino. Ela se refere ao hábito de "emprego" para um Irmão visitante pelo período de duas semanas, após as quais "ele deve receber algum dinheiro e posto a caminho para a próxima Loja". Esse é o tipo de tratamento que se daria a um homem em fuga, procurando abrigo em casas seguras. Uma outra Charge, ainda proíbe, que os Maçons tenham relações sexuais com a mulher, a filha, a mãe ou a irmã de qualquer irmão Maçom, o que seria uma necessidade absoluta para a manutenção do sistema de casas seguras - chegar em casa e encontrar um convidado maçônico na cama com a própria mulher ou irmã certamente violentaria profundamente o juramento de caridade fraterna. Não conseguíamos imaginar de que heresia esses antigos grupos de Maçons poderiam ter sido culpados, para que se criasse um sistema de reconhecimento e sobrevivência à margem da Igreja e do Estado tão rigorosamente estruturado. Além desses fatos que desacreditavam mais ainda a teoria dos pedreiros medievais, é essencial lembrar-se de que as imagens centrais da Maçonaria são as da construção do Templo do rei Salomão. Não existe nada que ligue os Maçons medievais a este evento, mas é exatamente aí que toma alento a terceira teoria - a os Cavaleiros Templários. Os Cavaleiros Templários, ou para chamá-los por seu título completo, os Pobres SoldadosCompanheiros de Cristo e do Templo de Salomão, se formaram pelo menos seis séculos antes que se estabelecesse a Grande Loja Unida da Inglaterra. Se houvesse uma ligação entre esses monges guerreiros das Cruzadas e a Maçonaria, teríamos que explicar o buraco de quatrocentos e dez anos entre a súbita destruição da Ordem em outubro de 1307 e o surgimento formal da Maçonaria. Esse espaço de silêncio levou muitos observadores, maçônicos e não-maçônicos, a considerar sugestões de uma possível ligação como pensamento delirante: alguns publicaram livros que mostram que os que apóiam essa teoria são meros românticos predispostos a crer em tolices esotéricas. No entanto, evidências mais recentemente trazidas à luz, invertem o peso desse argumento a favor da conexão Templários/ Maçonaria, e nossas próprias pesquisas as colocaram acima de qualquer dúvida. Antes de nos debruçarmos sobre a formação dessa fascinante Ordem, examinaremos as circunstâncias do edifício que deu aos Templários o nome e à Maçonaria, o tema. O Templo do Rei Salomão Descobrimos que houve, em sentido amplo, quatro Templos associados ao Monte Moriá na cidade de Jerusalém. O primeiro foi erguido pelo rei Salomão há três mil anos. O seguinte nunca existiu em pedra palpável: apareceu em uma visão do profeta Ezequiel durante a escravidão dos judeus na Babilônia por volta de 570 a.C. Apesar de puramente imaginário, não se pode ignorar o significativo efeito que esse Templo teve em crenças e escritos posteriores dos judeus, que acabaram por integrar crenças cristãs. O terceiro foi construído pelo rei Zorobabel na primeira parte do século VI a.e., após o retorno dos judeus de seu cativeiro da Babilônia, e o último Templo foi erigido por Herodes na época de Jesus Cristo e foi destruído pelos romanos em 70 d.C., apenas quatro anos depois de sua conclusão. Como mais tarde descobrimos, Salomão se dispôs a criar muitos grandes edifícios, inclusive um templo onde habitaria o Deus que agora chamamos de Yahweh ou Jeová. Os dois nomes são tentativas de tradução do hebraico, uma forma de escrita que não possui vogais. Salomão, sempre mencionado como sendo um rei sábio, mas com o progresso de nossas pesquisas descobrimos que a palavra "sábio" foi usada para todos os construtores e reis que patrocinaram construções desde mil anos antes de Salomão, como demonstraremos mais tarde. Os judeus não tinham qualquer herança arquitetônica, e nenhum deles possuía o conhecimento construtivo necessário para erigir qualquer coisa maior que uma simples parede; em conseqüência disso, o Templo de Jerusalém foi construído por artesãos contratados de Hiram, o rei de Tiro, na Fenícia. Apesar do nome estava claro para nós, e para cada observador que nos antecedeu, que o rei Hiram nada tinha a ver com Hiram Abiff. O ritual do grau do Santo Arco Real, que discutiremos mais profundamente no capítulo treze, deixa muito claro que Hiram, rei de Tiro, forneceu os materiais enquanto outro indivíduo, Hiram Abiff foi o verdadeiro arquiteto do Templo. Esse ritual menciona inclusive que esses três indivíduos (Salomão e os dois Hiram) dirigiam uma importante Loja e eram os únicos depositários dos verdadeiros segredos de um Mestre Maçom. A despeito da visão generalizada na Maçonaria de que o Templo foi um ponto alto na história das construções, Clarke e outros especialistas no assunto consideram seu estilo, tamanho e formato como sendo quase uma cópia carbono de um templo sumério erigido mil anos antes para o deus Ninurta. Era um edifício pequeno, similar em tamanho a uma capela de aldeia inglesa e pelo menos com a metade do tamanho do Palácio de Salomão. Nós pudemos imaginar onde as grandes prioridades do grande rei estavam quando descobrimos que a construção destinada a seu harém era pelo menos tão grande quanto o Templo de Yahweh. Com o conhecimento que se tem do propósito de igrejas, sinagogas e mesquitas, é fácil acreditar que o Templo de Salomão era o lugar onde os judeus adoravam a seu Deus. Isso, no entanto, seria um erro, pois esse Templo não foi construído para ser visitado pelos seres humanos - era, quase que literalmente, a Casa de