GÊNESIS 22:2 – Prosseguiu Deus: Toma agora teu filho; o teu único filho, Isaque, a quem amas; vai à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre um dos montes que te hei de mostrar.
Por que Deus pediu a Abraão que sacrificasse seu filho, tendo o próprio Deus condenado o sacrifício humano em Levítico 18 e 20?
Por que Deus pediu a Abraão que sacrificasse seu filho, tendo o próprio Deus condenado o sacrifício humano em Levítico 18 e 20?
SOLUÇÃO: Primeiro, Deus não estava interessado em que Abraão viesse de fato a matar o seu filho, nem era esse o seu plano. O fato de o anjo do Senhor ter impedido que Abraão matasse Isaque (22:12) revela isso. O propósito de Deus foi provar a fé de Abraão, com o pedido de que entregasse completamente aquele seu único filho a Deus. O anjo do Senhor declarou que era a disposição de Abraão de entregar o seu filho, e não o ato de realmente matá-lo que satisfez as expectativas de Deus com respeito a Abraão. Deus disse explicitamente: “Não estendas a mão sobre o rapaz… pois agora sei que temes a Deus, porquanto não me negaste o filho, o teu único filho” (Gn 22:12).
Segundo, as proibições tanto em Levítico 18:21 como em 20:2 eram especificamente contra o oferecimento de um filho ao deus pagão chamado Moloque. Portanto não é uma contradição Deus ter proibido oferendas de vidas a Moloque e ter solicitado a Abraão que oferecesse o seu filho a si, ao único e verdadeiro Deus. É claro, oferecer um filho em sacrifício ao Senhor não é o mesmo que oferecê-lo a Moloque, já que o Senhor não é Moloque. Apenas Deus é soberano sobre toda vida (Dt 32:39; Jó 1:21), e portanto somente ele tem o direito de pedir a vida de alguém. Com efeito, é Deus que determina o dia da morte de cada um (SI 90:10; Hb 9:27).
Terceiro, Abraão confiou no amor e no poder de Deus de tal maneira que voluntariamente obedeceu, crendo que o Senhor ressuscitaria Isaque dentre os mortos (Hb 11:17-19). Isto está implícito no fato de que, embora Abraão pretendesse matar Isaque, ele disse aos seus servos: “eu e o rapaz [nós] iremos até lá e, havendo adorado, voltaremos para junto de vós” (Gn 22:5).
Finalizando, não é moralmente errado para Deus pedir que sacrifiquemos um filho a ele. Deus mesmo ofereceu o seu Filho no Calvário (Jo 3:16). De fato, até mesmo o governo de um país muitas vezes pede ao povo que sacrifique seus filhos pelo país. Certamente Deus tem um direito bem maior para requerer isso.,,
A primeira dúvida que surge quando consideramos o relato de Gênesis 22 é: “Se Deus é presciente, por que Ele pediu que Abraão sacrificasse seu filho Isaque para testar a sua fé?”
A Escritura diz: “Antes mesmo que a palavra me chegue à língua, tu já a conheces inteiramente, Senhor.” (Salmo 139:4). Esse texto, assim como muitos outros, explicitamente afirma a presciência de Deus. Mas o fato de Deus já conhecer as nossas palavras, não implica que não seja necessário que nós as falemos, não é mesmo? Do mesmo modo, Deus, em Sua presciência, sabia que Abraão era um homem de muita fé e que verdadeiramente estaria disposto a sacrificar seu filho Isaque. Gênesis 22, portando, não nos dá o direito de duvidar da presciência de Deus. Apenas precisamos compreender o motivo pelo qual Deus fez esse pedido extraordinário.
De fato, Deus queria provar a fé de Abraão. E nesse “teste”, Abraão se mostrou digno de confiança. Sua fé foi tanta, que lhe foi creditada como justiça (Romanos 4:3; Tiago 2:23). Não podemos nos esquecer também que este grande homem é lembrando na lista dos heróis da fé, em Hebreus 11.
Em Gênesis 17, lemos sobre a promessa que Deus fez com Abraão, que este teria uma descendência numerosíssima:
“‘Estabelecerei a minha aliança entre mim e você e multiplicarei muitíssimo a sua descendência’. Abrão prostrou-se, rosto em terra, e Deus lhe disse: ‘De minha parte, esta é a minha aliança com você. Você será o pai de muitas nações. Não será mais chamado Abrão; seu nome será Abraão, porque eu o constituí pai de muitas nações. Eu o tornarei extremamente prolífero; de você farei nações e de você procederão reis. Estabelecerei a minha aliança como aliança eterna entre mim e você e os seus futuros descendentes, para ser o seu Deus e o Deus dos seus descendentes. Toda a terra de Canaã, onde agora você é estrangeiro, darei como propriedade perpétua a você e a seus descendentes; e serei o Deus deles. ‘De sua parte’, disse Deus a Abraão, ‘guarde a minha aliança, tanto você como os seus futuros descendentes’” (Gênesis 17:2-9).
Deus disse que a descendência de Abraão sairia de seu filho Isaque: “Então Deus respondeu: ‘Na verdade Sara, sua mulher, lhe dará um filho, e você lhe chamará Isaque. Com ele estabelecerei a minha aliança, que será aliança eterna para os seus futuros descendentes.’” (Gênesis 17:19); “Mas a minha aliança, eu a estabelecerei com Isaque, filho que Sara lhe dará no ano que vem, por esta época” (Gênesis 17:21).