Deus, a morada de Yahweh. Não existem nem restos físicos do Templo de Salomão nem registros independentes de sua existência, portanto, ninguém pode estar absolutamente seguro se ele existiu ou não; pode ser uma invenção de escribas judeus posteriores, que anotaram suas tradições verbais muito depois da alegada construção ter ocorrido. Eles nos dizem que este, o mais famoso dos Templos, foi construído de pedra e completamente forrado em seu interior com cedro trazido de Tiro. Das paredes se diz que tinha a espessura de nove côvados (aproximadamente 4 metros e 33 centímetros) em sua base, erguendo-se para suportar um teto reto de madeira coberto com abeto. Uma característica específica desse Templo era a quantidade de ouro que cobria o assoalho, paredes e forro, incrustado entre querubins e flores abertas esculpidas na madeira. O interior tinha aproximadamente 27, 50 metros de comprimento e 9,15 metros de largura e o edifício era inteiramente alinhado de oeste para leste, com uma única entrada em seu lado oriental. Uma divisão com portas dobráveis dividia o espaço interior em um terço, criando assim um cubo com aproximadamente 9,15 metros de comprimento, largura e altura. Este era o Oráculo do Antigo Testamento, também conhecido chamado Santo dos Santos e conhecido nos rituais maçônicos como o Sanctum Sanctorum, que ficava permanentemente vazio exceto por uma caixa retangular de madeira de acácia com aproximadamente 1,20 metros de comprimento, 0,60 cm de largura e de altura, colocada exatamente no centro do assoalho, a Arca da Aliança, contendo apenas três coisas: duas lâminas de pedra onde estavam gravados os Dez Mandamentos e o próprio Yahweh. No alto dessa Arca, havia uma grossa lâmina de ouro e dois querubins de madeira, também pesadamente recobertos de ouro, com asas estendidas guardando o seu precioso conteúdo. Esses querubins não eram os bebês rubicundos, aureolados e voadores tão populares entre os pintores da Renascença. Teriam sido de estilo egípcio, com a exata aparência das figuras que se vê em paredes e sarcófagos das pirâmides. O Santo dos Santos estava em permanente escuridão, exceto uma vez por ano, no Dia do Perdão, quando o Sumo Sacerdote lá entrava levando o sangue da oferenda pelos pecados da nação, o bode expiatório. Assim que o Sumo Sacerdote saía, uma grande corrente de ouro era colocada na porta, separando a câmara menor da maior. De acordo com antigas tradições judaicas, essa câmara maior era usada exclusivamente pelos sacerdotes e levitas (Os levitas ou a tribo de Levi foi destinada aos serviços religiosos por Deus quando Moisés guiou o povo hebreu a partir de seu cativeiro no Egito até a Terra Prometida, episódio narrado no Êxodo, bem como em Levítico, Números e Deuteronômio. Em Números, cap. 16, é narrada a tentativa de usurpação empreendida por Coré, Datã e Abiram, contra o poder sacerdotal dos levitas) e continha um altar de cedro coberto de ouro, colocado exatamente em frente às portas e, é claro, fora da entrada oriental ficavam os dois pilares, Booz e Jachin. Esse era, portanto, o edifício que os Templários veneravam como o ícone central de sua Ordem. Mas as ruínas que eles escavaram foram as de um outro Templo, construído exatamente mil anos mais tarde no mesmo lugar pelo infame rei Herodes. Por que então, nos perguntávamos, eles preferiram nomear-se baseados do Templo de Salomão? Conclusão Já tínhamos decidido sem dificuldades que a teoria que impunha à Maçonaria uma origem nas guildas de pedreiros da Idade Média não se sustentava por não haver existido guildas de pedreiros na Inglaterra. O fato de terem existido no continente não é relevante, porque a Maçonaria não se desenvolveu nas áreas em que essas guildas européias se formaram. O protocolo encontrado nas O/d Charges da Ordem, com a obrigação de prover trabalho e a preocupação em garantir a proteção dos parentes femininos dos irmãos, nos pareceram muito mais adequadas a uma sociedade secreta que a um grupo de construtores itinerantes. Havíamos pesquisado profundamente, gastando centenas de horas debruçados sobre livros de referência em diversas bibliotecas, mas por mais que tentássemos não conseguíamos encontrar nenhuma conexão entre o Templo do rei Salomão e os pedreiros medievais. A História não havia mostrado terem existido três templos de pedra no mesmo lugar, além de um imaginário que não podia ser ignorado por haver inspirado muitas pessoas através das eras. O Templo original construído para Salomão havia sido um pequeno edifício erguido em estilo sumério, menor que o seu harém, erigido para abrigar o problemático Yahweh, deus das tempestades, e não como um local de culto. O próprio Yahweh morava dentro da Arca da Aliança que ficava dentro do Santo dos Santos desse Templo, uma área conhecida pelos Maçons como Sanctum Sanctorum. Essa Arca teria sido feita e decorada em estilo egípcio e na porta leste desse Templo ficavam os dois pilares conhecidos pelos Maçons como Booz e Jachin. A idéia de que a Ordem havia se desenvolvido a partir do próprio Salomão como uma sociedade secreta oculta do mundo parecia completamente impossível, e nos restou, por um processo de simples eliminação, apenas uma origem plausível para investigar. Sabíamos que o primeiro cavaleiro Templário havia escavado no lugar do último Templo, e muitos escritores haviam sugerido conexões entre esses Cavaleiros e a Maçonaria.

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