Então Abraão e Sara, ambos já em idade bastante avançada, tiveram um filho (Isaque). Porém, “Passado algum tempo, Deus pôs Abraão à prova, dizendo-lhe: ‘Abraão!’ Ele respondeu: ‘Eis-me aqui’. Então disse Deus: ‘Tome seu filho, seu único filho, Isaque, a quem você ama, e vá para a região de Moriá. Sacrifique-o ali como holocausto num dos montes que lhe indicarei’” (Gênesis 22:1-2).
Abraão foi obediente ao pedido de Deus e, sem questionar, fez o que Deus lhe havia pedido: “Na manhã seguinte, Abraão levantou-se e preparou o seu jumento. Levou consigo dois de seus servos e Isaque seu filho. Depois de cortar lenha para o holocausto, partiu em direção ao lugar que Deus lhe havia indicado. No terceiro dia de viagem, Abraão olhou e viu o lugar ao longe” (Gênesis 22:3-4).
Abraão confiou no amor e no poder de Deus de tal maneira que voluntariamente obedeceu, crendo que o Senhor ressuscitaria Isaque dentre os mortos. Isto está implícito no fato de que, embora Abraão pretendesse matar Isaque, ele disse aos seus servos: “Eu e o rapaz [Isaque] iremos até lá e, havendo adorado, voltaremos para junto de vós.” (Gênesis 22:5). O que Abraão pensou foi: “Se Deus prometeu me dar uma descendência através de meu filho Isaque, então se eu o matar é claro que o Senhor o irá ressuscitar, pois precisa cumprir Sua promessa, afinal, Ele sempre cumpre Suas promessas. Meu Deus é fiel! E é poderoso também, Ele é capaz de ressuscitar os mortos!”. Foi porque confiou na fidelidade de Deus ao fazer a promessa e no Seu imenso poder, que Abraão verdadeiramente estava disposto a matar seu filho Isaque. E o autor de Hebreus nos confirma esta conclusão, dizendo que “Pela fé Abraão, quando Deus o pôs à prova, ofereceu Isaque como sacrifício. Aquele que havia recebido as promessas estava a ponto de sacrificar o seu único filho, embora Deus lhe tivesse dito: ‘Por meio de Isaque a sua descendência será considerada’. Abraão levou em conta que Deus pode ressuscitar os mortos; e, figuradamente, recebeu Isaque de volta dentre os mortos” (Hebreus 11:17-19).
Depois, quando Isaque perguntou a Abraão aonde estava o cordeiro para o sacrifício, Abraão respondeu: “Deus mesmo há de prover o cordeiro para o holocausto, meu filho” (Gênesis 22:8). Isso demonstra que Abraão estava realmente crendo que Deus providenciaria um cordeiro para morrer no lugar de seu filho. E, de fato, Deus providenciou:
“Quando chegaram ao lugar que Deus lhe havia indicado, Abraão construiu um altar e sobre ele arrumou a lenha. Amarrou seu filho Isaque e o colocou sobre o altar, em cima da lenha. Então estendeu a mão e pegou a faca para sacrificar seu filho. Mas o Anjo do Senhor o chamou do céu: ‘Abraão! Abraão!’ ‘Eis-me aqui’, respondeu ele. ‘Não toque no rapaz’, disse o Anjo. ‘Não lhe faça nada. Agora sei que você teme a Deus, porque não me negou seu filho, o seu único filho.’ Abraão ergueu os olhos e viu um carneiro preso pelos chifres num arbusto. Foi lá, pegou-o e sacrificou-o como holocausto em lugar de seu filho.” (Gênesis 22:9-13)
Então, pela fé, Abraão alcançou a promessa:
“Pela segunda vez o Anjo do Senhor chamou do céu a Abraão e disse: ‘Juro por mim mesmo’, declara o Senhor, ‘que por ter feito o que fez, não me negando seu filho, o seu único filho, esteja certo de que o abençoarei e farei seus descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e como a areia das praias do mar. Sua descendência conquistará as cidades dos que lhe forem inimigos e, por meio dela, todos povos da terra serão abençoados, porque você me obedeceu’” (Gênesis 22:15-18; cf. Hebreus 6:13-15).
A história do Velho Testamento sobre Abraão é a base do ensino do Novo Testamento sobre a Expiação, a oferta do sacrifício do Senhor Jesus na cruz pelo pecado da humanidade. Jesus disse, muitos séculos depois: “Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e alegrou-se” (João 8:56). A seguir veja alguns paralelos entre as duas narrativas bíblicas:
“Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque” (Gênesis 22:2); “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito…” (João 3:16).
“… vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali…”(v.2); acredita-se que foi nessa área onde a cidade de Jerusalém foi construída muitos anos depois e onde Jesus foi crucificado fora da porta de sua cidade (Hebreus 13:12).
“oferece-o ali em holocausto” (v.2); “Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras” (1 Coríntios 15:3).
“E tomou Abraão a lenha do holocausto, e pô-la sobre Isaque seu filho” (v.6); Jesus: “E, levando ele às costas a sua cruz…” (João 19:17).
“… mas onde está o cordeiro para o holocausto?” (v.7); João disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29).
Isaque, o filho, agiu em obediência ao seu pai em se tornar o sacrifício (v.9); Jesus orou: “Pai meu, se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber, faça-se a tua vontade” (Mateus 26:37).
Ressurreição – Isaque como símbolo e Jesus em realidade: “Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado; sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito. Sendo-lhe dito: Em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até dentre os mortos o ressuscitar; daí também em figura ele o recobrou” (Hebreus 11:17-19); Jesus: “E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Coríntios 15:4).
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